Publicidade
Publicidade
first
  
last
 
 
start
stop
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

4619244532 b3d5e3a4a4 zBrasil - Diário Liberdade - [Roberto Bittencourt da Silva] O “populismo” é um conceito sociológico, político e econômico demasiadamente controverso. Inúmeras e diversificadas abordagens teóricas, no curso de décadas, têm procurado identificar características e oferecer um sentido para esse termo linguístico, de largo uso nos meios jornalísticos, políticos e acadêmicos. Uma tarefa inglória e, não raro, improdutiva.


Foto de Alex Vieira (CC by/2.0/)

O conceito de “populismo” tem se prestado muito mais como um recurso desqualificatório do que um instrumento propriamente de análise. Para o que nos importa, em particular, serve como uma via para iluminar determinadas contradições políticas da encarniçada polarização PT/PSDB. Contudo, cada vez mais destituída de sentido.

Por conta da projeção alcançada pelos estudos da sociologia uspiana, nos anos 1960-70, o “populismo” foi uma palavra que “pegou” no jargão intelectual e político do país. Tomava por foco críticas dirigidas ao trabalhismo e ao comunismo do pré-1964, entre outros, ao estatismo, ao nacionalismo e ao anti-imperialismo destas correntes políticas.

O PT, em seu nascedouro e anos a fio, folgadamente mobilizava a categoria “populismo” visando demarcar, para si, um pretenso caráter politicamente “inovador” e “autêntico” no campo das esquerdas brasileiras. O comunismo do velho PCB e o trabalhismo brizolista e janguista postos na lata do lixo histórico.

Todavia, o mundo dá voltas. E não poucas. Para além do evidente fato de ser difícil hoje classificar ao PT como um partido de esquerda – devido ao seu neoliberalismo soft, a cada dia mais hard –, determinados traços do partido e do seu governo guardam não poucas semelhanças com uma versão clássica do “populismo”. Refiro-me, em particular, à interpretação dada pelo sociólogo argentino Jorge Graciarena, na longínqua década de 1960.

Segundo Graciarena, o “populismo” tenderia a denotar um fenômeno político assentado em uma ideologia imprecisa, operando decisivamente com apelos emocionais entre líder “carismático” e “massas”. Em sua perspectiva, a adesão dos simpatizantes teria como base uma identificação emotiva – semirracional e mística –, sem apreço às ideias e à existência de um programa nitidamente delineado.

Nesse sentido, não é difícil afirmar que o PT submete, cada vez mais, qualquer princípio de esquerda à mera aspiração pelo poder político. Conta com frações importantes de adeptos que sempre buscam argumentos para defender ao partido e aos líderes (Dilma/Lula), à revelia de qualquer preceito político minimamente compatível com uma cosmovisão de esquerda.

A “mistificação populista” entre os adeptos petistas já ultrapassou, há tempos, a fronteira do razoável, ao esposar práticas e iniciativas de governo tipicamente neoliberais. O que FHC fazia era repudiado. Se for o PT tudo bem, é justificável. Um “populismo” 3.0 vitaminado.

Outro partido nascido na São Paulo dos escritórios e das instalações das corporações multinacionais é o PSDB. Metido a besta e portando certa capa intelectualizada teve e tem no “populismo” um anátema. Um conceito mobilizado pela retórica tucana, durante anos, que busca(va) caracterizar múltiplos males da sociedade brasileira: o “corporativismo sindical”, o “nacionalismo”, o “estatismo” e o “atraso econômico”.

O próprio Fernando Henrique Cardoso foi um dos teóricos representativos da teoria uspiana do populismo. Não gratuitamente, em seu discurso de posse, em 1995, alegava que seu governo tinha em vista “acabar com a era Vargas”. Privatizações e entreguismo despudorado foram a tônica de seus dois governos.

No entanto, de um anátema o “populismo” tem sido praticado compulsivamente pelo tucanato. Ao menos é o que a perspectiva de Ernesto Laclau nos permite avaliar. Para o cientista político, o “populismo” não possui ideias, conteúdos ou valores fixos. Trata-se, sobretudo, de uma “lógica política”, uma maneira de articular descontentamentos e demandas sociais contra as instituições estabelecidas, em circunstâncias de crise da capacidade do bloco de poder em acomodar ou responder insatisfações.

Dessa forma, pode o “populismo” ter uma faceta tanto de direita, quanto de esquerda. O “populismo” traduziria a formação de elementos antagônicos que simplificam e polarizam a vida política, permitindo mobilizar as pessoas, em torno da oposição a algo que se considera a causa dos males sociais. Uma superfície em que se pode caminhar e identificar problemas.

Considerando que visíveis "elementos antagônicos", à direita, são um alegado "bolivarianismo” e uma presumida exclusividade da “corrupção” do PT, o “populismo” de natureza fascista tem se destacado bastante nas hostes tucanas. A vidraça vinga-se, de maneira irascível, da pedra.

Por outro lado, aos olhos da mídia hegemônica, especialmente das redações do jornalismo econômico, hoje o “populismo” encontra-se, principalmente, no nacionalismo de esquerda da Venezuela, da Bolívia, do Equador e, mais timidamente, da Argentina.

É a lógica econômica não subserviente às “forças do mercado” e a adoção de instrumentos políticos que dilatam a participação das classes populares o que, realmente, aí incomoda. Uma suposta “irracionalidade” política e economicamente antiliberal, nos moldes do conceito de “populismo econômico” preconizado por Bresser Pereira e outros economistas, na década de 1990. No Brasil dos nossos dias, não há partidos capazes de suscitar esse"fantasma" para a mídia.

No presente momento político brasileiro, o que mais preocupa com as aludidas e diferentes versões “populistas” de petistas e tucanos é, com base em reflexões do cientista político Valter Duarte, uma eventual, acachapante e tardia vitória plutocrática, oligárquica da São Paulo de 1932 sobre as conquistas nacionais derivadas da Revolução de 1930. Sobretudo, o pouco que nos resta, como a legislação trabalhista.

Roberto Bitencourt da Silva – doutor em História (UFF), professor da FAETERJ-Rio/FAETEC e da SME-Rio.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

first
  
last
 
 
start
stop

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.