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dceBrasil - Repórter Brasil - [Fernando Cherot Nogueira e Pedro Ribeiro Nogueira] Depoimento do professor Fernando Cherot Nogueira sobre a repressão em São Paulo ao ato em defesa da educação realizado em comemoração ao Dia dos Professores


Em junho, o jornalista Pedro Ribeiro Nogueira, repórter do portal Aprendiz que fazia a cobertura dos Protestos de Junho, foi preso e espancado ao tentar ajudar jovens que estavam apanhando de policiais. A cena foi registrada em vídeo. Quatro meses depois, seu irmão, Fernando Cherot Nogueira, professor que participava do ato em defesa da educação em São Paulo, viu policiais chutando e socando manifestantes indiscriminadamente e teve de correr para não ser agredido. Com autorização dos dois, a Repórter Brasil publica este relato sobre o ato realizado nessa terça-feira, dia 15. Data em que se comemorou o Dia dos Professores.

Antes de ir pro ato o Fernando me liga. "Cuidado", eu inutilmente advirto. É que a gente ainda tem de batalhar pra recuperar a coragem depois de tudo que acontece com a gente. Pois demora para voltar a ter a velha valentia por você e pelos outros que sofrerem pelo que fizeram com você e que eles seguem fazendo com tantos outros por tanto tempo. Continuar servindo de vidraça, de guarita, de objeto pra violência brutal dos blocos cinzas. "Eles que tem de ter cuidado comigo", brinca ele. E está certo. Porque nada podem bombas onde sobra coração. Pedro Ribeiro Nogueira

Hoje é Dia dos Professores e fui no ato em defesa da educação, no Largo da Batata, organizado pelas organizações estudantis das universidades paulistas, que estão em greve.Quando cheguei a galera já estava na ponte Eusébio Matoso, prestes a entrar na marginal [Avenida Marginal Pinheiros, na Zona Oeste da cidade]. Me agreguei aos manifestantes (não sei estimar quantos, mas chuto uns 2 mil), e desci com todos para a pista principal.

Anarquistas, black blocks e afins iam na frente e os partidos iam atrás com bandeiras, microfones etc. Assim que entramos na marginal a polícia encurralou os manifestantes pelos dois lados e começou a provocar. Me acheguei perto da calçada – já que ando com mais cuidado desde que o meu irmão foi preso – e o quebra-pau começou.

Não sei dizer como, mas de repente vi um monte de policiais descendo o cacete nos manifestantes que estavam na frente. Com muitas bombas de gás atiradas, a galera reagiu como pôde, correndo, jogando pedras, se defendendo. Quando a situação ficou incontrolável, os manifestantes, sem ter para onde correr, pularam as grades da Tok&Stok e começaram a entrar na loja.

Com uma bomba de gás no meu pé, fiz o mesmo. Saltei a grade e entrei – no pulo deixei um livro emprestado cair no gramado. Inalei muita fumaça e minha respiração ficou uma merda. Na loja, achando que estávamos seguros, pensei: vou esperar aqui até a violência acabar, e depois tento recuperar meu livro.

Vinagre

Ledo engano. A polícia começou a chegar perto da entrada e jogou uma bomba de gás dentro da Tok&Stok, intoxicando quem quer que estivesse lá dentro. Consegui uma garrafa de vinagre e fiquei no fundo da loja, emprestando para quem passava. Vi um monte de gente machucada, chorando, com os olhos vermelhos etc. Continuei esperando um pouco e a polícia começou a entrar na loja, para prender os manifestantes que tinham sobrado. Eu pulei pela grade dos fundos e vi que haviam policiais nos dois cantos da rua, caçando manifestantes para prender e usar de troféu.

Já no chão, pude ver os covardes chutarem e socarem os jovens que estavam lá, acossados, escondidos

Aí foi cada um por si. Um pessoal entrou no estacionamento, outros entraram num colégio fechado, e eu, por sorte, consegui entrar na casa da dona Maria, que me fez ficar sentado quetinho na sala dela. Na TV, passava aquele fascista da Record que não sei o nome, que dizia com todas as letras que os manifestantes (que gritavam por educação) eram bandidos que tinham de apanhar, ir para cadeia e outros impropérios que nem consigo lembrar, tamanha a barbárie do discurso.

A senhora me ofereceu uma cerveja, que aceitei, já que minha boca estava seca de tanto respirar gás, e fiquei espiando da janela a movimentação dos policiais na rua. Os canalhas entraram pela porta de trás do estacionamento, onde havia uma galera escondida, e começaram a gritar e a mandar todos para o chão. Já no chão, pude ver os covardes chutarem e socarem os jovens que estavam lá, acossados, escondidos.

Algemaram alguns e outros conseguiram sair pela porta.

Direitos

Da casa da senhora, esperei até que a polícia desaparecesse, e voltei para o local do confronto, para ver se recuperava o livro. Bombas de gás pelo chão, cartazes pedindo melhoras na educação, livros, roupas, tudo jogado, tudo deixado pra trás no desespero de fugir da polícia que mais mata no mundo.

Cápsula de bomba de gás vencida disparada pela PM em junho. Foto: Anali Dupré

Em junho vi milhares de brasileiros saindo às ruas, clamando por uma multiplicidade de direitos que nem sei se eles lembram. Vi também a Polícia Militar do Estado de São Paulo agindo brutalmente, covardemente, violentamente. Vi muitos amigos tomarem porrada. Vi um irmão preso.

Cadê toda essa galera? Alguma coisa mudou, além dos 20 centavos? Ou estavam todos nas ruas só pela animosidade?

A PM segue agindo violentamente, nos usando de vidraça para seu vandalismo. A educação segue uma merda no Estado de São Paulo, sucateada por anos de governo tucano. E o povo que se manifestou nas ruas em junho, onde está?

Voltemos às ruas,
Às ruas!

 

 

 

 

 


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