Não vou me ater a esta pergunta, mas aos sujeitos dos noticiários. A mídia ao relatar os fatos se apressou em duas coisas. A primeira, afirmar que não foi a polícia. Quase vimos jornalistas mostrando a mão para vermos que não estava amarela. Por que a pressa? Era mesmo um jornalista falando ou a mídia porta voz de um Estado repressor?
A segunda foi apontar o culpado. Não me refiro ao jovem que deu a bomba ao outro, nem a este que a acendeu. Mas o culpado! A MANIFESTAÇÃO. Após conseguirem imagens de um manifestante de calça jeans e camisa cinza, o comandante da polícia deu declarações de que viu um Black Bloc jogando a bomba. Comandante, que feio. Como saber se era um Black Bloc? BLACK de cinza? Neste momento o que vemos é a tentativa de criminalizar o "fazer política". A mídia pouco está se importando com o cinegrafista atingido pela bomba. O importante é condenar. Pouco importa quem jogou a bomba, o importante é criminalizar a manifestação.
No noticiário midiático, manifestante, Black Bloc, arremessadores de bombas, mal feitores, Sininho, Freixo... todos devem ser culpados. Inventa-se um sujeito e anula-se o verbo- manifestar.
Não, não achei legal a bomba, nem tampouco ter vitimizado, de verdade, um trabalhador. Mas não é do fato que estou falando, mas sim da construção do imaginário. Aliás, como anda o processo do policial que foi filmado jogando pedras de cima da câmara municipal, em manifestantes? E o policial que foi filmado forjando um flagrante na mochila do jovem manifestante? E aquele que deu um tiro de bala de borracha no olho da repórter da Folha de São Paulo? E o que falou para as câmeras que jogou spray de pimenta porque quis?
Enfim, que esta bomba, lamentável, não sirva de argumento para esvaziar as manifestações. Afinal, todas as atrocidades policiais não fizeram com que a polícia militar fosse extinta, né?
Marcelo Biar é professor de História, compositor e escritor.