Carolina Stary, que participou da marcha das vadias, em SP, publicou em sua página dofacebook um relato sobre a resposta que ela enviou aos amigos de seu irmão que se indignaram com os pelos debaixo do braço dela, esse foi o texto publicado por Carol:
"Uns amigos muito bacanas do meu irmão viram as minhas fotos na marcha das vadias e questionaram ele a respeito, eu mandei uma resposta pros meninos que ficaram chocadíssimos com meus pelos debaixo do braço:
Eu vou tentar explicar do jeito mais simples pra vocês entenderem do que se trata: eu não faço distinção de gênero (masculino x feminino).
Quem tem as rédeas da minha própria vida sou eu, E SÓ EU, não nenhuma condição pré-existente (do tipo ter nascido com um útero ou um pênis – ou com a pele branca ou preta) ou nem nenhuma condição imposta por qualquer tipo de micro ou macro poder (“Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim para me governar é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo.” — Proudhon).
Esperar um determinado comportamento de alguém baseado no par de cromossomos que ele carrega é meio tosco, cês não acham não? Esperar que um ser humano de cromossomos XX goste de rosa e de lavar roupa, ou que seja delicado, menos racional, passivo, submisso, dependente e frágil - NÃO FAZ SENTIDO - e devia ser tão condenado quanto racismo, já que a lógica é a mesma.
QUEM DECIDE SOU EU, NÃO MEUS CROMOSSOMOS. E se o que chocou tanto a cabecinha pequena de vocês foram os pelos debaixo do meu braço, EU TENHO PELO NAS PERNAS E NA BUCETA TAMBÉM, e quem decide se eu vou me mutilar todo mês arrancando eles fora SOU EU E MAIS NINGUÉM. Quem decide com quem eu quero transar SOU EU, eu não vou topar só pra você gozar. Quem decide se eu quero ter um filho SOU EU, não você ou o Estado que diz que é crime abortar.
Quem decide que roupa eu vou usar SOU EU, não mídia nenhuma (fica a dica que querer parecer a capa da Zupi É TÃO IMBECIL quanto querer parecer o personagem da novela da Globo – é a pressão do consumo atuando em você do mesmo jeito). Deu pra sacar? Eu posso continuar dando exemplos ad infinitum. Diferenciar portadores de úteros e pênis só faz com que um deles seja oprimido, e na nossa sociedade patriarcal o oprimido é quem carrega um útero. Recebe salário menor, tem jornada tripla (trabalho, filhos e casa), precisa censurar o próprio corpo pra ter MENOS chances de sofrer um estupro, sofre agressões TODOS OS DIAS (“foi só um empurrão”, “foi só um tapa”) dos parceiros, e mais uma porrada de coisas.
EU SOFRO PRESSÃO TODOS OS DIAS POR CORTAR O CABELO E NÃO CORTAR OS PELOS, ou vocês acham que não? Mas frente a TODAS as violências que as mulheres sofrem, EU FAÇO QUESTÃO de continuar assim. Não só porque é um exercício de liberdade de escolha, mas também porque é RESISTÊNCIA de quem NÃO concorda com as outras práticas que o sexismo desencadeia.
Agora, pra terminar... eu ouvi que um dos gênios aí queriam me convencer a me depilar. TENTA ME CONVENCER DE QUE O CORPO NÃO É MEU, por favor, que eu quero MUITO ouvir sua argumentação. Ps: como eu sei que vocês não estão familiarizados com a idéia de pós-gênero, eu usei o português comum na escrita. Mas quando se fala em não diferenciação dos gêneros se usa x ou o @ no lugar do o e do a. Do tipo “elx foi a marcha dxs vadixs”, pra que fique claro que não é ele ou ela, mas sim elx."
A marcha aconteceu nesse sábado 26/05, com a presença de centenas e participação do grupo - bateria autônoma - (que também batucou na Marcha da Maconha)
A marcha atingiu também o tema ’liberdade de expressão vs censura do facebook’ que retirou 3 fotos da manifestação que mostravam soldadxs mostrando os seios.