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feijo rajoiGaliza - Contrapoder - [Óscar Valadares] O cinismo do PP não tem limites. Não é uma frase feita, nem um cliché. E mágoa que não fosse. É certo, sim, que o próprio exercício da governação burguesa exige altas doses de cinismo.


Mas também o é que essa estratégia do PP de viver perpetuamente instalado no escândalo exige uma capacidade cínica além do que levamos visto até o de agora. Aquela famosa frase de Cospedal dizendo que o PP que levou para a frente a destruição de todo o tímido sistema social logrado após décadas de lutas obreiras é, na realidade, o "partido dos trabalhadores" inaugurou, com efeito, uma nova fase –mais avançada– de guerra comunicacional. Já não se trata apenas daquele mantra da herança deixada polo PSOE (a outra pata do sistema), mas de toda uma bateria de novas e variadíssimas contradições tão evidentes e brutas que, em lugar de qualquer desculpa ruborizada e de fulminantes demissões, o que requerem é já uma louca fugida para a frente que atinge novas quotas de barbaridade e, outra vez, novas fugidas temerárias. Sempre para a frente, até ao abismo.Como o processo é longo, seria impensável citar todas as mostras desse cinismo superior. Também não faz falta. Nem sequer importa referenciar as mais ridículas ou escandalosas. Todas e todos temos bem presente Rajoi negando que o registro policial da sede estatal do PP fosse exatamente isso: um registro policial; ou também Feijóo a acusar a oposição de fazer negócios com o narcotraficante Marcial Dorado, enquanto um oportuno anegamento destruia precisa e seletivamente a documentação que provaria as relações económicas dos governos do PP com personagens dessa laia. Os exemplos, como tristemente sabemos, seriam intermináveis. Mas o que importa, o realmente interessante, é constatar que o cinismo não resulta da acumulação dessas pérolas, senão que é prévio a elas. Por outras palavras, que se trata de uma questão inerente à condição das elites oligárquicas.

Marx já notou como o cinismo não é mais uma das possíveis atitudes que se observam na sociedade, mas uma consequência direta do modo de produção capitalista e da sua exigência de livre expansão do capital – que é a única exigência possível do ponto de vista da lógica interna do capitalismo. São as elites dessa classe do privilégio as que desenvolvem, então, o cinismo como atitude própria; especialmente na medida em que a sua classe domina (dialecticamente) a situação e, portanto, já não necessita "justificar" os excessos que comete para acelerar a acumulação, que é o mesmo que acelerar a expropriação, a exploração e a alienação das classes dominadas. O cinismo –não como atitude isolada, mas sim como andaço social– é, então, consequência da estrutura do capitalismo e, ao mesmo tempo, é capaz de se reproduzir de forma crescente e totalizadora.

O que interessa do cinismo, em qualquer caso, não é tanto a sua capacidade para reproduzir a opressão de classe ou de género. Essa opressão já estava aí, com cinismo ou sem ele. No melhor dos casos, o único que o cínico ou a cínica fazem é tornar mais transparente aos setores menos conscientizados essa realidade que antes ficava oculta por trás de declarações e programas desenhados para encantar. Mais sim tem uma utilidade certa para nós: serve como um claríssimo medidor do nível de dominação das oligarquias no cenário da luta de classes. Mais cinismo significa, inefectivelmente, mais vitória do capital, e maior derrota da classe trabalhadora.

Voltando para a prática diária: o cinismo descontrolado do PP mostra a medida da sua vitória atual. No caso da Galiza, uma vitória atual dupla, no plano da exploração económina e no plano da dominação nacional. Resta por ver se poderemos usar as evidências dessa realidade que já não ocultam, e que agora transparece nesses exercícios cínicos, para reverter a situação. Para isso não serve de nada escandalizarmo-nos como se realmente aquele emascaramento nos parecesse certo e a realidade nos tomasse por surpressa. A estratégia tem de ser bem outra. Menos alarmada, mais pedagógica.

* Óscar Valadares é militante sindical


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