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100713 liberdadeBrasil - Outras Palavras - [Anna Carolina Iunes] Manifestações espalharam-se pelo país e chegam ao Rio dia 27. Sua pauta, que valoriza liberdade sexual, representará um passo a mais na luta por igualdade de gêneros?


Uma saia curta não é convite para estupro, um corpo bonito não é motivo para cantadas grosseiras. Segundo dados da ONU, aproximadamente uma em cada cinco mulheres será vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida. O número de assédios sexuais está ligado à cultura machista e patriarcal que promove o pensamento da mulher como alguém inferior – além de fomentar ideias como a não liberdade sexual ou a criminalização do aborto. O movimento feminista tem o papel de desconstrução do comportamento sexista, com o objetivo de uma vivência mais igualitária. Apesar de ter raízes no século XIX, o feminismo teve seu ápice nas décadas de 1960 e 70, e agora retorna com movimentos por todo o mundo, tendo a “Marcha das Vadias” como um deles.

“Se ser livre é ser vadia, então eu sou vadia” – uma fala impactante, e que carrega um grito por liberdade e igualdade. A declaração é uma resposta: em janeiro de 2011, na Universidade de Toronto, Canadá, o policial Michael Sanguinetti, ao falar sobre abusos sexuais, comentou “as mulheres deviam evitar se vestir como vadias, para não serem vítimas”. O argumento de Sanguinetti teve repercussão mundial e como reação surgiu a “Marcha das Vadias”. O movimento se espalhou no mundo e por todo o Brasil. No caso do Rio de Janeiro, a Marcha, que ocorre em Copacabana, reuniu 300 pessoas em 2011 e cerca de 500 em 2012, segundo a Polícia Militar.

Não há líder, partido e nem um centro organizacional. As reuniões são feitas regularmente em locais diversos: a sala de uma faculdade, uma praça ou, até mesmo, um bar. São divididas comissões – segurança, comunicação, artes e manifesto – assim, há divisão de tarefas sem hierarquização de poder. É um movimento aberto – abarca pessoas de todas as cores, sexualidades e gêneros. Qualquer um pode participar da parte organizacional e da marcha em si, o contato é feito através da página online. No Rio de Janeiro, ocorrerá, este ano, em 27 de Julho e a expectativa da organização é que aumente o número de pessoas.

Ana Carolina Brandão, 24 anos, formada em Direito pela UFF, faz parte do movimento desde 2011 e vê a Marcha como uma responsável por renovar e ampliar o feminismo. Atualmente, luta-se pela laicidade do estado, regulamentação da prostituição, legalização do aborto, descriminalização de gênero e por mais liberdade sexual do indivíduo, sobretudo da mulher que é moralmente julgada quando exerce sua sexualidade livremente. De Aracaju, Bárbara Moura, 24 anos, explicou que a Marcha desse ano ocorrerá no mesmo dia e local da peregrinação de fiéis católicos pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e afirma não ser uma provocação: “A Jornada tem objetivos contrários ao nosso movimento. Eles pretendem distribuir fetos de plástico e desconstruir toda uma luta pela descriminalização do aborto.”.

A Marcha vive, constantemente, um combate ideológico. O termo “vadia” assusta à primeira vista e muitos acabam por não compreender a verdadeira motivação ideológica. Tobias Abdalla, aluno da PUC-Rio, fortemente católico e não ligado aos ideais feministas, pensa como um movimento de prostituas e travestis que apenas ambiciona o fim da violência com os mesmos e almeja o nudismo como uma prática livre. Há também fortes setores com pensamentos opostos: como a Frente Parlamentar Evangélica ou a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) presidida pelo pastor, abertamente homofóbico e racista, Marco Feliciano. O movimento tornou-se um espaço de fala, de argumentação com os ideais machistas tão intrínsecos e reafirmados, o tempo todo, na sociedade. É como define Gabriela da Fonseca, 25 anos, estudante de História pela UFF e integrante da Marcha: “Vivemos pequenas violências diariamente que não nos deixam ser plenas. A Marcha das Vadias é onde podemos reivindicar nossos direitos e expor nossos pensamentos.”.

A Marcha do Rio de Janeiro conta com o apoio do movimento de outras cidades próximas: Viviane Faria pesquisadora de 36 anos, veio da Marcha da Baixada Fluminense, canta letras de funk que ela mesma compôs, sempre colocando o papel da mulher em foco; vê o funk como uma forte manifestação cultural de ideais feministas – mal elaborados, muitas vezes.

Além da presença de outras cidades, há também, na Marcha carioca, a expressão da luta de transexuais e prostitutas por direitos iguais e respeito. Indianara Siqueira, transexual de 42 anos e prostituta por opção desde os 18, é símbolo dessa luta; foi a responsável pelo fim da “cafetinagem” em Copacabana, diminuindo a exploração de mulheres no local. Indianara já morou na Europa e foi presa na França por ter dado abrigo a prostitutas que estavam em regime desumano de trabalho. Hoje se dedica à regulamentação da prostituição.

O movimento cresce, e cresce junto dele a conscientização. A Marcha é um ícone do feminismo atual: pretende muito mais do que só queimar sutiã em público: empenhar-se para construir — e conquistar — uma vivência igualitária de direitos e condições de vida.


Anna Carolina Iunes estuda cinema na PUC-Rio.


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