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hideki SELF-POST-e1404309545286Brasil - Ponte - [Tatiana Merlino] Usando uniforme de prisioneiro cor bege, sandálias havaianas e de cabeça raspada, Fábio Hideki Harano aparece numa sala do presídio de Tremembé, localizado a 147 quilômetros da capital paulista. Com um semblante tranquilo, ele recebe a visita do deputado Adriano Diogo (PT-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (Alesp), acompanhada com exclusividade pela reportagem da Ponte.


Estudante e servidor da USP, Hideki foi preso em 23 de junho, ao final de uma das manifestações "Se não tiver direitos, Não vai ter Copa". Sua prisão ocorreu em flagrante, dentro da estação Consolação do Metrô, acusado de portar um artefato explosivo. Na mesma manifestação também foi preso o professor Rafael Marques Lusvarghi. Os dois são acusados dos crimes de incitação à violência, resistência à prisão, desacato a autoridade, associação criminosa e porte de artefato explosivo. "São os primeiros black blocs presos em flagrante pela Polícia Civil paulista", disse o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella. "É a resposta da lei para esses indivíduos".

Inicialmente levado ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), depois ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros (onde seu cabelo foi cortado), no dia 25 o estudante foi transferido para o presídio de Tremembé. De acordo com a Polícia Civil, no momento de sua prisão Hideki estaria portanto explosivos. "O que eu tinha era uma garrafa de água com vinagre, para me proteger do gás lacrimogêneo. Vinagre não é explosivo", argumenta. "Se eu estivesse com explosivos, não teria gritado pedindo que filmassem a hora em que minha mochila foi aberta", ressalta. Segundo o ativista, ele só foi apresentado aos explosivos de verdade por um investigador de polícia, quando foi prestar depoimento no Deic.

O jovem, que é técnico em farmácia da Faculdade de Medicina da USP, afirma que não conhecia o professor que também foi detido. Apenas o havia visto em um ato anterior, ocorrido no dia 19. "Só vim a saber o nome dele no Deic".

10 dias sem sair da cela

Para chegar à carceragem do presídio, depois de passar por um detector de metais, há um portão de ferro, sobre o qual está escrito: "Este presídio só recebe o homem. O delito e o passado ficam nesta porta". Em Tremembé há 637 pessoas encarceradas, dos quais 443 em regime fechado e 194 em regime semiaberto. Lá estão presos de casos de grande repercussão, como os irmãos Cravinhos, condenados pela morte dos pais de Suzane von Richthofen e Lindemberg Alves, que matou a ex-namorada Eloá Pimentel, de 15 anos.

No local, Hideki está cumprindo o que se chama de período de observação: dez dias sem poder sair da cela. Para que as horas passem mais rápido, ele dorme bastante, lê (como na cela só há uma Bíblia, está lendo um livro emprestado, um romance histórico) e faz exercícios físicos, como alongamento, abdominal, exercícios para perna e braços. "Junto várias coisas pesadas e faço levantamento." Também conversa, através das grades, com os colegas de cela, "que me tratam muito bem". Olhando para o caderninho de anotações da reportagem, ele pede: "Por favor, é importante incluir aí que todos os presos me trataram muito bem, no Deic, no CDP e aqui".

No mesmo caderninho, o estudante escreve uma nota, que pede para ser divulgada:

"Tremembé, 1º de Julho de 2014

Tenho a consciência completamente limpa, pois participar de manifestação de rua está longe de ser crime. Ou mesmo algo, em termos vagos, errado. Eu não portaria explosivo algum, tanto é que pedi aos gritos que a abordagem fosse filmada. Afinal, eu não tinha comigo nada a esconder.

Participar de manifestações com itens de proteção individual, como capacete, roupa grossa, vinagre e máscara de gás nem de longe é crime. Aliás, além de manifestantes e repórteres, tais ítens também são usados por policiais.

E mesmo assim fui preso, passei meu aniversário de 27 anos ontem em uma cela da qual não saí, alvo de acusações completamente sem fundamento.

Fabio Hideki Harano"

Aniversário na cela

Seu aniversário foi na segunda-feira, 30 de junho. Para aguentar passar a data preso, tentou "encarar o dia como mais um sem contato com o mundo exterior". O jovem acredita que sua prisão representa uma "investida dos setores reacionários da sociedade" e respondeu a um desejo da polícia de "mostrar serviço". Ele afirma que foi pego "para dar uma resposta à sociedade e à imprensa, que estavam cobrando a prisão de manifestantes violentos". "Se ser black bloc é quebrar símbolos do grande capital, eu não sou black bloc."

Para o deputado Adriano Diogo, as características da prisão do jovem "não são da vida democrática. Estamos diante de um refém das manifestações. Ele está sendo tratado como se pertencesse a uma célula terrorista", afirma. "É como se ele fosse responsável por tudo de ruim, como se fosse um criminoso. Não me conformo com isso. Ele está preso para servir de exemplo", sustenta.

Moleque de classe média

Tanto sua mãe, dona de casa, quanto seu pai, engenheiro, são de origem japonesa. Hideki nasceu em Vitória (ES). Sua infância e adolescência foram a de um típico "moleque de classe média". "Aquele que joga videogame, faz natação, aula de inglês." Seus pais, embora não sejam militantes, estão tranquilos quanto à participação política do filho. "Porque eles sabem que eu não sou um criminoso e sim um militante."

No começo de 2005, mudou-se para São Paulo, quando entrou, aos 17 anos, na Escola Politécnica da USP. Desistiu da Engenharia no final de 2007, e se transferiu para o curso de Ciências Sociais. No final de 2011, resolveu novamente mudar de área e prestou vestibular para Jornalismo. Aprovado, desde 2012 estuda na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). O jovem de 27 anos define-se como um nerd, "que joga RPG, videogame, lê quadrinhos, gosta de fantasias medievais e assiste a seriados japoneses". E, claro, "também quero um mundo melhor. Sou defensor de direitos humanos e da democracia". Desde 2011, é funcionário concursado da USP.

Após sua prisão, amigos criaram o site "Liberdade para Hideki", onde há informações sobre a vida e o caso do estudante. De acordo com o padre Julio Lancelotti, membro da Pastoral do Povo de Rua e testemunha da operação policial, o "flagrante" foi forjado.

Um ato debate realizado nesta terça, 1, em apoio à prisão de manifestantes, terminou com a prisão de seis pessoas, incluindo um advogado.


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