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govBrasil - Diário Liberdade - [Doce Ativismo] Os olhos do Brasil estão voltados para Minas Gerais e o crime ambiental cometido pelas empresas de minério Samarco e suas acionistas Vale e BHP Billiton. Ou deveriam.


Foto: moradores de Governador Valadares observam a lama tomando conta do Rio Doce, que abastece a cidade.

Os desdobramentos da “tragédia” incluem danos irreversíveis ao Rio Doce e à sua fauna, a destruição “súbita” do povoado de Bento Rodrigues geraram a situação de calamidade em várias cidades que dependiam do rio para a captação de água, paralisando atividades agrícolas e de pesca de povos ribeirinhos. No total, são cerca de 3,5 milhões de pessoas que dependem da bacia hidrográfica do Rio Doce para viver.

A situação dos índios da etnia Krenak, que exerciam suas atividades de pesca e de lazer junto ao Rio, perderam, além da captação de água, a suspensão de seus meios de subsistência por meio da pesca, que é parte crucial de sua cultura: o rio representava mais que um curso de água, tratava-se de uma entidade, um espírito a ser louvado e cantado. Governador Valadares, cidade onde nasci e moro atualmente, com população superior a 280 mil habitantes, tem padecido junto ao Rio desde a segunda-feira (9) passada, quando o fornecimento de água foi cortado.

Vários civis se mobilizaram e continuam se mobilizando para que as doações de água potável sejam entregues a nós, que somos fatalmente mais atingidos pela escassez, devido à dimensão populacional. As empresas de minério não cumprem sua “parte” e chegaram ao cúmulo de enviar a Valadares vagões que carregavam 240 mil litros de água contaminada com querosene.

Escassez de água e excesso de oportunismo e má-fé

Não fossem as doações (que ainda são insuficientes!), a população em situação de maior vulnerabilidade estaria morrendo de sede, literalmente. Para se ter ideia: em um dos pontos de distribuição de água (hoje, 15 de novembro, na Praça de Esportes), os galões se esgotaram em apenas uma hora! Não bastasse o sofrimento das populações mais pobres (e, consequentemente, mais atingidas) que esperam em filas enormes e por horas a fio para conseguir água potável, a neopentecostal Igreja Quadrangular age de má-fé.

Explico: eu e outros amigos estamos conduzindo um trabalho de averiguação de notícias e boatos que circulam na cidade. Neste momento, é difícil saber o que realmente está acontecendo ou não: foram rendidos três caminhões no bairro Santa Rita? Uma pessoa foi esfaqueada em conflitos que envolviam água? Hoje recebemos a notícia de que o carregamento de água e doações enviadas à Igreja Quadrangular (localizada na Av. Brasil, número 3897) estava sendo distribuída somente a fiéis, e fomos, então, verificar.

O pastor Silas Malafaia havia postado, dias antes, um vídeo e, infelizmente, o “boato” confirmou-se. Não constatamos a presença de “carteirinhas” que seriam utilizadas para o fornecimento de água potável a membros da instituição. No entanto, conversamos com moradores que aguardavam o recebimento de água sem receber qualquer explicação da igreja e presenciamos, também, pessoas que saíam com “fardos” de água, sem que nenhum dos que esperavam fossem informados da existência desta água, ou por quanto tempo haveriam de esperar.

O oportunismo dos pastores (a fim de conseguir mais fiéis e tomarem para si o lugar de “heróis sociais”) e a falta de dignidade de uma instituição que deveria estar a serviço de todos, em uma situação desastrosa como essa, reina. Fomos até a porta da Quadrangular e nos deparamos com uma enorme fila de pessoas que aguardavam a chegada de um caminhão desde as 16h. Já eram quase 19h quando chegamos. Conversei com algumas pessoas que afirmaram terem ouvido um pronunciamento do Pastor Malafaia de que haveria água na Igreja, além de uma postagem no Facebook (na página da Quadrangular de Governador Valadares) dizendo que haveria um caminhão chegando do Rio de Janeiro.

Uma das moradoras do bairro de Lourdes me afirmou ter recebido água suja da igreja e, com medo, teve de descartar o que conseguiu. Filmamos e vimos pessoas que saíam do culto com fardos de água mineral de dentro da igreja, enquanto cerca de 200 pessoas esperavam, desoladas, por um suposto caminhão... que nunca chegava. Pedimos esclarecimentos a uma pessoa que vestia a camisa da quadrangular, dado que havíamos visto água mineral em fardos (e com rótulo!) sendo carregada aos montes de dentro para fora da Igreja. Repetiram que o caminhão estava chegando e que não havia água mineral dentro da instituição. Como éramos quatro pessoas documentando tudo isso que escrevi, duas das garotas que estavam comigo conseguiram escutar pessoas que “gozavam” da situação dos que esperavam. Enquanto isso, eu e outro amigo, gravávamos depoimentos das pessoas no lado de fora.

A tragédia é um prato cheio para oportunismos, seja por parte das igrejas, seja do Estado. Apesar de todo alento e carinho que viemos recebendo ao longo dessa semana, há também esse outro lado sombrio, que vem sendo cometido “em nome de Deus”.

Somos um grupo independente de pessoas interessadas em esclarecer boatos e informações que chegam a todo o momento, sem fonte, e que, além disso, tem reunido esforços para nos comunicarmos com civis de outros Estados para a arrecadação de água potável para o município.

Também estamos distribuindo a água que conseguimos arrecadar em cidades vizinhas para os bairros mais atingidos diretamente utilizando nossos carros.

Escrevo esse relato para apontar o que presenciamos na Igreja Quadrangular, alertando aos que nos ajudam pra que verifiquem para quem e para onde as doações (monetárias ou não) estão sendo dirigidas.

Há pessoas de má-fé, assim como há igrejas de má-fé. Mas há também os que estão trabalhando (instituições e civis) para que a situação de calamidade seja amenizada ao máximo e as populações de maior vulnerabilidade social sejam atendidas devidamente. Ainda contamos com a ajuda de todos, já que a situação ainda encontra-se nebulosa, sem previsões de retornar a normalidade.

Além disso, questionamos: onde estão o Governo de Minas Gerais, o Governo Federal, a Samarco, a Vale, a BHP Billiton e a imprensa?

 

 

As ações do coletivo Doce Ativismo, de Governador Valadares, podem ser acompanhadas na página: https://www.facebook.com/doceativismo/ 


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