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bandeira-pc3a1tria1Galiza - Galizalivre - [Maria Osório] Niebla, o camarada animal de Rafael Alberti que recebia as suas palavras no meio da derrota e o abandono, sem intuí-lo sabia muitas mais cousas do que qualquer pessoa acerca da raiva, a impotência e a tristeza que provoca a deserção e abandono de um amigo.


“ Niebla, mi camarada, aunque tu no lo sepas, nos queda todavía en medio de esta heroica pena bombardeada, la fe, que es, alegría, alegría, alegría”. Quando comecei a reflexionar sobre a motivação deste pequeno contributo meu para tentar entender coletivamente o que estamos a viver, lembrei-me destas palavras do poeta espanhol, inseridas num livro presenteado por umha amiga para quem só tenho palavras de agradecimento.

A letra miúda que não sai nos manuais de formação militante persegue-nos todos os dias. Aqui hoje temos um caso de manual, mas possivelmente não contávamos com ele. Como sempre, estamos um tanto afeitas à vida militante mais calma e tranquila e não reparamos muito em que as cousas sempre, sempre, têm umha volta de complicação. Porém, a nossa tradição militante mais próxima tem vivido isto e provavelmente hoje possa reparar neste caso com mais fundamento e peso do que as mais jovens. As mais jovens sabemos que com antecedência isto aconteceu, no nosso movimento e também noutros e que continua a acontecer. Ir desenhando um esquema das motivações ajudará-nos a colocar uns acontecimentos num determinado contexto, mas não deixar de sentir o que sentimos. Por isso, precisamos tanto da contextualização e da reflexão como da ação.

A estratégia policial do Estado para com o nosso movimento a cada passo resulta mais clara. Por um lado há que combinar a tradicional e secular necessidade policial de tocar o cerne e o mais importante dos movimentos revolucionários: a integridade, dignidade, entrega, paixão e força que resulta da soma dos seus militantes e por outro fazer da propaganda e da mentira umha realidade aceitada polas pessoas. Isto adubado com outras cousas que não vêm muito ao caso e todo remexido talvez seja o que tenhamos hoje cima da mesa.

Vamos desde o princípio. Somos por tradição um movimento pequeno, mas bem coeso. Apesar dos murmúrios e os barulhos sobre o nosso secular desentendimento provenientes da propaganda espanhola, o certo é que com a entrega nobre e desinteressada de um bom punhado de militância galega logramos manter contra vento e maré o cerne da nossa nação, tanto materialmente como em outros sentidos. Não vamos negar o dano da exploração, a repressão e a opressão do inimigo, não estamos cegas, mas vamos afirmar que apesar disso continuamos a trabalhar conjuntamente num projeto de resistência ilusionante. Queremos continuar a viver como Galiza, queremos que nos deixem fazê-lo sozinhas e estamos a trabalhar nisso. Só é que isto explica a estratégia do Estado contra a dissidência organizada. O ataque contra esta realidade é diáfano e tem umha boa mostra na estratégia policial que está a enfrentar hoje o independentismo revolucionário e que tivo como resultado provisional o abandono de um jovem militante perante os tribunais de exceção.

A provocação é umha estratégia velha e muito recorrida por parte de quem pretende liquidar movimentos revolucionários. O Estado espanhol está a o fazer contra nós, de maneira planificada, valendo-se do medo, da intimidação, das chantagens e cargando contra a razão de ser de toda a pessoa militante: a fidelidade e apego pola causa que representa. A provocação ataca a confiança entre a militância, provoca ambientes pesados, maus sentimentos, dificulta o trabalho, provoca fastio, dúvidas... É tão difícil reverter situações deste tipo como imperdoável é quem desenvolve esta estratégia, quem a segue e quem a reconhece e aplaude. Porque, fora de toda consideração policial, se o pensarmos encirradamente, o que se nos apresenta na realidade é a estratégia da individualidade, do egoísmo, de um mundo não vivível, solitário e onde não há ninguém que mantenha nos olhos a palavra solidariedade. É a estratégia do fascismo, da reação, da derrota e das tentativas macabras e agressivas de um Estado que pretende vingar através das diferentes gerações de militantes a sua incapacidade para ser outra cousa que umha máquina de meter medo. Mas isto intimida a quem intimida e encirra a quem tem que encirrar, porque a repressão foi sempre umha arma de dous gumes e estas situações vão temperar sempre as resoluções das pessoas mais solidárias. Por isso, foi sempre umha estratégia frustrada.

Pode acontecer e acontece que não todas as pessoas se comportem de maneira semelhante perante o inimigo. Mas isso nunca vai ser um erro. Umha debilidade pessoal não é umha debilidade coletiva. A outra pata da estratégia do Estado é fazer-nos crer através da propaganda que o abandono, a deserção, a delação e o arrependimento (tão na moda) são debilidades dos movimentos revolucionários. Podem terminar com umha pessoa militante e podem também liquidar organizações, mas em nenhum caso poderão paralisar a força para adiante de um conflito ou de umha revolução se está bem exposta e enraizada. Foi Serge quem nos ensinou que a provocação não é sempre necessária na ação policial. A tarefa da polícia não é esta, ou polo menos não tão marcadamente. A provocação é algo quase desconhecido em épocas de estabilidade política e enraíza e desenvolve-se na sua pior face em épocas instáveis e perigosas para o poder estabelecido. É a arma ou o mal dos regimes em descomposição?

Esta estratégia de propaganda contra a dissidência galega está muito bem planificada. Quando umha pessoa se mostra débil perante a ação do Estado, então até o próprio presidente da Junta sai a falar . O silêncio e o olvido marca o encarceramento da militância, das ações dignas, do trabalho quotidiano e sem descanso, dos exemplos de entrega e generosidade que quase enchem os olhos de lágrimas e que os há em todas partes. A maior ilusão dos governantes é sempre seguir a pensar em que podem anular os efeitos sem pensar nas causas, outra vez Serge é quem fala. Legislar e esmagar a dissidência, leis mordaça, cortes, prisão... Reprimir sem pensar nas causas por que a gente se rebela, não é? Mas isto não vai impedir que a gente o continue a fazer, porque leva passando séculos e porque vai continuar a passar ainda que nos custe pessoalmente todo. Dizia-o Rouillan, só a lutarmos pola liberdade é que conseguimos algo de liberdade.

Nós não estamos a falar-lhe a Niebla, mas possivelmente sim a falar-nos entre nós e a tentar decifrarmos uns acontecimentos que são ferintes e feios. As primeiras palavras para neutralizar vivências negativas têm de ser sempre de afeto e de alegria, como as que Niebla recebia de Alberti. Apesar de todo, também continua existindo o orgulho da pertença, a alegria do coletivo e a camaradagem dos momentos difíceis necessárias entre as pessoas para continuar a fazer o que fazem. Para continuarmos a viver com garantias de que as apostas arriscadas, pessoais e coletivas, merecem a pena. Por isso, a mim só se me ocorre falar neste momento de confiança, orgulho e reconhecimento para com as pessoas para quem a militância é a própria vida e o sentido das cousas. Reflexão, contextualização e sobretudo ação: trabalho, pensamento coletivo, disciplina e ação calculada. Nunca houvo receitas mágicas, mas houvo sempre solidariedade e orgulho militante. Alegria entre a névoa.


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