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Foot - DanielsouzaluzBrasil - Diário Liberdade - [D. Mieli] Mais uma vez, peço ler pacientemente até o final, pois fica difícil escrever pouco numa situação complexa em que se apela frequentemente para preconceitos e conclusões precipitadas. Eu gostaria de uma breve análise e estímulo à reflexão.


 

"Apologia a atos de violência nas redes sociais pode ser considerada crime, diz delegado", estampa o periódico. Então é apenas nas redes sociais que pode ser considerado crime, pelo visto, já que basta ligar a televisão no fim de tarde para ver em diversos canais programas que se pretendem jornalísticos, mas cujo foco parece ser reforçar preconceitos e, principalmente, incitar a violência. Esses programas "bandido bom é bandido morto" – ressalvando que "bandido" é apenas o pobre, já que nada se fala sobre a série de crimes de "colarinho branco" – destilam ódio, defendem agressão às pessoas e nada respondem por isso. Então que incitação à violência é essa?

Ora, imagine que alguém acerta uma cadeira contra a parede e a quebra em vários pedaços. Visualize, repita a cena mentalmente e preste atenção ao que sente. Agora imagine que alguém golpeie a perna de uma pessoa e a quebre, em vários pedaços. Reveja-a mentalmente em câmera lenta. Imagine-se. Então, o que causa mais repulsa? Fácil e óbvio, né? Estranho, porém, que pareça ocorrer o oposto no discurso midiático e reproduzido por incautos que não refletiram sobre o que veem ou por mal intencionados.

Vamos ver, então: dia 13/06, Rio de Janeiro – Jovem é acertado por bala de borracha no olho; dia 16/06, bombas de gás lacrimogêneo são lançadas e crianças ficam aterrorizadas ao sofrerem o efeito da arma dentro da Quinta da Boa Vista; 17/06, policiais atiram com fuzil e pistola em manifestação; 20/06, mais de 60 feridos e mulher cega por bala de borracha; 25/06, chacina deixa ao menos 9 mortos na maré... isso analisando apenas um breve período, pois sabemos que essas violências são constantes e as estatísticas de morte pela ação policial são assombrosas, além de os "autos de resistência" não serem investigados. No dia 15/10, dia do professor, foram confirmados casos de ferimentos por munição letal e há vários vídeos e fotos que mostram os agentes do Estado disparando pistolas. Um rapaz teve os dois braços perfurados por um projétil.

Por outro lado, manifestantes quebram vidraças, caixas eletrônicos, edifícios de multinacionais e incendeiam lixeiras, mesas e cadeiras no meio da rua para impedir o avanço da polícia (ou o que ocorre no parágrafo anterior). Esses objetos não sangram, não tem família, não choram, não morrem, não são insubstituíveis, não tem filhos, não são a nossa sociedade. Por que, então, tanta veemência para reprovar o dano a objetos enquanto pouco se ouve com relação às pessoas que sofrem? Além dessa óbvia comparação de "que violência?", a quem cada tipo de violência atinge e o que nos é mais caro, a vida ou objetos; aliado a isso, é preciso contextualizar a ação. Em que sentido ela ocorre? De onde vem?

O que é violência, afinal? Parece-me que Violência é a força que age sobre alguma coisa e a viola. Essa coisa acaba por assumir uma condição tal, provocada pelo ato, sendo esta condição contrária à sua vontade. O resto é valoração moral da violência. Desta forma, o silêncio pode ser uma violência e não há transformação, revolução sem violência no sentido aqui entendido do termo, posto que a retirada de privilégios para a construção de uma sociedade igualitária se dará certamente contra a vontade do privilegiado. Já nos lembra Flores Magón em "A Revolução Mexicana" que "A Lei conserva, a Revolução renova. Assim, para renovar é preciso começar rompendo a Lei. (...) Aquele que predica aos trabalhadores que dentro da lei se pode obter a emancipação do proletariado é um charlatão, porque a Lei ordena que não arranquemos das mãos dos ricos a riqueza que nos roubaram, e a expropriação da riqueza para o benefício de todos é a condição sem a qual não se pode conquistar a emancipação humana." (Obs: Não tentem prender Flores Magón, ele está morto, mas seus livros são encontrados em qualquer livraria e suas ideias vivem ainda, mas não podem ser presas)

Então, verifico de imediato dois tipos de violência, a que liberta e a que oprime. Uma violência é aquela aplicada contra os opressores no sentido de se desvencilhar de controle, dominação e subjugo, e outra e aquela praticada para a dominação e subjugo, pelo controle.

Voltando ao caso atual, temos de um lado uma população que sofre diariamente a violência invisível – mas perfeitamente sensível – do cotidiano: transporte lotado, dupla-jornada, longas horas no retorno para casa, dinheiro contado para a passagem e faltante para a devida alimentação, faltante para a moradia, resultando em afastamento dos centros, baixos salários, saúde e ensino público precarizados, infraestrutura deteriorada ou ausente, acesso escasso a serviços, etc.

De outro lado, temos aqueles que agem para manter a coisa do jeito que está, que reprimem protestos, que chamam levianamente de vândalos e baderneiros os manifestantes (de seu país, no país dos outros continuam sendo manifestantes), que desviam dinheiro público para a própria conta ou para o bolso de megaempresários caloteiros, verba essa que deveria ser do povo e para o benefício deste, afinal, democracia deveria ser o governo pelo e para o povo. Mas, vemos que o poder emana do povo. Emana e é roubado, tomado, impedido de ser exercido.

Quando milhares de pessoas são presas país afora por estarem nas ruas protestando é uma violência. São presas sem provas, simplesmente por estarem na rua. Quando esses manifestantes são enquadrados em lei de organização criminosa, criminaliza-se a crítica, a manifestação, o protesto, a organização social, ou seja, a democracia em seu sentido amplo. Sob o título de democracia se mantém um regime oligárquico. Um governo de poucos sobre muitos, quase todos. O luxo deles é mantido às custas do nosso suor e sangue.

O Brasil é a 6ª maior economia do mundo e mantém a terceira maior desigualdade. Isso não é violência? Policiais são filmados, fotografados, identificados, disparando armas letais contra a população, fazendo ameaças em perfis de redes sociais, forjando flagrantes, infiltrados nas manifestações, circulando com carros descaracterizados e efetuando disparos para amedrontar, agredindo manifestantes que estão sentados, de costas. E a reação à situação de opressão é que é a violência combatida! Há algo errado. O pensamento, contextualização e entendimento do que está acontecendo e o desejo de liberdade e defesa da população contra a violência do estado e do sistema em que está inserido é que são combatidos?

Não soa-lhe muito mais violento quando dezenas cercam um jovem caído no chão e lhe aplicam choque? Principalmente se essas dezenas portam armas de todos os tipos? Principalmente se essas dezenas se investem em cargo que agride aqueles que deveriam ser seus iguais, ou seja, se essas dezenas buscam uma mísera migalha, o proveito próprio, ainda que ínfimo, para se diferenciar e se contam em defender o que agride todos nós? Não é isso força desproporcional, aplicada sem direito de defesa e por motivo fútil? Não é isso crime e agravantes? Parece haver uma inversão de valores sobre o que é violência e o que é agressão. O que é reação contra a opressão em busca de espaço para exercício de liberdade e constituição de igualdade de condições e o que é manutenção da ordem e da lei quando estas permitem que 2% da população detenham quase toda a riqueza enquanto 98% trabalham para manter o luxo deles; quando esta lei e ordem garantem diversas casas a alguns, casas imensas a estes e minúsculas ou nenhuma ao resto da população, a que trabalha; quando estas leis e ordem permitem que se enriqueça do roubo de dinheiro público, ou seja, o de todos nós, e nada aconteça; quando estas leis e ordem criminalizam a tentativa de entender e se defender da agressão que tenta manter o nosso sofrimento ou mesmo aumentá-lo, a agressão diária desse Sistema e Estado contra nós.

O desejo de liberdade e a luta por ele me fazem sorrir. A repressão, a força empregada para manter as coisas no estado de opressão sob o qual nos encontramos, isso é indigno, covarde, agressivo, ilegítimo (por mais que haja leis que defendam), vergonhoso, revoltante, injusto. E você, como vê a violência e a agressão e por quê? Em qual grupo você se encaixa, nos 2% ou no dos trabalhadores? E qual você defende? De qual você se compadece? Onde vê ação e onde vê reação? Onde vê opressão e repressão e onde vê desejo de liberdade? Quais violências você já sofreu hoje antes de ler esse texto? Como você se defendeu delas? Como você permite que a sociedade continue a sofrê-la o tempo todo? Qual situação parece melhor para você e para a sociedade? O que você está fazendo para chegar a essa sociedade que lhe parece melhor?

A cada novo ato, um ou uns novos motivos para participar surgem. É uma bola de neve. Quanto mais passa, mas difícil é interromper o trajeto. Aumentam a massa, a circunferência e a velocidade. O rastro será cada vez maior. Cada obstáculo superado se torna menor ante a força da massa e serve de força para que o movimento continue, cada vez mais sólido, cada vez mais direcionado, pois as alterações do terreno são ínfimas perto de sua decisão de seguir.

Que se construa uma sociedade horizontal, organizada para libertação e liberdade; e luta contra todas as formas de opressão (aquilo que impede a liberdade) em qualquer lugar que seja.

Dia 21, segunda-feira, 17h, às ruas de novo! A luta continua, pelo poder do povo, para o povo e em direção à liberdade. E que vá todo o Brasil! E que vá todo o mundo!

 


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