O caso do auxiliar de pedreiro abre caminho para se refletir sobre a instalação das UPPs nas comunidades, que, por terem sido implantadas como demanda de emergência ainda necessitam ser ajustadas às reais necessidades das comunidades. E, mais que isso, mostra a situação de medo, violência e até tortura a que os moradores das favelas estão sendo submetidos diariamente.
De acordo com a advogada da Pastoral das Favelas do Rio de Janeiro, Eliane Sousa, ainda existe, sim, violência e tortura nas comunidades e o sentimento da população é contraditório com relação à presença constante da Polícia em suas comunidades.
"Em conversas com pessoas das comunidades nós constatamos que as pessoas se sentem um pouco mais seguras com a presença das UPPs, mas ao mesmo tempo têm medo do que possa vir a acontecer. Eles não sabem em quem confiar. O caso do Amarildo foi apenas um, mas temos outros emblemáticos, como o jovem morto pela Polícia no Pavão-Pavãozinho, em junho de 2011", relata a advogada, relembrando o caso considerado o primeiro homicídio praticado por policiais militares reconhecido oficialmente em áreas ocupadas por UPP.
Para Jailson de Souza Silva, diretor da organização social Observatório de Favelas, a tortura nunca acabou nem presídios nem nas favelas e é um traço da polícia brasileira, que usa isso como arma contra os acusados e seus familiares. Este é um dos grandes desafios a ser enfrentado no nosso país.
"O caso do Amarildo, um auxiliar de pedreiro, anônimo, sem estudos, morador de uma favela carioca, só está tendo esta repercussão e sendo manchete de jornal porque centenas de pessoas de todas as partes começaram a perguntar onde ele estava, o que havia sido feito dele. Mas a verdade é que o Brasil tem 50 mil desaparecidos e não se esclarece estas mortes".
Para Jailson, quem precisa ser pacificado é o Estado, pois o que se vê hoje nas comunidades é uma "guerra de extermínio" que está implantada em todo o país, não só no Rio de Janeiro. Ele recorda que o Brasil foi contemplado com significativo crescimento econômico nos últimos anos, mas a situação da violência só piorou e principalmente para alguns grupos da população como jovens negros e pobres.
"A polícia age nas comunidades no controle dos territórios e não visando o respeito aos direitos dos moradores. Este e tantos outros casos de violência revelam problemas graves que precisam ser superados. As UPPs são um avanço, mas têm seus pontos negativos. A população das comunidades precisa mais que ação da polícia", chama atenção.