Em 2006, o presidente Lula lançou uma enorme campanha propagandística tentando mostrar que o Brasil teria alcançado a “autossuficiência” em relação à produção e consumo de petróleo. Tratava-se de uma autossuficiência fajuta porque, a pesar do número de barris exportados e importados coincidirem, as importações eram de produtos manufaturados e óleo leve (o chamado tipo Texas) enquanto as exportações era óleo cru e pesado (o chamado tipo Brent), 20% mais barato que o leve.
A Petrobras está muito mal das pernas devido à política altamente entreguista imposta pelo imperialismo, aplicada pelos governos do PSDB e continuada pelos governos do PT, mesmo que relativamente atenuada. No ano passado, a empresa sofreu um déficit comercial gigantesco, superior aos US$ 11 bilhões, devido às crescentes importações de combustíveis e derivados, que têm continuado batendo sucessivos recordes. A própria produção se encontra estancada há vários anos.
O pré-sal, longe de apresentar uma solução, representa um fator de alto risco de risco devido ao aprofundamento da crise capitalista. Os custos de produção são muito altos devido à profundidade (entre 7.000 e 9.000 metros, contra 3.000 a 5.000 na Bacia de Campos) e à distância da costa (300 quilômetros contra 150 quilômetros na média). A produção de um barril custa o dobro do que custa na Bacia de Campos, entre US$ 50 a U$ 60, e muito mais do que no Oriente Médio, onde o custo está em torno a US$ 5. Hoje o preço do barril leve, no mercado mundial, caiu para perto dos US$ 100 e o pesado para perto de US$ 80, após ter atingido quase US$ 130 e US$ 110, respectivamente, no ano passado. Isso significa que as margens estão ficando cada vez mais estreitas. Se o preço cair para o níveis de finais de 2008 e inícios de 2009, em torno a US$ 40, a produção no pré-sal se verá inviabilizada. Claro que sempre resta a possibilidade de usar “novas tecnologias”.
Uma das “novas tecnologias” foi desenvolvida nos EUA e hoje é aplicada em larga escala, as chamadas fratura hidráulica e fratura horizontal. Fraturando o solo e injetando um composto de centenas de ativos químicos hipertóxicos, mantido sob segredo comercial, as petrolíferas e empresas de energia conseguem remover de maneira muito mais fácil os hidrocarbonetos incrustados nas rochas, reduzindo os custos de extração. Esse é o “segredo” dos EUA que lhes permitiu terem passarem de uma produção aproximada de 2,5 bilhões de barris de petróleo diários há cinco anos, para mais de 7 bilhões hoje. A contaminação ambiental chega a níveis absurdos, além de provocarem terremotos de baixa intensidade. O método é tão depredador que, apesar da crise, alguns países, como a França, o proibiram. O governo brasileiro não somente o permitiu como a ANP licitará vários campos no mês de novembro, específicos para a produção “não convencional” (nome sofisticado para camuflar a enorme depredação ambiental e para a saúde humana). Se a coisa apertar, métodos similares, se não esses mesmos poderão ser considerados para serem usados no pré-sal. Afinal, o que vale é o lucro a qualquer custo.