O Dr. Raffaelli explica como isso ocorre: "O cérebro e a medula espinhal, que constituem o sistema nervoso central, têm em seu interior células que produzem uma substância chamada endorfina, capaz de abolir dores e produzir a sensação de bem-estar. Quando há um estímulo produzido pela dor, são liberadas endorfinas que vão atuar na região afetada, anulando a dor. Se o paciente toma um analgésico, ele desobriga o sistema nervoso central de produzir endorfina para aquela dor. Se o paciente tomar muitos analgésicos, a produção de endorfina cai e o paciente fica dependendo só dos analgésicos, tendo, ao passar do tempo, que aumentar a quantidade de analgésicos até que eles param de funcionar. Nessa fase, portanto, o paciente passa praticamente a viver com dor de cabeça, pois passa o mesmo tempo ou mais com a dor do que sem ela. Pode-se dizer que aí o paciente desenvolveu a chamada cefaléia crônica diária".
Antes de chegar nesta fase, porém, o paciente acaba convivendo com os efeitos colaterais relacionados aos analgésicos consumidos por ele. Segundo a neurologista Dra. Renata Parissi Buainain, "cada paciente reage de uma forma de acordo com cada medicação, mas quanto maior for a quantidade de comprimidos ingeridos, maiores são os riscos de o paciente sofrer os efeitos colaterais". As substâncias que mais freqüentemente são utilizadas em excesso são os analgésicos comuns, os ergotamínicos (classe de analgésicos específicos para enxaqueca) e medicações que trazem associações de drogas. "O consumo exagerado de ergotamínicos, por exemplo, pode levar a uma intoxicação", alerta a médica.
Outro erro cometido pelo paciente em relação à cefaléia crônica diária, além do uso abusivo de analgésicos, é tolerar a dor. "Muitos pacientes não procuram o médico, agüentando a dor de cabeça, partindo do pressuposto de que cefaléia não tem cura", conta o Dr. Raffaelli. Mas, segundo ele, não há motivo para o paciente chegar a esse ponto. "Se diagnosticada e tratada a tempo, e de maneira adequada, muitas dores de cabeça, inclusive a enxaqueca, têm cura. A conduta correta a tomar, então, é procurar tratamento médico e evitar a automedicação", completa o especialista.
Enxaqueca, mais que uma dor
Mal que atinge principalmente as mulheres (cerca de 18% da população feminina, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaléia), a enxaqueca é muito mais do que uma dor de cabeça forte. É uma doença bioquímica do cérebro que geralmente traz alguns sintomas associados como náuseas, vômitos, aversão à luz ou a cheiros fortes. Por surgir em surtos ou crises freqüentes e intensas, a enxaqueca pode atrapalhar seriamente a vida do paciente. Além de ser responsável por faltas no trabalho e perda de produtividade, a doença afasta o paciente da vida social.
Pacientes que sofrem especificamente de enxaqueca também podem desenvolver a cefaléia crônica diária que, nesse caso, é chamada de enxaqueca transformada. O neurologista, coordenador do ambulatório de cefaléias crônicas do Instituto de Neurologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dr. Abouch Valenty Krymchantowski, explica que "como a maioria dos casos de enxaqueca transformada é também associada ao uso excessivo e/ou regular e abusivo de medicamentos para a própria crise de enxaqueca, muitas vezes torna-se difícil reiterar que não se trata de parar a medicação quando melhorar, mas, sim, de parar a medicação para conseguir melhorar".
Segundo o Dr. Abouch, autor do livro "Enxaqueca" (editora Campus, 2001), geralmente, "o tratamento da cefaléia crônica diária tem sucesso quando é realizado por um médico treinado nessa especialidade (o chamado cefaliatra) e inclui, necessariamente, a suspensão abrupta da medicação consumida em excesso, o uso de drogas preventivas que atuam nos mecanismos cerebrais da dor, mudanças simples e objetivas de hábitos de vida e de comportamento e a fundamental compreensão, por parte do paciente, de que ele é o maior responsável, e também maior beneficiário, pelo sucesso do tratamento. Isso porque, no início do tratamento da cefaléia diária, o paciente pode apresentar piora grande nos primeiros dias da retirada da medicação usada em excesso, mas ao longo de alguns dias irá gradualmente melhorando e deixando de manifestar a dor diariamente." Além disso, o médico ressalta que "se houver uso excessivo de drogas sintomáticas para a dor de cabeça (analgésicos e outros medicamentos específicos para tratar a dor), o tratamento preventivo não funciona até que o organismo do paciente não esteja mais sob a influência das drogas usadas excessivamente. Após um período de três a cinco semanas em média, porém, acontece uma melhora significativa no paciente."
"Durante o tratamento preventivo, o paciente pode fazer uso de medicamentos específicos para os momentos de crise de enxaqueca, se houver, como a classe de medicamentos triptanos, a mais recente no mercado", afirma a Dra. Renata. Entre os triptanos, a sumatriptana, princípio ativo presente no SUMAX, medicamento produzido pela Libbs Farmacêutica, por exemplo, foi a primeira droga na história a tratar especificamente crises de enxaqueca. A sumatriptana atua diretamente nos receptores envolvidos na crise da enxaqueca, simulando a ação do neurotransmissor serotonina, responsável pela redução dos sintomas. Por esta razão, na maioria dos pacientes, a resposta é rápida e produzem menos efeitos colaterais. Vendido sob prescrição médica, o SUMAX pode ser encontrado para consumo oral, nasal e subcutâneo.