Os “rolezinhos”, como ficaram conhecidos os protestos de jovens da periferia que marcavam encontros em shopping centers, expuseram que existe um apartheid social no Brasil. Há lugares onde pobres e negros estão, na prática, proibidos de frequentar. O próprio “rolezinho” é, em si, uma resposta a este tipo de política. Basta lembrar que eles ganharam repercussão após a violência e a humilhação praticadas por policiais em um shopping de Vitória, no Espírito Santo.
Além disso, não podemos desvinculá-lo da onda de manifestações contra a repressão policial e o Estado ditatorial que ainda vigora no Brasil. Por isso, a ação da Justiça para proibi-los continua. E assim mais um “rolezinho” foi impedido de acontecer. No dia 6 de fevereiro, quinta-feira, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que não poderia ocorrer o evento programado para ser realizado nos dias 8 e 9 de fevereiro no Shopping Aricanduva, localizado na zona Leste de São Paulo.
A decisão foi tomada pelo Desembargador Rômulo Russo, da 11ª Câmara de Direito Privado. O argumento é que este tipo de encontro não pode ocorrer em lugares comerciais. Mas tal medida não encontra nenhum amparo legal que impeça este tipo de encontro ou manifestação em locais comoshoppings.
Todo o problema está justamente naquilo que dissemos anteriormente. O “rolezinho”, como um movimento de contestação, tenta romper a barreira imposta a jovens negros e pobres em determinados estabelecimentos. E os shoppings se expandiram justamente com a política de segregação social. Neles, setores da classe média e da burguesia acreditavam estar livres da presença da população pobre.
Esta, por sua vez, sempre foi excluída destes lugares por meio do oficioso apartheid social brasileiro, quando não pela intimidação dos seguranças.
Neste sentido, o impedimento do “rolezinho” é mais um aspecto da política “higienista” praticada pela burguesia. Política que discrimina o pobre e o negro e que cassa os direitos democráticos mais elementares do povo.