Publicidade
Publicidade
first
  
last
 
 
start
stop
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (2 Votos)

010813 froebel escola antiga 2Brasil - PGL - [José Paz Rodrigues] Ainda me lembro do grande sucesso que eu tive numa entrevista que me fizeram há anos na TVG, quando comentei, e continuo a manter hoje essa opinião, que era muito mais importante para a nossa sociedade o trabalho desenvolvido por uma mestra de escola infantil que o de um catedrático de universidade. A seguir, os muitos docentes, ex-alunos e alunos meus, depois de verem a entrevista que fora gravada antes e emitida posteriormente, telefonaram-me para dar-me os parabéns.


 

Mas o que mais me alegrou foi receber as chamadas de muitas mestras da pré-escola que me conheciam, algumas de verdadeira categoria no seu labor pedagógico nas suas escolas infantis. Durante muitos anos fui docente de Didática na Escola Normal e na Faculdade de Educação de Ourense, e sempre quis ensinar aos alunos e alunas da especialidade de educação infantil. Porque continuo a considerar o nível educativo de infantil (0 a 6 anos) como o mais importante de todos os níveis educativos. Durante os seis primeiros anos de vida das crianças é quando se sentam as bases fundamentais para a vida futura das pessoas. Nestes primeiros anos sucedem cousas muito importantes na evolução física e psíquica das crianças: a psicomotricidade, a adquisição da linguagem, a identificação com o pai do mesmo sexo, a adquisição de hábitos positivos (ou, infelizmente, negativos), o desenvolvimento de todos os sentidos e as perceções (visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil, térmica), a adquisição das coordenadas espácio-temporais e as primeiras socializações, ademais de ser o momento para conseguir a maturidade tão necessária para iniciar depois a aprendizagem das disciplinas instrumentais: ler, escrever e calcular. Bem levada, com uma didática adequada, a educação infantil, centrada especialmente na atividade mais importante na infância, que é o jogo, é fundamental para a formação dos rapazes e para o seu futuro na idade adulta. Tendo presente, também é certo, que os erros educativo-didáticos que se possam cometer nesta etapa têm mais repercussão na formação dos jovens que os cometidos em etapas educativas posteriores. Daí o importante que é ter mestras de infantil bem formadas psicológica e pedagogicamente inicialmente e durante o seu exercício profissional, para que desenvolvam nas suas aulas um labor didático acertado e o mais impecável possível. Sempre com alegria e entusiasmo, entendendo bem que cada criança tem a sua própria psicologia.

Embora fosse o escocês Robert Owen (1771-1858) o criador na localidade de New Lanark, no ano 1816, da primeira escola infantil do mundo, pensada especialmente para os filhos dos operários da indústria, todos os especialistas da educação consideramos que o verdadeiro criador foi o grande pedagogo germano Friedrich Froebel (1782-1852), ao fundar em 1837 uma escola infantil, à qual deu em 1840 o acertado nome de “Kindergarten”. Por isso, Froebel está considerado como o autêntico criador dos “Jardins de Infância” (Jardim-Escola), pois foi ele o primeiro em usar esta denominação e terminologia. Ao considerar, com uma grande intuição pedagógico-didática, que as crianças eram como as plantinhas de um jardim, cujo “jardineiro” seria a mestra ou mestre especializado nesta etapa educativa. E nenos e nenas há que tratá-los com a maior delicadeza, com alegria e amor, com sensibilidade e atenção, como tratamos as árvores pequenas, as plantas e as flores. Os métodos, jogos (denominados “Dons” pelo pedagogo), recursos didáticos e estratégias educativas usadas por Froebel no seu primeiro “Kindergarten” tiveram uma grande influência em todo o mundo ocidental, e provocaram a criação de escolas infantis similares na Europa e nos EUA. Em 2009, K. Lally realizou para o College of Education Froebel de Dublín (Irlanda) uma interessante curta-metragem intitulada “Froebel, Then and Now” (Froebel Ontem e Hoje). Já em 2011, com roteiro e apresentação da pedagoga brasileira Alessandra Arce, a produtora do Brasil Atta Mídia e Educação filmou um documentário, na coleção grandes educadores, intitulado Friedrich Froebel, de 44 minutos de duração. É este o filme-documentário que serve para o meu segundo artigo de As Aulas no Cinemadedicado à série sobre os grandes educadores do mundo. Neste caso a Froebel, de quem o passado 21 de abril se cumpriram os 231 anos de seu nascimento.

Ficha técnica do filme-documentário:

Título original: Friedrich Froebel.

Produtora: Atta Mídia e Educação (Brasil, 2011, 44 min., a cores e a preto e branco, documentário).

Editora: Paulus Editora. Coleção: Grandes Educadores.

Roteiro e Apresentação: Alexandra Arce (Mestra em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, pós-doutora em Filosofia e História da Educação pela Unicamp. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de São Carlos e coordenadora do curso de Pedagogia. Considerada como a maior especialista do Brasil sobre Federico Froebel, e também sobre outros grandes educadores do mundo).

Argumento: Friedrich Froebel é conhecido como o criador dos jardins de infância. Mas poucos percebem que os seus conceitos e práticas criados no século XIX embasam grande parte do cotidiano e das atividades das escolas de educação infantil hoje, como os trabalhos manuais (alinhavo, desenho, modelagem, pintura), a música na hora do lanche e a presença das formas geométricas. Neste programa, Alessandra Arce, uma das maiores especialistas em Froebel no país, aborda a influência do contexto histórico sobre os conceitos desse pensador e explica a fundamental contribuição contida no legado pedagógico do educador prussiano, construtor da psicologia da infância.

Conteúdos do Documentário: Contexto histórico / a “Era das Revoluções”. Biografia. Unidade vital: Deus, natureza e homem. Interiorização e exteriorização. Ação e pensamento. Educação sectória. Autoeducação livre. A família. Jardim de infância. Trabalhos manuais, jogos / Os dons. Autogoverno e disciplina. A natureza como modelo. Froebel: um legado fundamental.

 

O modelo educativo dos "Kindergarten":

1.- Friedrich Froebel (1782-1852), o pedagogo: Reformador educacional de primeira grandeza, professor universitário, com experiência em trabalhos práticos, enfatizou a importância da criança, destacando as suas atividades estimuladas e dirigidas. A grande contribuição de Froebel à educação reside em seus estudos e aplicações práticas acerca dos Jardins de Infância, dos quais é considerado o iniciador. Segundo Paul Monroe “A escola, para Froebelé o lugar onde a criança deve aprender as cousas importantes da vida, os elementos essenciais da verdade, da justiça, da personalidade livre, da responsabilidade, da iniciativa, das relações causais e outras semelhantes, não as estudando, mas vivendo-as”. Para que tal vivência ocorra, Froebel considera de muita importância o brinquedo, o trabalho manual e o estudo da natureza, enquanto processos espontâneos na criança e, ao mesmo tempo, meios educativos. Partindo dos interesses e tendências inatos na criança para a ação, o jardim de infância deve ajudar os alunos a expressarem-se e a desenvolverem-se, baseando-se na autoatividade. A aquisição de conhecimentos está em segundo plano, subordinado ao crescimento através da atividade. O gesto, o canto e a linguagem são as formas de expressão de sentimentos e ideias apropriadas à educação infantil. A história contada pela mestra, por exemplo, deve ser expressada pela criança “não somente na sua própria linguagem, mas por meios de canções, representações, figuras ou construção de objetos simples com papel, barro ou outro material adequado. Deste modo as ideias são olhos treinados, os músculos coordenados, e a natureza moral fortalecida pelo esforço para realizar, em forma concreta e objetiva, os motivos superiores e os sentimentos despertados”, continua dizendo Monroe, ao falar da pedagogia froebeliana. A mais luminosa ideia com que Froebel contribuiu para a Pedagogia moderna foi a de que o ser humano é essencialmente dinâmico e produtivo, e não meramente recetivo. O homem é uma força autogeradora e não só uma esponja que absorve conhecimento do exterior. O objetivo do ensino é sempre extrair mais do homem do que colocar mais e mais dentro dele. A criança não deve ser iniciada em nenhum novo assunto enquanto não estiver madura para ele. Educação para Froebel é um processo pelo qual o indivíduo desenvolve a condição humana autoconsciente, com todos os seus poderes funcionando completa e harmoniosamente, em relação à natureza e à sociedade.

Na sua obra A educação do homem (1826) Froebel dá a sua definição própria ao dizer: "A educação é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve a condição humana, com todos os seus poderes funcionando com harmonia e de forma integral, em relação à natureza e à sociedade. Além do mais, era o mesmo processo pelo qual a humanidade, como um todo, elevando-se do plano animal e continuaria a desenvolver-se até sua condição atual. Implica tanto a evolução individual quanto a universal. Por meio da educação, a criança vai-se reconhecer como membro vivo do todo”.

 

2.- A didática do Jardim de Infância Froebeliano: Froebel foi o primeiro educador a utilizar o brinquedo, como atividade, nas escolas; as atividades e os desenhos que envolvem movimento e os ritmos eram muito importantes. Para a criança passar a conhecer-se, o primeiro passo seria chamar a atenção para os membros do seu próprio corpo, para depois chegar aos movimentos das partes do corpo. Os blocos de construção, chamados de materiais específicos, eram usados pelas crianças nas suas atividades criadoras. Trabalhava-se com outros tipos de materiais, como: papel, papelão, argila e serragem.

Froebel idealizou recursos sistematizados para as crianças se expressarem, dando o nome de "dons", jogos ou brinquedos. Os chamados "dons" eram a bola, o cubo e o cilindro. Os blocos eram utilizados numa medida bem restrita, enquanto as demais atividades eram mais livres. No período da infância, dos seis ou sete anos aos nove ou dez anos, a instrução e a preparação para a firmeza da vontade eram valorizadas. As atividades construtivas eram bem variadas e cada menino cuidava do seu próprio jardim, passando para atividades comunitárias com dous ou mais meninos. Nesta fase, os brinquedos possuem uma caraterística mais intencional porque contribui para a formação das qualidades morais. As histórias, os mitos, as lendas, os contos de fadas e as fábulas tinham um enorme valor para Froebel. Enquanto os brinquedos físicos davam força e poder ao corpo, as histórias desenvolviam o poder da mente. As excursões a montanhas e vales eram semanais na sua escola. Na sua opinião, a natureza tinha um enorme poder para auxiliar o menino a compreender a si mesmo e aos outros.

Froebel, valorizava muito a família, abrangendo a função familiar aos planos biológico, social e educacional. Foi o primeiro educador a captar o significado da família nas relações humanas. Ele observava muito a maneira de agir das crianças e chegou à conclusão de que elas se valiam de símbolos na hora de brincar. Exemplo: Um taquinho de madeira podia ser um determinado animal, ou até mesmo, uma boneca. Baseando-se nisso, Froebel sentia uma atração especial pelo simbolismo.

Resumindo sobre a didática específica froebeliana podemos sintetizar que, segundo ele: “A educação baseia-se na evolução natural das atividades da criança; as atividades espontâneas adquirem um desenvolvimento verdadeiro; na educação infantil o brinquedo é fundamental para conseguir integrar o crescimento de todos os poderes: físico, mental e social; a atividade construtivista pode causar uma grande harmonia e espontaneidade no controlo social; os currículos das escolas devem estar baseados nas atividades e interesses desde o nascimento e em cada fase da vida infantil; a humanidade ainda está em processo de desenvolvimento, e a educação ainda é a melhor solução para um futuro melhor; o futuro desenvolvimento dos povos depende exclusivamente da educação das mulheres; o saber não se resume num fim em si mesmo, mas funciona relacionado com as atividades do organismo”. Eis os princípios didáticos froebelianos fundamentais.

 

Em essência a pedagogia do Jardim de Infância froebeliano pode sintetizar-se no seguinte: caracteriza-se por, atividades como: canto, jogos, pinturas, palestras, jardinagem, modelagem, olhar gravuras e ouvir histórias. Froebel criou um material pedagógico muito rico: os “dons” e as “ocupações”, constituído por sólidos geométricos, gravuras coloridas, trabalhos manuais que consistiam em exercícios sensoriomotores, como pintura, desenho, recorte, colagem, tecelagem, bordados, etc.; utilizando alguns princípios fundamentais para o processo de ensino da criança: autorrealização e autoatividade, pois a compreensão das cousas da vida, na prática, é mais frutífera e formativa que a simples compreensão teórica; tomando como finalidade básica a realização plena das potencialidades do eu interior, por meio do empenho em se trabalhar um ser livre, independente e disciplinado; um ambiente para propiciar o desenvolvimento máximo das crianças e a sua integração social, tendo em conta que a natureza deve fazer parte do espaço, estimulando os interesses infantis ao proporcionar a vontade de realização de novos trabalhos; atividades a base de desenho e ações que envolvem o movimento e os ritmos, bem como a valorização de histórias, mitos, lendas, contos de fadas e fábulas. Além disso, outro princípio fundamental são os jogos, como imitações da vida e dos seus fenómenos, ou são emprego do ensinado, da escola, ou são livres imagens e manifestações do espírito, de toda a espécie e em matéria de toda a classe, segundo as leis contidas nos objetos e matérias do jogo, investigando aquelas, seguindo-as e submetendo-se às mesmas, segundo as contidas no homem mesmo, no seu pensamento e sentimento.

A avaliação para Froebel deveria ser feita analisando dous aspetos: como a criança realiza as suas atividades enquanto pessoa dentro de um contexto social e como a criança usa os materiais para efetivar as atividades. Quanto à relação mestre-aluno, compara o aluno com uma planta e o docente como mãe ou jardineiro. É necessário acompanhar o desenvolvimento da criança, fazer-se presente, cuidar e proporcionar as melhores condições de crescimento, através do afeto, a amizade e uma relação construtiva, humana e justa.

Sobre os materiais pedagógicos idealizou recursos sistematizados para as crianças se expressarem: blocos de construção que eram utilizados pelas crianças nas suas atividades criadoras, papel, papelão, argila e serragem.

Também destaca os dons que eram bola, cubo e cilindro, os blocos eram utilizados numa medida bem restrita, enquanto as demais atividades eram mais livres. Todos os jogos que envolvem os dons sempre começavam com as pessoas formando círculos, dançando, movendo-se e cantando. Importante destacar que antes de iniciar o trabalho com os dons era feita uma preparação do corpo das crianças. Os exercícios propostos eram acompanhados de música cantada e logo após a mestra questionava cada aluno explorando as caraterísticas do dom em questão.

No trabalho pedagógico desenvolvido nos Jardins de Infância, apesar dos dons representarem a atividade central, havia atividades manuais que complementavam estas ocupações, como atividades que envolviam as continhas,

entrelaçamento, dobradura, modelagem, tecido, picado, desenho, mosaico, tecelagem, botões, costura, alinhavo. O objetivo destas atividades era levar a criança a adquirir destreza e desenvolver forças e aptidões.

Temas para refletir e realizar:

Depois de olhar o documentário, organizar um debate-papo ou tertúlia, sobre os diferentes aspetos que sobre a figura de Froebel aparecem no mesmo. Refletir sobre o seu pensamento educativo e comentar, dando alternativas concretas, sobre como se poderia pôr em prática hoje nas nossas escolas infantis a didática prática froebeliana. Poderia pesquisar-se também na Internet sobre as escolas que hoje funcionam no mundo seguindo a pedagogia de Froebel, e também os estabelecimentos de ensino que levam o seu nome, alguns no Brasil e outro, por exemplo, na cidade galega de Ponte Vedra.

Elaborar uma monografia ou roteiro, consultando livros e a Internet, sobre os diferentes modelos didáticos para a escola infantil, postos em prática em diferentes lugares e escolas pelos grandes educadores da Escola Infantil.

Aproveitar para fazer um estudo comparativo, com o do próprio Froebel, dos modelos de Robert Owen, Maria Montessori, Rosa e Carolina Agazzi, Ovídio Decroly, Celestin Freinet (com as suas técnicas didáticas para o infantário), Clotilde Guillén de Rezzano, Inés Cordeviola de Ortega, Tagore (incidindo na sua colaboradora montessoriana em Santiniketon, a judia Sholomit Flaum), Andrés Manjón, Pablo Montesino e Aurora Medina.

Construir e elaborar para as nossas escolas infantis, recursos didáticos tipicamente froebelianos, como os seus “dons”, que eram em concreto dez, para que as crianças pudessem adquirir os conceitos de: cor, forma, número, extensão, simetria, proporção, superfície, linhas, pontos e criação ou reconstrução. Depois, com o material elaborado pode organizar-se nos centros uma mostra-exposição do mesmo. Que poderia completar-se com cartazes, desenhos, fotos, frases, textos dos rapazes e autocolantes relacionados com Froebel.


 

 

 

José Paz Rodrigues é académico da AGLP, didata e pedagogo Tagoreano.

 

 

 

 


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

first
  
last
 
 
start
stop

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.