Brasil: crise passageira ou na direção da recessão profunda?
A economia brasileira já está em recessão. A direita avança sobre a Petrobras na tentativa de entregá-la para os monopólios. Os ataques orquestrados pelo imperialismo na América Latina buscam derrubar os governos nacionalistas, como o governo do PT, com o objetivo de endurecer o regime e possibilitar a escalada dos ataques contra as massas.
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Mas a evolução da situação econômica e política no Brasil está longe de se encontrar numa redoma de vidro. A crise avança em escala mundial a passos largos. Os "anabolizantes", o dinheiro a custo zero ou até negativo, que os bancos centrais repassam para as grandes empresas não tem conseguido conter a recessão que já atingiu a Alemanha e o Japão, as duas principais potências industriais.
Todas as tentativas de contenção da crise têm fracassado desde 2008. As últimas tentativas "de grande porte" no sentido de promover o crescimento econômico foram feitas por François Hollande na França, mas ele próprio acabou desistindo em pouco tempo e se tornou um dos impulsionadores dos programas de austeridade. Aliás, austeridade somente para as massas, pois, na realidade, se trata da tentativa de salvar, a qualquer custo, os lucros da especulação financeira, o coração do sistema capitalista mundial.
O que significam os cortes no orçamento público?
O governo federal anunciou, recentemente, cortes por quase R$ 70 bilhões no orçamento. As Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665 foram aprovadas nas câmaras dos Deputados e dos Senadores, mas aumentaram o descontentamento em vários parlamentares da base de apoio ao governo. Os cortes mais violentos serão nos programas sociais, seguro-desemprego, pensão e aposentadoria. Nada foi tocado, nem sequer falado, sobre a ultra podre e fraudulenta dívida pública, por exemplo. Enquanto a pressão do imperialismo sobre o seu "quintal" aumenta, o governo brasileiro e a burguesia se encontram em estado de completa perplexidade perante o avançado contágio da crise capitalista no Brasil.
Antes mesmo de ter finalizado a tramitação no Congresso do novo pacote fiscal, anunciado no final do ano passado, a Receita Federal já anunciou que aumentará os impostos. A arrecadação em abril foi a pior do mês, nos últimos cinco anos, com queda de 4,62% em relação ao passado. A arrecadação do IPI (Imposto sobre os Produtos Industrializados) caiu 5,32%; sobre o CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) caiu 18,4% e sobre a Contribuição Previdenciária caiu 2,26%. As desonerações fiscais somaram R$ 9,1 bilhões e a arrecadação dos primeiros quatro meses do ano combinados caiu 2,71%.
A demagogia sobre a suposta blindagem, baseada nas reservas soberanas e o fundo bancário (depósito compulsório dos bancos), faz parte do folclore do passado, quando a lenda tinha como base o alto preço das commodities.
Todos os planos implementados pelo governo do PT, a começar pelas isenções de IPI para a linha branca, de novembro de 2012, não conseguiram mais que arrancar alguns suspiros a mais do falido capitalismo tupiniquim, garantindo as taxas de lucro dos capitalistas, disparando o endividamento público e repassando o peso da crise para os trabalhadores por meio da erosão inflacionária e o arrocho salarial. As medidas têm sido baseadas na implementação ainda mais profunda das políticas neoliberais – uma adoção em larga escala do programa da direita. O motivo? A completa falta de alternativas, de base material para implementar uma política que as substituam.
Enquanto a crise aumenta no Oriente Médio e na Europa, e as contradições com as potências regionais e as demais potências imperialistas se aprofundam, o imperialismo norte-americano tenta salvar os lucros dos monopólios aumentando o aperto na América Latina.
Alejandro Acosta está atualmente na Rússia cobrindo os acontecimentos geopolíticos na região como jornalista independente.