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280514 solidariedadeGaliza - Galizalivre - [Antom Santos Pérez]Umha das características do mundo em que vivemos é a imposiçom do cálculo como padrom de racionalidade.


A razom económica colonizou todas as formas de pensamento, e a folha de cálculo -o balanço contável entre custos e benefícios- converteu-se em referência única para avaliar o sentido das acçons. Até a "rendibilidade política" é, de esquerda a direita, o paradigma que determina o que deve e nom deve ser feito.

A dominaçom administra com gosto e facilidade indivíduos que calculam, e sente medo e incomprensom ante os que nom o fam. A utilizaçom da moderna racionalidade económica para o submetimento tem um exemplo estudado na forma em que os nazis administrárom o holocausto: a relativa pasividade dos judéus ante o seu próprio extermínio tem-se explicado polo facto de os carrascos dividirem a distáncia entre umha vida digna e a cámara de gás em várias estaçons intermédias que a lógica do cálculo aconselhava transitar. Se a desobediência tinha muitas possibilidades de levar ao martírio, parecia "inteligente" preferir o estigma à morte, e depois o ghetto à morte, e depois os trens à morte, e depois os campos de concentraçom à morte. Mas os negócios acostumam beneficiar quem os propom, e ainda mais quando som gatos propondo-lhos a ratos: hoje sabemos bem que, ainda que o balanço de custos e benefícios de cada umha destas escolhas pudesse oferecer umha possibilidade às vítimas, o único que fixo foi desativar a sua resistência, e permitir aos vitimários umha execuçom doada e humilhante do extermínio.

A ciência do poder desenvolveu e aperfeiçoou toda esta lógica da administraçom do domínio, que, por outra banda, é muito mais efectiva e fácil de aplicar quanto mais educadas estám as pessoas e as naçons na moderna e individualista racionalidade económica. Hoje, que podemos constatar melhor do que em qualquer outra época histórica como é que a Galiza está a ser destruida e os direitos conquistados polo nosso povo através de décadas de luita estám a ser revogados, podemos comprovar também que Espanha se impom baixo ofertas e promesas, e nom baixo o ruído dos tanques e os fuzis. Os negociadores da submissom som arteiros e teimosos, e petam dia-a-dia nas portas das nossas aldeias, das nossas fábricas ou das nossas escolas, oferecendo paraísos de progresso e consumo a cámbio de integraçom e claudicaçom. Nada distinto fam quando petam na porta dum militante encarcerado ou ameaçado pola repressom.

A geraçom de independentistas à que pertenço conviveu desde a sua infáncia militante com umha das taxas de desemprego e precariedade juvenis mais altas da Europa, e com um goteio incessante de ofertas de emprego e colaboraçom por parte dos serviços de segurança do Estado. Som poucos os companheiros e as companheiras que nom tenhem recebido suculentas propostas económicas, académicas ou laborais a cámbio de abandonar a sua militáncia, e/ou de colaborar coa repressom. Nom sei quantos militantes forom algumha vez comprados, mas si sei que em cada negativa (e constam-me muitas) Espanha perde muito mais que um colaborador, e as galegas e os galegos ganhamos muito mais que um exemplo de dignidade e de coragem: ganhamos mais um espaço do nosso povo livre da lógica mercantil, isolado das auto-estradas do cálculo e a rendibilidade através das quais o poder veicula as suas ofertas de assimilaçom e de morte. Quem sabe se a mestura de frustraçom e incomprensom que devem experimentar os mercaderes do CNI, da polícia ou de Instituiçons Penitenciárias ante cada negativa dum militante galego a aceitar algo que "objectivamente nos benefícia", se parece em algo a aquela exasperaçom que descrevia T.E. Lawrence nas filas do exército británico, ante a irracionalidade tribal dumha resistência árabe que nom agia em base às normas culturais e aos patrons estabelecidos para a guerra moderna. E é que o sentido e a achega mais valiosa da luita de resistência do independentismo galego nas últimas décadas tem sido, precisamente, a de manter aberto um espaço de confrontaçom nacional e popular nom assimilado às lógicas políticas e sociais de Espanha e o seu consenso democrático, ou, por outras palavras, construir e reproduzir na indomabilidade do monte e da precariedade todo um sector do nacionalismo galego, enquanto a maioria decidia vestir a garavata e baixar às cidades e aos parlamentos a consumir e a negociar. Por desgraça, a galega nom pode aspirar hoje a ser umha resistência material aos planos de destruiçom espanhola, mas si que se pode constituir num referente e num parapeto desde o que alimentar formas de defesa e de construiçom nacional nom assimiladas à lógica e à psicologia espanholas. Esta forma de resistência fortalece-se cada vez que o inimigo nom a comprende, a risca de bárbara ou de absurda, e nom é capaz de chegar a um acordo com ela.

Pola contra, os apelos à "rendibilidade" lançados por amigos e inimigos, os chamados bem-intencionados e mal-intencionados a que as e os militantes independentistas apliquemos "a lógica", abandonemos a desobediência e nos beneficiemos dos favores do Estado, nom fam mais que debilitar a Galiza que resiste. E nom tanto pola pressom que podam supor sobre as nossas e os nossos combatentes, mas principalmente polo debil que fica o país quando desde posiçons nacionalistas se coincide no discurso cos polícias, os carcereiros e os políticos de Espanha. Desde um e outro lado chegam-nos vozes dizendo que passar anos em prisom por reconhecermos e defendermos dignamente a nossa condiçom de independentistas galegos nom compensa. E tenhem razom. Mas quem nos orgulhamos de identificar-nos coa nobre tradiçom de luita e afirmaçom do povo galego, nom esquecemos que, ao contrário que a maioria dos prisioneiros de Auschwitz, a naçom galega continua viva e o nosso povo conserva a semente da dignidade graças a pequenos gestos que raras vezes "compensam". Na Galiza de hoje, dificilmente "compensa" perder um posto de trabalho por ser galego-falante e nom renegar do idioma, ou por participar numha dessas greves gerais com as que há tempo que "nom se consegue nada": o "inteligente", para nom sofrer de forma inecessária e inútil, seria dirigir-se ao patrom em perfeito castelhano, declarando o arrependimento ante qualquer atividade sindical passada e o firme propósito de colaborar coa empresa no que esta estime necessário. Que dizer no caso de mulheres com filhos que manter e hipotecas que pagar: parece pouco rendível -alguns mesmo diriam "fanático"- arriscar-se a rematar no desemprego por nom tolerar as apalpadelas de um chefe baboso.

As e os independentistas galegos sempre fomos assim, algo "absurdos", pouco "lógicos". Começamos a militar esquivando as acusaçons de estarmos equivocados de época, e medramos de costas à "lógica política" do nosso tempo. Rechaçamos um modelo em base ao qual militar no nacionalismo levava com normalidade conhecer restaurantes e ganhar oposiçons, e com estranheza viver na precariedade e dormir nos calabouços. E quando outros as convertiam em celebraçons do santoral laico da esquerda, nós continuamos emocionando-nos e recordando com orgulho àquelas mulheres e homens que num 8 e num 10 de Março, num 26 de Abril, num 1 de Maio e em tantas outras ocasions e lugares, nom calculárom bem ou simplesmente rechaçárom aquelas opçons que lhes reportariam maior benefício pessoal, e graças a isso nos figerom sentir orgulho polo genero humano. Eis a lógica da resistência galega: a dos trabalhadores que aceitam o desemprego antes que a humilhaçom, a das mulheres que escolhem o enfrentamento antes que a submissom, a dos militantes que prefirem a repressom à colaboraçom. A dumha luita que só compensa se introduzirmos novamente na folha de cálculo o valor de fazer parte dessa Galiza nobre e digna que nom se vende, e que por isso segue viva.

Antom Santos Pérez, preso independentista galego.


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