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200815 hBrasil - Diário Liberdade - [Norberto Liberator Neto] Eles são jovens. Têm entre 15 e 25 anos. Gostam de riffs pesados, solos distorcidos, vocais agressivos. Usam camisetas de bandas que criticam o “sistema”. Grande parte tem cabelos compridos. Muitos acham o Cristianismo um atraso. Eles não são alinhados aos padrões sociais. Eles são rebeldes. E também são… reacionários! 


Não fez muito sentido? Não faz. Ainda assim, é um retrato de boa parte da atual juventude brasileira. São, como dizia Humberto Gessinger, os rebeldes sem rebeldia.

Dentre seus ídolos, costumam figurar o pretenso filósofo Olavo de Carvalho e, principalmente, o deputado Jair Bolsonaro, conhecido por suas posturas de extrema direita, a favor da ditadura militar, contra direitos civis dos LGBT e das mulheres. Claro que, nesse panteão, sobra lugar para figuras do Rock que abandonaram as posturas progressistas na mesma medida em que perderam a criatividade para compor, como Roger e Lobão. Da maioria esmagadora das bandas de Rock/Metal consagradas, só absorvem o som. Ou, em muitos casos, a postura iconoclasta em relação ao Cristianismo, mas só na fé: na postura moral, seguem os valores dos fundamentalistas cristãos que tanto criticam. O humor, é claro, não foge à regra: Danilo Gentili é um “mito”, como gostam de dizer. Piadas com negros são recorrentes. As críticas ao feminismo são as mais rasas e chulas possíveis. Gostam do chamado “politicamente incorreto” que, na realidade, nada tem de incorreto em relação ao que é a política tradicional: só reforça os valores retrógrados que já existem há muito tempo. Isso não é contestador. Não é ser incorreto.

Mais de uma vez, vi alguns dizendo que socialistas são burros. Provavelmente (concordemos com o socialismo ou não), ignoram que esta era a ideologia de gente como Graciliano Ramos, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Albert Einstein, João Cabral de Melo Neto, Pablo Neruda, José Saramago, Paulo Leminski e uma infinidade de outros, se é que sabem quem são os nomes aqui citados. Alguns bradam por ordem, elogiam inclusive o período militar e clamam por uma nova intervenção das Forças Armadas. Ora, qualquer pessoa com o mínimo de bom senso sabe que, para os padrões militares, uma pessoa do sexo masculino com cabelos compridos é um vagabundo, um subversivo, alguém que deu errado. Se usar praticamente só preto e, geralmente, estampas que remetam à morte e ao anticristianismo, isso é um agravante: trata-se de um baderneiro e inimigo dos valores morais que sustentam a sociedade. Portanto, são valores inconciliáveis. Os roqueiros/headbangers reacionários têm de se decidir: ou ficam com seu estilo, ou com sua postura política. As duas ao mesmo tempo não são possíveis.

Um dos meteoros que têm surgido nas redes e inspirado jovens reacionários é o youtuber Nando Moura: em vídeos carregados de senso comum, Nando fala sobre teorias de conspiração como a do Foro de São Paulo e de que o Brasil caminha ao que chamam de “ditadura bolivariana”. Nando é, assumidamente, cristão. Faz músicas relacionadas a sua fé e ataca os críticos mais ácidos dela. Já fez, inclusive, vídeos apoiando fundamentalistas conhecidos como Silas Malafaia. O paradoxo é que muitos dos que adoram bandas da leva mais extrema do Black Metal, que pregam a destruição do Cristianismo, elogiam Nando como um “mito” e o tomam como referência. Muitos destes vibraram quando o jornalista Ricardo Boechat (que simboliza exatamente o contrário do que eles defendem) criticou Malafaia, compartilhando diversos memes relacionados ao caso, além de debocharem de outras figuras como o pastor Marco Feliciano. No entanto, ignoram – ou fingem ignorar – que o casamento do “mito” Jair Bolsonaro foi celebrado pelo próprio Malafaia, e que Bolsonaro chegou a declarar que é “um soldado de Feliciano”. Alguns se consideram fãs incondicionais de Judas Priest, banda cujo vocalista, Rob Halford, é homossexual declarado (alguns dizem que Halford é um “gay macho”, ignorando o fato de sua indumentária ser fruto de visitas a boates LGBT e sex shops para o público gay). No entanto, bradam o mesmo Jair Bolsonaro que diz que “ser gay é falta de apanhar na infância” e que pretendia impedir que LGBT doassem sangue. Isso, é claro, para ficar só em um de centenas de exemplos.

De onde surgiu a onda neoconservadora entre a juventude que se propõe a dar continuidade a um gênero artístico nascido da contestação e rebeldia, não sabemos. É uma análise a ser feita daqui a alguns anos, quando, espero, tal onda já tenha passado. Como dizia Bertold Brecht, “a cadela do fascismo está sempre no cio”. Isso, provavelmente, não mudará. O que intriga em setores da atual geração é que a cadela raivosa do fascismo tenha transmitido sua raiva crônica aos que deveriam estar imunizados. Agora, o que se há para fazer é simplesmente esperar, para que o ciclo da história siga seu caminho natural.


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