Joaquim Levy, ministro da Fazenda. Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil (CC BY-NC-SA 2.0)
A balança comercial brasileira registrou um superávit acumulado, até o mês de outubro, de quase US$ 12,5 bilhões. Aparentemente, poderia pensar-se que se trata de uma grande vitória, principalmente se comparada com o déficit de quase US$ 2 bilhões que aconteceu no mesmo período do ano passado.
Mas a ilusão de que há motivos para comemorar se dissipa quando vemos a “Pirro” em ação. Pirro foi um general da Antiguidade que comemorou uma vitória onde quase tinha perdido o seu exército.
As contas do Brasil se encontram numa situação muito dramática por causa do aprofundamento da crise capitalista. O Brasil se tornou um dos “pioneiros” em termos de adiantar o que se tornará a norma em escala mundial. Para o próximo período está previsto um novo colapso capitalista mundial de proporções gigantescas.
A política do governo do PT é de uma assombrosa capitulação à direita em nome da governabilidade. Apesar de não ser suficiente para os abutres imperialistas, o governo Dilma aplica um “plano de ajustes” de ampla escala contra os trabalhadores. Esse governo aparece, cada vez mais, como apenas um espantalho para que a direita, que atua cada vez menos nos bastidores, tente salvar os lucros dos capitalistas jogando o peso da crise sobre os trabalhadores.
Por que houve superávit comercial
O superávit comercial até o mês de outubro tem como base dois fatores principais. Em primeiro lugar, o aumento das vendas de matérias-primas agrícolas, como a soja, o milho, o arroz e várias outras. O chamado agronegócio, que implica na produção ultra depredadora e na comercialização especulativa, significa a volta do Brasil à época da Colônia, na devastação da agricultura, do despovoamento do campo. O “agronegócio” é a aliança entre os latifundiários, o setor mais reacionário da burguesia brasileira e os monopólios. A força deste setor levou à hiper reacionária Kátia Abreu ao Ministério da Agricultura. A capitulação do governo do PT é tão grande que para garantir a “governabilidade” vende até a própria mãe. E a reforma agrária? Bom, ah sim. Se encontra do pior nível histórico.
O segundo fator que explica a “vitória pírrica” foi a enorme queda nas importações por causa da crise, em 22,5%. A desaceleração da indústria brasileira por causa do direcionamento da economia para meia dúzia de matérias-primas tem levado à disparada das importações e a exposição cambial aberta do país. Portanto, a queda simplesmente indica o aprofundamento da crise capitalista no país. Entre outros sintomas, o fluxo cambial, no mês de outurbo, registrou um fluxo negativo de US$ 3,5 bilhões. E ainda mais, o fluxo financeiro (excluindo o comércio), neste ano, acumula quase US$ 10 bilhões.
De acordo com José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação do Comércio Exterior do Brasil) se, no início do ano, o Brasil importava mais de US$ 800 milhões ao dia, o volume foi caindo até a média atual de US$ 500 milhões.
As exportações também caíram por causa da crise mundial, mas em “apenas” 15,3%. A chamada “corrente de comércio”, que contempla todas as transações comerciais, caiu em quase 20%. A participação do Brasil no mercado mundial deverá cair neste ano de 1,19% para 1%.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.