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230414 demarcaBrasil - Le Monde Diplomatique - [Cristiano Navarro] Ações contra símbolos Bandeirantes chamam a atenção dos paulistanos para questão das terras indígenas no município. Próximo dia 25, movimento volta às ruas.


Foto: Caio Castor/ Guarani das Terras Jarguá e Tenondé Porã exigem a demarcação.

No centro da cidade de São Paulo, a praça do Pateo do Collegio guarda um obelisco, um museu, uma igreja e a cripta de um santo católico recém consagrado. Mas por sob tudo isso havia uma aldeia, que depois de 1554, com a chegada da missão jesuítica do Padre José de Anchieta, testemunhou o nascimento do que viria a ser a maior cidade da América do Sul.

Com o processo de crescimento e expansão da capital paulistana, a cada construção histórica edificada neste local se fez um elogio ao processo civilizatório com o intuito de ocultar o massacre contra os povos que ali viviam. Localizado nessa praça, o Monumento a Glória Imortal dos Fundadores de São Paulo, por exemplo, é um obelisco com mais de 25 metros feito em bronze e granito que celebra alguns dos momentos e “heróis” mais representativos deste período. No monumento estão retratados: a catequese do Padre Anchieta; a primeira missa, celebrada pelo Padre Manoel de Paiva em 25 de janeiro de 1554, dia da Conversão de São Paulo; Martim Afonso de Souza, fundador da Vila de São Vicente; Mem de Sá, Governador Geral do Brasil de 1558 a 1572; Dom João III, Rei de Portugal entre 1521 e 1557; e o Papa Júlio III (1550 – 1555).

No local, não há nenhuma referência sobre a resistência por parte dos índios ou a violência cometida pelos colonizadores. Tudo sugere um passado de conciliação e paz entre indígenas e bandeirantes.

“Aqui, nossos antepassados viveram uma história muito triste, mas que deve ser contada. Um dia aqui já foi uma aldeia, mas a gente não quer fazer roça, nem construir nenhuma casa nesse local, nós viemos para o Pátio do Colégio por outro motivo”, conta a educadora Jera Giselda Guarani da terra indígena Tenondé Porã. Na tarde do dia 16 de abril, por volta 15h30, cerca de sessenta guarani, das duas terras indígenas localizadas na cidade de São Paulo, Tenondé Porã e Jaraguá, surpreenderam a administração do museu do Pateo do Collegio ao entrar no local e anunciar sua ocupação. O motivo do protesto é a reivindicação das comunidades aos limites de seus territórios tradicionais.

“Por saber o quanto este lugar significa para vocês brancos é que decidimos fazer essa ocupação simbólica para chamar a atenção para nosso direito fundamental à terra”, conta Jera.

Surpreendidos novamente

Não é a primeira vez na história recente que um protesto das comunidades guarani surpreende os paulistanos. Em 2013, duas ações com o mesmo objetivo e de mesmo caráter simbólico mexeram o com orgulho bandeirante.

Em setembro, cerca de trezentos guarani fecharam por duas horas o tráfego na estrada batizada com o nome dos “assassinos de índios”. Em um vídeo-comunicado lançado pela internet, a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), que representa lideranças guarani dos estados do Sul, mais São Paulo e Rio de Janeiro, manifestou os motivos pelo qual interromperam o tráfego na rodovia dos Bandeirantes. “Fizemos isso para vocês brancos saberem que nós existimos e que estamos lutando por nossas terras, porque precisamos delas para ter onde dormir e criar nossas crianças. Esse nome, bandeirantes, para nós significa a morte dos nossos antepassados. Mas muitos de vocês brancos têm orgulho deles e dos seus massacres contra nosso povo. Em homenagem a eles vocês batizaram o palácio do governador de São Paulo, e levantaram estátuas por toda parte. Há muitos que querem repetir o que fizeram os bandeirantes no passado, nos exterminando e roubando nossas terras para enriquecer”.

No mês seguinte, outubro, uma marcha também organizada pela CGY, que contou com 5 mil pessoas, terminou com um escracho ao Monumento às Bandeiras (conhecido como Empurra-Empurra) de Victor Brecheret, em frente ao Parque Ibirapuera. A escultura, feita com cerca de 50 toneladas de granito, foi pintada com tinta vermelha simbolizando o massacre que a obra oculta.

Na menor das terras

“Todas estas ações servem para chamar a atenção para nossa situação. Não é possível que os 532 hectares da nossa terra impeçam o desenvolvimento desta cidade”, questiona Davi Martins, liderança da terra indígena do Jaraguá, considerada a menor terra indígena no Brasil, onde mais de setecentos guarani vivem em 1,7 hectare.

Mesmo sendo uma terra tão pequena, uma decisão de reintegração de posse contra os guarani do Jaraguá foi emitida pela primeira instância da Justiça Federal de São Paulo, no final do ano passado. Embora a determinação esteja suspensa, a ameaça segue com a possibilidade do Tribunal Regional Federal modificar a decisão. “Somos seguidamente ameaçados de despejo por ações como essas. Enfrentamos a especulação imobiliária e as grandes obras. A Rodovia dos Bandeirantes matou três nascentes do nosso rio”, denuncia Davi.

Com 26 hectares e 1.700 pessoas, a situação na terra indígena Tenondé Porã não é muito diferente. “Não há como plantar e viver em um espaço tão pequeno. O que fazemos hoje é proteger nossas sementes esperando o dia que reconheçam nossa terra para podermos voltar a plantar da forma tradicional”, declara Jera.

Em campanha

Ao completar um dia de ocupação, os guarani devolveram o local aos administradores do Patteo do Collegio (padres da mesma congregação de José de Anchieta) e lançaram a campanha “Resistência Guarani”. A campanha visa cobrar do Ministério da Justiça a emissão das Portarias Declaratórias que garantem a demarcação das Terras Indígenas Tenondé Porã e Jaraguá, já reconhecidas pela Funai.

Na próxima quinta-feira, a Campanha “Resistência Guarani” volta às ruas de São Paulo em uma marcha com saída marcada para o Vão Livre do Masp, às 17 horas. Para além dos protestos, a campanha conta com um abaixo assinado que pode ser encontrado neste endereço:http://campanhaguaranisp.yvyrupa.org.br/.

Cristiano Navarro é editor assistente do Le Monde Diplomatique Brasil.


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