Quando o assunto é transporte público de má qualidade fica evidente que o usuário mais comum é o morador de bairros periféricos. Quando se fala em violência policial, hospitais lotados, moradia precária e falta de saneamento básico, as vítimas continuam sendo as mesmas pessoas. Por esses e outros motivos é que a periferia resolveu descer do morro para o asfalto de forma conjunta para reivindicar melhorias nos serviços públicos localizados.
Aproveitando o calor das manifestações que explodem no país inteiro, o momento não poderia ser melhor. De meados para o fim de junho, milhares de pessoas ligadas a movimentos populares e culturais se juntaram aos trabalhadores e saíram às ruas do Campo Limpo, de Guaianazes e do Capão Redondo. O Movimento Passe Livre (MPL), que iniciou as manifestações pela redução da tarifa em São Paulo, também esteve presente nas manifestações.
"Com a ida às periferias, os movimentos e os trabalhadores ganham força, conscientização e clareza de objetivos, de amigos e inimigos, para voltar ao centro da cidade e tomar as ruas de forma mais coesa, com maior unidade entre seus dirigentes e com mais firmeza de suas exigências", avalia Helena Silvestre, do Movimento Luta Popular.
Neofascistas
Entretanto, além dos problemas enfrentados cotidianamente nas periferias, um outro agravante fez com que as pessoas e os movimentos populares se unissem ainda mais. No dia 20 de junho, durante o ato comemorativo do MPL na avenida Paulista, movimentos sociais e partidos de esquerda foram duramente expulsos à pancadaria por grupos de skinheads, considerados pelos movimentos como "neofascistas". O que era para celebrar a vitória pela redução das tarifas do transporte público, terminou em agressividade e violência.
Diante desse episódio que abalou as organizações populares, dois dias depois foi convocada uma reunião no Sarau da Cooperifa, na zona sul de São Paulo. Artistas, lideranças comunitárias, militantes de coletivos culturais e movimentos sociais das periferias se reuniram para discutir o atual cenário político do país, avaliado pelos presentes como imprevisível e alarmante.
Ruivo Lopes, integrante do coletivo Perifatividade, que realiza saraus na zona sul da capital paulista, participou da reunião. Ele ressaltou a importância de a periferia se organizar ainda mais em momentos como esse.
"Através das diversas atividades que são realizadas pelos grupos da periferia, a gente reforça durante as nossas atuações para não dar qualquer espaço para que nazifascistas se aproveitem da situação", declara.
E, realmente, não tiveram espaço. Milhares de pessoas tomaram às ruas nos últimos dias de junho de forma pacífica, bloquearam avenidas e gritaram pelos seus direitos.
Seguir na luta
Após o ato realizado no dia 25 de junho pelos movimentos sociais e culturais das periferias, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), se reuniu com integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e do movimento Terra Livre. Foram discutidas questões como moradia, transporte e reajuste do auxílio-moradia.
Durante uma coletiva de imprensa, o governador anunciou que reajustará o valor do auxílio de R$ 300,00 para R$ 400,00.
"Vamos igualar o benefício para os moradores da região metropolitana, onde o aluguel é mais caro", explicou.
Presente na reunião, Thais Miranda, integrante do movimento Terra Livre, considera que, apesar do avanço no diálogo, só aumentar o bolsa aluguel é uma medida paliativa.
"Mas isso tem que servir pra gente seguir na luta. As pessoas estão com esse sentimento que só a luta muda a vida. Isso tem que servir para a gente seguir o nosso trabalho de base", diz.
Outras manifestações nas periferias estão marcadas para as próximas semanas.
Foto: Outras Palavras/Periferia Ativa.