Está atualmente em cartaz na capital paulista a série completa de A tempestade, de Marc Chagall, composta por 50 litografias inspiradas na peça homônima de William Shakespeare.
A série traz uma leitura altamente pessoal e mesmo autobiográfica de Chagall sobre a obra do dramaturgo inglês. É um trabalho dos mais significativos entre as séries de litografias do artista, que incluem interpretações visuais de obras como Almas mortas, de Nicolai Gógol.
Apesar disso, A tempestade, de Chagall, é uma série ainda pouco conhecida e quase nada estudada do artista. Nela o artista faz um paralelo entre o herói de A tempestade, Próspero, exilado em uma ilha, e sua própria vida como exilado político, perseguido pelo nazismo nas décadas de 1930 e 1940.
A série é um dos últimos trabalhos de Chagall, executada em 1975, quando o artista tinha já 88 anos. Ela chegou ao público pouco depois, ao ser publicada em Monte Carlo, pelas edições André Sauret, obra que reunia as 50 ilustrações para A tempestade.
Desde então, a série foi exposta em poucas mostras internacionais, sendo essa exposição brasileira, em cartaz no Centro de Cultura Judaica, é uma das raras oportunidades para se conhecer esse trabalho do artista russo.
A tempestade é tida como a última peça de William Shakespeare, e uma de suas obras-primas. Ela narra a história de Próspero, um feiticeiro de grande poder e ex-Duque de Milão, que por um ato de traição política foi exilado em uma ilha deserta, tendo em sua companhia apenas sua filha, Miranda, moça pura que nunca conheceu a humanidade; e seus dois escravos, Ariel, um espírito do ar, e o disforme Caliban. A história se inicia quando Próspero faz naufragar em sua ilha as figuras que foram responsáveis pelo seu exílio. Habilidosamente, e usando de todos os seus poderes e recursos, Próspero manipula todos ao seu redor para recuperar seu antigo posto em Milão. A personagem encarna, assim, as virtudes políticas de um homem que usa suas habilidades para desfazer um ato de perfídia contra ele, em uma peça que trata sobre o problema das virtudes e vícios humanos.
Uma peça como essa, repleta de elementos fantásticos, serviu perfeitamente à técnica de Marc Chagal, artista cujo traço distintivo de sua obra é transformação de ideias e sentimentos cotidianos em fantasmagorias organizadas de forma simbólica e expressiva.
A exposição Litografias de Marc Chagall para 'A Tempestade' de Shakespeare, ficará em cartaz apenas até amanhã, dia 29 de agosto. A entrada é franca.