Foto: discurso da vitória de Dilma. Por Ichiro Guerra.
Os resultados começaram a ser divulgados quando a apuração das urnas era de 95%, ou seja, ainda havia seis milhões de votos por contabilizar. Com 142.000 milhões de eleitoras e eleitores, a vantagem de Dilma foi de um pouco mais de 3.000.000 (3% dos votos). Ou seja, a mais reduzida nas eleições presidenciais desde o final da ditadura militar (1989), o qual dá ideia de quanto foi polarizado este processo.
Durante a campanha, Aécio Neves, do PSDB – que de social-democrata só tem o nome, já que sua política, muitas vezes, chega a ser fascista - se mostrou arrogante e ultra-reacionário, propondo, entre outras coisas, a redução da maioridade penal para 16 anos. Seus eleitores, que vociferam ofensas às classes oprimidas – apesar de muitos deles pertencerem à essas classes – partiram também para agressões físicas contra militantes e eleitores do PT, o que revela o ódio que essas pessoas têm por qualquer avanço, mesmo que seja mínimo, das classes sociais populares nos últimos 12 anos.
Ódio estimulado pela imprensa capitalista burguesa, que estrapolou todos os limites e fez campanha aberta contra o Partido dos Trabalhadores (PT) e a favor do candidato ultra-reacionário em seus editorias, mas também em suas reportagens, notícias, entrevistas, ou seja, mesmo nas matérias que são consideradas "imparciais".
Esquerda socialista no segundo turno
Neste segundo turno, os partidos da oposição de esquerda se posicionaram a favor do voto nulo, como foi o caso de PCB, PCO e PSTU, ou de uma oposição a Aécio, como o PSOL, mesmo que isso significasse um voto "crítico" à candidata Dilma Rousseff. Entre os movimentos sociais quase todos fecharam com a Dilma. A Via Campesina, que engloba movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o Conselho Indiginista Missionário e a Comissão Pastoral da Terra declararam voto em Dilma. Assim como fizeram os três maiores movimento de luta pela moradia e reforma urbana no país, Brigadas Populares, MTST e MLB.
O crescimento da direita
Diversos fatores podem ter influenciado para quase converter 2014 no ano do regresso da direita neoliberal ao poder no Brasil: do descontentamento de elementos à esquerda, revoltados com algumas das políticas de caráter neoliberal, impulsadas por Dilma Rousseff até à pura manipulação mediática e o descarado monopólio da direita no âmbito comunicativo. Entretanto, abstenção e votos nulos são quase iguais que em 2010, com 21.10% e 4.63%. Descem os votos brancos (de 2.30 para 1.71%).
Ambos serão elementos que deverão entrar na análise pós-eleitoral do PT, que terá pela frente o parlamento (câmara e senado) mais conservador pós-1964.
A necessidade de reformas
Esse desempenho asqueroso da grande mídia revela, além do ódio da burguesia pelos social-democratas petistas, frequentemente chamados de "comunistas" (!) por seus representantes midiáticos mais radicais, a necessidade de uma verdadeira democratização da mídia para que possa ter um equilíbrio maior na opinião pública (que nada mais é senão a opinião da burguesia transmitida através da imprensa corporativa).
Além da democratização da mídia, outra bandeira que une as esquerdas é a reforma política. Atualmente é quase impossível eleger se não recorrer a um dos principais criadores da corrupção, o financimanto privado de campanha. Mês passado, mais de 300 movimentos sociais puxaram um plebiscito e recolheram quase oito milhões de assinaturas para presionar o governo e o congresso para colocar em pauta a reforma política. No discurso de vitória Dilma falou em priorizar essa questão no próximos 4 anos.
Mas só democratização da mídia e a reforma política não basta, há também a necessidade de se fazer reforma agrária, reforma urbana, reforma tributária, auditoria da dívida pública, entre tantas demandas da esquerda e de "Junho", que só poderão ser alcançadas com povo mobilizado nas ruas.
Resultados nos Estados
Com apuração de 100% em todos estados (ou quase) as e os candidatos vencedores foram:
ESTADO | GOVERNADOR/A | ORGANIZAÇÃO | % DE VOTOS |
AC | Tião Viana | PT | 51.29 |
AL | Renan Filho | PMDB | 52.16 |
AP | Waldez | PDT | 60.58 |
AM | José Melo | PROS | 55.55 |
BA | Rui | PT | 55.54 |
CE | Camilo | PT | 53.35 |
DF | Rollemberg | PSB | 55.56 |
ES | Paulo Hartung | PMDB | 53.44 |
GO | Marconi Perillo | PSDB | 57.44 |
MA | Flavio Dino | PCdoB | 63.52 |
MT | Pedro Taques | PDT | 57.25 |
MS | Reinaldo Azambuja | PSDB | 55.34 |
MG | Fernando Pimentel | PT | 52.98 |
PA | Simão Jatene | PSDB | 51.92 |
PB | Ricardo Coutinho | PSB | 52.60 |
PR | Beto Richa | PSDB | 55.67 |
PE | Paulo Câmara | PSB | 68.08 |
PI | Wellington Dias | PT | 63.08 |
RJ | Luiz Fernando Pezão | PMDB | 55.78 |
RN | Robinson Faria | PSD | 54.42 |
RS | José Ivo Sartori | PMDB | 61.21 |
RO | Confucio Moura | PMDB | 53.43 |
RR | Suely Campos | PP | 55.12 |
SC | Raimundo Colombo | PSD | 51.36 |
SP | Geraldo Alckmin | PSDB | 57.31 |
SE | Jackson Barreto | PMDB | 53.52 |
TO | Marcelo Miranda | PMDB | 51.30 |
PMDB, PT e PSDB dominam nos estados
A vitória mais contundente foi a de Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco. Este era o estado de Eduardo Campos, que morreu de desastre de avião durante o processo eleitoral. Sua vice, Marina Silva, entrou no seu lugar e mudou o quadro. Porém na reta final, do primeiro turno, Marina perdeu a segunda colocação para Aécio Neves. No segundo turno, Marina (ex-militante do PT) acabou apoiando o candidato do PSDB.
O PT que consegue ter o seu primeiro governador em Minas Gerais, terra de Dilma e Aécio, terá 5 governadores a partir de 2015. O PMDB, maior partido do país e que tem a vice-presidência, terá o controle de 7 estados. O PSDB, maior partido de oposição, à direita do governo Dilma, também terá 5. Os outros 10 ficaram com: PSB (3), PDT (2), PSD (2), PCdoB (1), PP (1) e PROS (1). Desses 5 partidos todos eram da base aliada do governo na primeiro mandato de Dilma. Atualmente o PSB é oposição, ao lado do PSDB.
Atualizado às 23:58 (horário de Brasília/Brasil) do dia 26/10/14.