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200715 lerBrasil - Esquerda Diário - Diante da crise do PT e para que esta crise não seja capitalizada pela direita, é preciso lutar por uma saída classista e revolucionária que possa dialogar com os trabalhadores e a juventude que começam a fazer experiência com esse governo e buscar alternativas.


Com 61 delegados eleitos, 35 deles pertencentes ao movimento operário e 29 delegadas mulheres, o I Congresso do Movimento Revolucionário de Trabalhadores, que impulsiona o portal Esquerda Diário, secionou nos dias 17, 18 e 19 de julho.

Um dos principais debates do Congresso do MRT foram as perspectivas da esquerda brasileira frente à crise do governo Dilma e PT.

Em um dos pontos de discussão a mesa leu a seguinte carta enviada pelo Comitê Central do MRT à direção do PSOL no dia 27 de maio:

“Ligado à desaceleração da economia chinesa e a tendência à migração de capitais estrangeiros para os Estados Unidos, observa-se um desgaste dos governos pós-neoliberais na América Latina, ao mesmo tempo em que se observam crescentes processos de luta da classe trabalhadora e da juventude em distintos países da região. Como vimos nas jornadas de junho de 2013 e na onda de greves no Brasil, nas quatro paralisações nacionais contra o governo de Cristina Kirchner na Argentina, nas lutas estudantis e dos portuários no Chile etc., emergem processos de luta de classes nos quais as aspirações geradas pelo gradualismo dos anos anteriores chocam-se com os limites estruturais de cada país; e as tentativas de retirar as conquistas enfrentam importantes processos de resistência.

A política de ajustes do segundo mandato de Dilma, o agravamento das tendências recessivas, o debilitamento das instituições do regime e em especial do PT em função dos escândalos de corrupção e as greves que vêm atravessando o país localizam o Brasil como país mais instável e dinâmico dessas tendências que percorrem a América Latina.

Entretanto, assim como em distintos países vizinhos o desgaste dos governos pós-neoliberais vem sendo acompanhado pela recomposição de tendências à direita do espectro político, no Brasil vemos a crise do PT desdobrar-se ao mesmo tempo em que o PSDB se fortalece. Assim, nas últimas eleições, o debilitamento eleitoral do PT veio acompanhado de uma importante recomposição eleitoral dos tucanos e de um fortalecimento da direita mais reacionária no Congresso. Essa tendência eleitoral vem se expressando de forma ativa nos primeiros meses de 2015 através dos atos de massas impulsionados pela direita e da tramitação de leis reacionárias como a do aumento da maioridade penal e a que aprofunda as terceirizações, para além das medidas de ajustes impulsionadas pelo próprio governo.

Ainda que o refluxo das manifestações pelo impeachment de Dilma, e a necessidade do governo de negociar e camuflar as medidas de ajuste expressem a vigência da relação de forças aberta em junho de 2013, não está descartada a possibilidade de que, caso a classe trabalhadora e a juventude sejam derrotados nos processos de luta de classes em curso, a crise do PT termine sendo capitalizada pela direita.

Nesse marco, hoje consideramos que os 1,6 milhão de votos recebidos por Luciana Genro nas eleições de 2014 expressaram, ainda que de forma minoritária, parte das aspirações progressistas dos trabalhadores e da juventude que protagonizaram as jornadas de junho de 2013 e as greves que vêm atravessando o país. Essa tendência foi demonstrada pelo crescimento eleitoral que o PSOL teve em algumas das cidades de maior concentração operária do país, nas quais o PT retrocedeu das posições que historicamente ocupou, ainda que o PSDB tenha arrematado a maior parte desse declínio. Consideramos que esse resultado eleitoral localiza o PSOL como um partido que pode expressar crescentemente parte importante das tendências de massas que se desenvolverão à esquerda da crise do PT.

Em base a essa caracterização, e partindo de que o PSOL se define como um partido amplo com liberdade de tendências, e levando em consideração as divergências que temos com cada uma das correntes que o compõe, abrimos no MRT (ex-LER-QI) um debate sobre a possibilidade de entrar no PSOL e, como corrente interna defender nossas ideias revolucionárias fazendo parte desse processo político progressista que consideramos que irá atravessar o PSOL no próximo período.

Tendo em vista que o resultado desse debate vai ser definido de forma soberana em um Congresso da nossa organização que se realizará proximamente, perguntamos a vocês qual a possibilidade de que o MRT (ex-LER-QI) se constitua como uma tendência interna do PSOL”.

Lida a carta, a mesa de abertura relatou ao plenário o conteúdo da resposta oficial da Executiva Nacional do PSOL em reunião com representantes do Comitê Central do MRT no dia 15 de julho. Companheiros da Insurgência, da Ação Popular Socialista (APS) e do Movimento de Esquerda Socialista (MES), tendências internas do PSOL, informaram que antes de março/abril de 2016 seria impossível a entrada do MRT como mais uma tendência interna do PSOL, e que mesmo nesta data uma eventual entrada estará subordinada à aceitação, por parte do MRT, do programa que o PSOL aprovará em seu Congresso que se realizará em dezembro de 2015. Os companheiros também colocaram que, independente da resolução final sobre a entrada ou não do MRT no PSOL como tendência interna, o PSOL concederá sua legenda para que o MRT possa ter candidatos que expressem suas ideias nas eleições municipais de 2016.

I Congresso do MRT foi presidido por Diana Assunção e teve mesa composta por Maíra Machado, conselheira da subsede da APEOSP de Santo André; Francielton Bananeira, delegado sindical do Metrô de São Paulo; Iuri Tonelo, editor do portal Esquerda Diário; Leandro Lanfredi, petroleiro do Rio de Janeiro; Carolina Cacau, do Centro Acadêmico de Serviço Social da UERJ; Vilma Maria, trabalhadora do bandejão da USP e Marcelo Tupinambá, da Direção do MRT

A ampla maioria dos delegados presentes considerou a posição da direção do PSOL incoerente com os ritmos acelerados da situação política no Brasil e a necessidade de construir urgentemente uma alternativa capaz de impedir que a crise do governo Dilma e do PT seja capitalizada pela direita. Distintos delegados consideraram também que tal resposta é contraditória com a trajetória do PSOL de se construir como um partido amplo, aberto a tendências anticapitalistas.

Marcelo Pablito, diretor do Sintusp, defendeu nossa participação no debate programático hoje aberto no PSOL para seu Congresso, pois seria ruim que pudéssemos opinar somente depois que o programa já tenha sido aprovado.

Leandro Lanfredi, petroleiro do Rio de Janeiro, afirmou que essa postura do PSOL não ajuda a que possa ser feito abertamente aos olhos dos trabalhadores, das mulheres e da juventude um debate tão importante sobre qual o caminho a esquerda deve adotar para impedir que a crise do PT seja capitalizada pela direita.

Flávia Vale, professora de Minas Gerais, destacou que os êxitos da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina (FIT, pela sigla em espanhol) mostram a viabilidade de uma estratégia de independência de classe e de enraizamento na classe operária para setores de massa. Por isso, esse deveria ser um projeto legítimo de ser debatido como alternativa aos projetos tipo Syriza na Grécia ou o Podemos no Estado Espanhol.

Diana Assunção, também diretora do Sintusp, ressaltou que o PSOL deveria estar aberto para o MRT e para todo e qualquer setor que defenda ideias revolucionárias e queira unir forças para impedir que a crise do PT seja capitalizada pela direita, pois isso seria o coerente para um partido organizado com liberdade de tendências e que até agora não colocou limites para a entrada de nenhum setor.

Ao final dos debates, com apenas dois votos contrários, o Congresso aprovou a proposta do MRT se constituir como uma tendência interna do PSOL, ao mesmo tempo em que fez um chamado à direção deste partido para que reveja sua decisão informada no dia 15 de julho.


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