Foto de Frank Junger (CC3.0) - Ricardo Salgado dirigiu o BES por 23 anos.
Depois de a RTP anunciar a possível auditoria forense desenvolvida pela Deloitte ao Montepio Geral, a pedido do Banco de Portugal, o próprio banco confirmou ontem a existência das ditas pesquisas, estando esse processo relacionado com a ligação ao Grupo Espírito Santo e procurando eventuais irregularidades.
Este novo capítulo acontece poucos dias após a nacionalização do Banco Espírito Santo (que, em verdade, foi a nacionalização das perdas da entidade, definitivamente forçada pelo próprio Banco Central Europeu), e dá continuidade ao escándalo.
A auditoria ao Montepio Geral terá sido iniciada a 25 de julho, com uma listagem de tarefas designadas pelo próprio Banco de Portugal, que visa uma série de clientes da instituição, incidindo nos anos de 2009, 2010 e 2011.
Segundo a RTP a exposição do Montepio à queda do BES será de cerca de 150 milhões de Euros, todos eles investidos entre dezembro de 2013 e junho de 2014 -quando o BES já se encaminhava para a falência.
Embora inicialmente o Montepio Geral tentou despejar as questões sobre a eventual auditoria dizendo para a RTP que "as auditorias acontecem com regularidade, todos os anos, com incidências diferentes em anos diferentes e não só são normais como desejáveis", no sábado a entidade teve que admitir uma auditoria na procura de irregularidades.
Entretanto, Salgado prepara defesa
O homem que presidiu o BES ao longo de 23 anos, Ricardo Salgado, está a preparar, entretanto, a sua defesa e está pronto para imputar culpas nos gestores da família, bem como no Banco de Portugal e na própria crise económica. Segundo a imprensa comercial, o burguês tenciona contratar economistas que estudem o impacto da crise financeira no Grupo Espírito Santo (GES), para que fique provado que o grupo e o banco foram contaminados por fatores externos incontroláveis.
Os milhões de europeus e europeias no desemprego, sem moradia, sem dinheiro para pagar eletricidade ou água, e, enfim, com a dignidade como único pertence, não têm advogados para solicitarem suspensão das suas dívidas sob idêntica argumentação.
O calote ultrapassa as fronteiras portuguesas
O calote da nacionalização das perdas do BES não fica apenas em Portugal. Assim, na França, o Representante do Crédit Agricole no BES, que se destaca por ter sido chefe de gabinete do ex-premiê francês, o direitista Sarkozy lucrou com 30 milhões de euros. No final de julho e princípio de agosto, Xavier Musca vendeu 35,8 milhões de euros em ações do BES. Apenas poucos dias depois, curiosamente com pressões do BCE, sabia-se da inviabilidade e nacionalização do Banco.
... e lucro mesmo no escândalo
Mas mesmo a alegada supervisão das irregularidades está a servir para companhias com ética bem conhecida, como a Deloitte, tirarem lucro através dos serviços das diferentes auditorias desenvolvidas. Assim é que funciona a economia neoliberal: lucros privados, perdas públicas. Calotes para o Povo, negócio para o capital.