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Republica Metro accessBrasil - Diário Liberdade - Relato da ativista Priscila Costa sobre violências racistas e machistas ocorridas no dia 21 de junho de 2013 no metrô paulistano.


Relato do que sofri no Metro republica no dia 21/06. (Outros jovens também sofreram agressões, tudo porque como disse no relato, o segurança preconceituoso e racista,metido a classe-média, achou que eles tivessem perfil de "trombadinha").

Por favor, tenham a paciência de ler e divulgar esses graves relatos de racismo e machismo.

Em pleno cenário político de protestos contra as políticas de exclusão dos transportes públicos, interferência da ONU em todo tipo de abuso de poder das polícias brasileiras, afro-genocídio nas periferias, avanço do ódio às mulheres no dia a dia e nas leis (Estatuto do Nascituro = bolsa-estupro) e recrudescimento da mentalidade antidemocrática de grande parte da classe média, da mídia e das suas autoridades protetoras, eu, Priscila, venho relatar as violências que vi e sofri na noite de sexta-feira (21/06) em pleno metrô República lotado. As câmeras do próprio metrô, além de todas as testemunhas, podem comprovar este relato e provavelmente até agravá-lo.

Letícia, Dennis e eu esperávamos na catraca outras amigas e amigos que vinham do ato contra a "cura gay", projeto de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), empurrado pela bancada evangélica da Comissão de Direitos Humanos da câmara, presidida pelo multiempresário, fundamentalista religioso, reconhecidamente racista, homofóbico e machista, o rico Marco Feliciano, em Brasília. Eram umas 22h quando subiu um rapaz imobilizado por dois seguranças e foi jogado na rua por eles. Observamos. Minutos depois, outros dois ou três jovens sobem imobilizados por uns 10 seguranças e, na frente da catraca, um leva uma rasteira, cai de joelhos e duas mãos brancas tentam estrangulá-lo, apertando uma na frente e outra atrás de seu pescoço. Reagimos de pronto àquele abuso, assim como @s demais usuári@s, e fomos repelid@s a pancadas, enquanto um segurança pisava no saco do jovem já sem ar, agora imobilizado de barriga para cima. Vimos também um amigo da vítima ser socado por vários seguranças, sem possibilidade de defesa. Dois jovens foram algemados e escondidos ao lado da SSO, atrás do cordão feito pelos seguranças, para que ninguém visse que a surra na verdade só continuava, com tapas e pisões, como mostra o vídeo gravado por uma testemunha: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Mw6scyEh6KY

No meio da confusão, gritávamos para denunciar tudo aquilo a quem pudesse ouvir. Um segurança levantou o cassetete para mim e passou a me ignorar quando falei que seria violência contra a mulher, preferindo então ameaçar e provocar os homens que estavam atrás de mim, que também defendiam as vítimas. Continuei a gritar, pois os rapazes continuavam sendo espancados sob os olhos do supervisor de segurança, I. B., do supervisor de estação, D.A. Este último gritou comigo e mandava-me calar a boca, pois "não sabia de nada". Na verdade ele é quem não sabia, pois o segurança disse que a vítima havia agredido um segurança do metrô, outro disse que o rapaz depredou o patrimônio e outro disse que a vítima estava cantando e que por isso perturbava a ordem pública. Mesmo sendo exposta e constrangida, tratada novamente como inferior por ser mulher, nada se compara com a atitude acéfala do segurança Fabio Monteiro. No calor da revolta e da confusão, eu continuava a gritar, mesmo sob os gritos do Daniel Alves, supervisor da estação, quando o misógino (misoginia = ódio às mulheres) Fabio Monteiro começou a me insultar, ridicularizar, expor e constranger, gritando na frente de todos os presentes, como ele mesmo disse: "Vira aí, vou enfiar no seu cu, você vai gostar", "ah, você é magrinha, ih acho que não aguenta". Enquanto Fabio Monteiro mostrava sua potencialidade de estuprador, continuou a me violentar, manejando seu cassetete (símbolo fálico), insinuando gestos sexuais com o mesmo, chegando até a cuspir em sua ponta e alisá-la, como mostra outro vídeo da mesma testemunha: https://www.youtube.com/watch?v=62_t4BFj4Ys&feature=youtube_gdata_player.

Na hora fiquei descontrolada, gritava para ele (enquanto ele me inferiorizava) dizendo que era violência contra a mulher. Tentei cuspir nele e outro segurança interferiu. Gritei para ele o que seu companheiro de trabalho havia me feito e ele nada fez. Tentei ligar várias vezes para a Delegacia da Mulher: na primeira vez, quando relatei a agressão, a ligação foi propositalmente cortada; na segunda vez, disseram para eu ligar para o 190 e falar com um policial. Eu disse que no local havia PMs, desligaram o telefone novamente. Os PMs que estavam ali tomaram como sempre as vítimas como réus e não tomaram nenhuma providência quanto ao espancamento que acontecia, e o pior, quem foi de testemunha para a delegacia contra as vítimas foi o próprio violador Fabio Monteiro, que saiu do local, pois estava sendo escrachado e exposto por tod@s ali presentes, que entoavam, por exemplo: "Racistas, machistas, não passarão!" e "sem violência!".

Com a saída das vítimas, da PM e dos violadores, fomos falar com os seguranças que ali ficaram. Os gritos de denúncia de nós, mulheres, e dos acompanhantes das vítimas é claro que não foram ouvidos. O senhor S. D., supervisor dos seguranças que promoveram esse lamentável espetáculo, só ouviu os homens brancos que lhe dirigiram a palavra (por exemplo o Guilherme, o Bruno, um rapaz filho de PM e outras testemunhas). A eles disse já ter trabalhado na FEBEM e que reconhecia fisicamente o perfil de "trombadinhas" dos rapazes, o que então justificaria aquilo tudo. Nisso uma mulher perguntou: "e eu, pareço ter vindo da FEBEM?" A resposta foi negativa, o que ela e todos ressaltaram que era pelo fato de ela ser branca. Quer dizer que, se um adolescente ou uma criança apanha dos funcionários da Fundação Casa (o que é extremamente errado) por isso mesmo tem que apanhar quando sai? Quer dizer que, se você não aparenta ser de classe média, é tratado assim pelas autoridades do metrô? Quer dizer que se você não tem um falo para cuspir deve ser sempre ignorada, calada, inferiorizada e vista como um buraco violável? O supervisor também foi questionado sobre o motivo de alguns seguranças terem retirado seus nomes de seus coletes e a resposta foi de que "eram coletes novos, sem a identificação".

Ao lado dessa conversa, um imigrante talvez boliviano ou peruano tentou passar por baixo da catraca, para não pagar os vertiginosos R$ 3,20. Foi barrado. Muito provavelmente ele poderia ser mais um superexplorado da indústria têxtil, pagando altos aluguéis a aproveitadores, com filhos dando a merenda na escola para não apanharem, como é comum. Segundos depois, nas catracas ao lado, duas mulheres negras, uma com um bebê, tentaram também passar por baixo. Foram barradas também, sempre pelo mesmo que gritou que eu calasse a boca. Ao ser questionado sobre a injustiça daquela exclusão racista e classista, ele perdeu de vez o controle, gritou loucamente com o Dennis, que o questionou, e foi aos prantos à SSO. Por mais que esse supervisor também fosse negro e que quem fiscaliza a catraca pode ser demitido se falhar (nos debatemos embaixo, enquanto lucram em cima), seu despreparo já estava latente e manifesto desde o primeiro grito de ordem a mim, ao invés de impedir o espancamento sem defesa dos jovens.

Após toda confusão provocada pelo despreparo dos supervisores e seguranças, que tiveram uma postura sádica, violenta e abusiva, dois homens (um careca forte com bandeira do Estado de São Paulo na camiseta), que passavam pela catraca saindo da estação, ameaçaram a Estela. Eles estavam dizendo aos seguranças que eu e a Estela merecíamos "um cacete mesmo". Quando alguém os chamou de fascistas, eles prontamente atenderam irritados em tom ameaçador. Nenhum segurança tentou ao menos garantir a defesa dela. Pelo contrário, saíram também da catraca e deram as mãos aos fascistas. Ao fim, fomos embora para não perder o metrô, temendo que este fascista voltasse com os amigos para nos atacar.

Tamanho amontoado de atrocidades autoritárias infelizmente é recorrente nos metrôs e trens. Essa com certeza não é a primeira denúncia formal sobre abusos do tipo. A longa extensão dessa carta se justifica pela importância de prevenir que tais autoridades continuem representando perigo a nós, civis desprivilegiad@s socialmente, suas principais vítimas. A consequência do racismo cotidiano e estrutural é a exclusão de uma maioria negra, nas mais de 419 favelas de São Paulo onde, sendo campos de exclusão, com direitos sociais propositalmente negados, muitos jovens são executados a mando da elite ou por satisfação e prazer dos policiais militares - isso quando os alvos desses matadores não se tornam presas fáceis de um sistema carcerário putrefato -, como comprovam os Crimes de Maio de 2006, em que em uma semana a polícia matou mais de 500 pessoas, mais do que nos 20 anos da última ditadura.

A consequência da misoginia também cotidiana e estrutural é a disseminação da lógica do estupro em atitudes de homens para com mulheres, as 17 estupradas por dia em 2012 no RJ, os 2% a mais em São Paulo e os estupros a cada 12 segundos no Brasil, o feminicídio (mortes por questão de gênero), a desvalorização da mulher pobre não branca em quase todas as instâncias da sociedade e a falta de assistência digna quando ela sofre violência de gênero (machismo), tendo pouco amparo jurídico nessas situações. Perguntar "mas o que fizeram lá em baixo para serem surrados?" é equivalente ao que fazem policiais despreparados quando perguntam "mas o que você fez para ele te bater?" a uma mulher vítima de violência que vai denunciar o agressor. É a famosa culpabilização da vítima. Quando sua mente fizer essa pergunta, lembre que se PODER e PRIVILÉGIO determinam nossos destinos, mais igualitário e justo é colocar-se na perspectiva d@ oprimid@, não do opressor. Se em algum momento nos excedemos em nossas respostas, era a sensação de impotência que erguia nossa voz contra a impossibilidade de haver justiça ali, contra tal bloqueio de direitos, contra os armados do Estado.

Que outros abusos esses seguranças não devem cometer diariamente? Quem usa metrô deve ficar atent@ a esses rostos e nomes, são sinônimos de INsegurança para quem sofre seus preconceitos. Medidas legais já estão sendo tomadas, mas enquanto isso essa carta precisa circular, junto com os vídeos, para inibir a prática de violência deles, dar visibilidade a essas questões e reforçar a necessidade de que eles sofram alguma medida administrativa.


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