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300813 bbBrasil - LER-QI - [Edison Salles, Iuri Tonelo] Recentemente, tem sido noticiado em cada espaço da mídia e debatido em cada oportunidade qual o significado da ação dos jovens que tem mantido atos nas ruas com algumas centenas em alguns estados do país, os chamados Black Blocs.


A classe dominante dá total atenção a estes jovens e não para de desferir seus ataques ideológicos de todo tipo; conforma-se uma opinião pública geral “antivandalismo” e mesmo setores da esquerda parecem querer se enquadrar nesse espectro. Mas no meio dessa ofensiva ideológica, o que está realmente por trás do julgamento dos Black Blocs?

A questão transcendeu qualquer controvérsia de táticas entre manifestantes, e assumiu um caráter de debate nacional. Vamos a ele.

Como caracterizar os “Black Blocs” e o fascínio que despertam sobre setores da juventude?

Em primeiro lugar, é preciso reafirmar: o “black bloc” não é uma organização permanente, nem um movimento organizado fechado, é uma tática de manifestação e, por assim dizer, quase um “estado de espírito” de um setor da juventude – evidentemente composta também por um núcleo de jovens anarquistas, mas sem homogeneidade política mais do que superficial. O destaque que adquiriu tem tudo a ver com o estágio atual do movimento de protestos, e se alimenta da crise de representatividade e da própria confusão ideológica que marca o início de um novo ciclo ascendente da luta de classes.

Ao mesmo tempo, é preciso contextualizar o poder de atração que a tática mostrou possuir na atual conjuntura. Afinal, ele pode ser visto como uma resposta dos setores mais radicalizados à própria tentativa, pelo discurso dominante, de “passivizar” as manifestações, dando um caráter cívico, cordial e inofensivo aos protestos.

Como estranhar, nesse contexto, que para importantes camadas da juventude o Black Bloc exerça seu magnetismo, gerando até certo fascínio? Especialmente para aquelas camadas da juventude mais imersas nas condições precárias de vida dos grandes centros urbanos, para os jovens de periferia, negros e nordestinos, habituados à opressão e ao preconceito, e sem válvulas de escape ou representação. A possibilidade de “vingar-se” anonimamente desse sistema de miséria, seja bancando a resistência à repressão policial, seja atacando diretamente os símbolos do capitalismo e da ostentação dos ricos.

É no mínimo um duplo motivo para tal magnetismo: por um lado, a “vingança” exercida sobre o patrimônio privado de setores símbolo do capitalismo (concentrando-se em bancos, concessionárias de automóveis, lojas de artigos de luxo); por outro, a própria tática de movimento puramente espontâneo, que também se coaduna perfeitamente com o “espírito autonomista”, o culto da horizontalidade total, mesmo que em detrimento de objetivos e estratégias mais elevados, espécie de refração à esquerda do mesmo individualismo que é uma das heranças centrais de todo o período anterior.

“Aí já é vandalismo...”

Nesse sentido, não se trata de romantizar em nada as ações, por vezes isoladas, de um setor da juventude: se delimitar estrategicamente do Black Blocs e buscar combinar um método radicalizado com um programa igualmente ofensivo é fundamental. Porém as definições teóricas devem ser colocadas em cada contexto concreto: não se trata de um grupo de terrorismo individual, nem mesmo é homogênea a ideia de quebrar “símbolos do capitalismo”, basta ver as páginas nas redes sociais que são distintas apreciações sobre o tema, pois se trata claramente de um fenômeno, uma expressão ideológica do conflito em cada cabeça de cada jovem entre uma herança de ofensiva da burguesia (consumismo, individualismo, apartidarismo etc.), a raiva contraditória dessa herança e a nova etapa de mobilizações.

Na conjuntura atual, o que vemos é que a burguesia e sua mídia, partindo desse fenômeno, criam uma enorme operação ideológica para condenar toda resistência “violenta” (ou qualquer forma de resistência física à enorme violência estatal) dos explorados e oprimidos. Esta é a questão chave de todo o problema.

Ao dar um destaque desproporcional às ações de “quebra-quebra”, ao associar a ideia de violência mais ao dano de patrimônio do que a agressão às pessoas, ao identificar finalmente toda resistência à repressão policial às chamadas “ações violentas”, o que a burguesia pretende é criar limites estreitos dentro dos quais o protesto social pode se expressar. O que em si já encerra um duplo problema, pois além de limitar os métodos que podem e os que não podem ser utilizados pela luta de massas, é uma tentativa de reintroduzir a autoridade moral da classe dominante, que com sua chancela elogia ou condena o protesto dos de baixo. Em algumas lutas concretas, como em BH e RJ, esse discurso leva ainda a abrir espaço para criminalizar os movimentos sociais, e particularmente jovens da periferia e setores da vanguarda que continuam os atos.

Não pode haver lugar a dúvidas: por trás da condenação ao vandalismo e à violência, o alvo principal do discurso dominante é a insubordinação dos “de baixo”, e no final das contas, a possibilidade da revolução social.

O que todo trabalhador tem que ter claro para si mesmo, é que os verdadeiros vândalos são aqueles que deixam milhares morrerem nas filas dos hospitais, os que mutilam e matam centenas pelas péssimas condições de transporte público, os que deixam famílias sem casas para garantir a especulação imobiliária.

Nem ‘vítimas’, nem ‘vândalos’

De todo o debate aberto, uma importância particular foi assumida pelo posicionamento do PSTU, posicionamento que gostaríamos de considerar “insólito”, não estivesse pavimentado por toda uma série de posições políticas adotadas por esse partido, em particular seu apoio das “greves” policiais. Por ser este um partido que se reivindica como revolucionário, acreditamos que lança uma luz ainda mais forte sobre o problema de como a esquerda tradicional se coloca frente à explosão desordenada de ódio da juventude...

Evidentemente que todo jovem marxista não pode compartilhar com a visão de que destruir uma agência bancária nessa situação, e como ação de vanguarda, pode ter resultados realmente ofensivos contra o sistema. Todo trabalhador também tem essa certeza intuitiva, e é comum que a primeira reação do operário frente à questão, seja de repulsa. Os métodos operários são métodos de classe por sua própria natureza, tendem à organização e à clareza na definição dos objetivos. Mas é importante que os trabalhadores avançados também aprendam a compreender a rebeldia da juventude, mesmo aquela aparentemente “sem causa”, como um fermento necessário do processo histórico, que não deve em nenhum momento assumir o primeiro plano, pois é mais desagregador do que revolucionário, mas que antecipa as verdadeiras transformações, que começarão depois que a classe se levantar realmente.

Mas é preciso ter senso de proporções em política, e saber em cada momento avaliar o que está em jogo, e qual o inimigo principal em cada batalha. Isso é o que se cobra sobretudo quando se trata de um partido político. O PSTU, sem medir o alcance da polêmica, acabou por se alinhar com o discurso dominante e sua “opinião pública” manipulada, chegando à afirmação verdadeiramente grave de que as ações radicais isoladas seriam as responsáveis pela repressão policial (coisa que até o Estadão, conhecido jornal burguês, fez questão de reproduzir, inclusive citando: [os black blocs] "atacam de forma provocativa a polícia, que reage, sistematicamente, reprimindo e muitas vezes acabando com as mobilizações. Agem como provocadores da repressão policial").

Depois, na tentativa de “equilibrar” mais seu discurso anti-Black Bloc, a regional do RJ do partido (e não à toa, ali onde se poderia dizer que “o mês de junho não terminou”, com a continuidade dos atos e da crise do governo), saiu com um comunicado onde tentam dialogar mais com o sentimento de simpatia ao Black Bloc, afirmando que “Os que resistem à violência são vítimas, não são vândalos!” [link].

Parecem não perceber que assim continuam presos à mesma dicotomia que a classe dominante quer impor com seu discurso ideológico: para não ser tachados como “vândalos” (que assume aqui o conteúdo do próprio “mal”), os manifestantes agora têm que se colocar como “vítimas”.

Onde, de todas as manifestações que ocorreram no Brasil desde junho, vimos a repressão se abater sobre os trabalhadores por culpa de ações isoladas de minorias de jovens com métodos “radicais”? A esquerda tradicional, da qual o PSTU se mostra ser um legítimo representante, está tão afundada em sua adaptação às instituições dessa “democracia para ricos”, inclusive à “opinião pública” que é uma das mais fundamentais, que enxerga o fantasma do “terrorismo individual” num protesto de adolescentes com pedras e rojões. Parece que todos os holofotes voltados ao mesmo fenômeno acabaram por ofuscar a visão, inclusive de um certo número de “marxistas”...

A chave para a juventude é se ligar ao conjunto dos trabalhadores que começam a fazer suas primeiras expressões de luta. A juventude deve aproveitar seu espírito e conspirar contra esse estado, com panfletagens em fábricas e todo tipo de iniciativas para se ligar, para influenciar os trabalhadores com sua vontade de luta, pois como marxistas defendemos outra estratégia onde a radicalidade são as greves, ocupações, piquetes, incluindo os inevitáveis enfrentamentos com a polícia. Só assim poderemos construir uma saída estratégica realmente revolucionária que possa colocar esse Estado dos capitalistas e todas as mazelas do sistema de exploração e opressão realmente abaixo.

PS: A aritmética revolucionária de Valério Arcary

Em vídeo disponibilizado no youtube, Valério Arcary (intelectual do PSTU), esclarece: “se fossem um milhão de pessoas, e não apenas dez mil, querendo impedir a final da Copa das Confederações, daí sim estaríamos na linha de frente...” (transcrição livre, confiram lá). O que demonstra apenas que, caso ocorra uma revolução social, o PSTU pretende “não estar de fora”... O que é muito bom, mas está longe de ser suficiente. A teoria objetivista, de que na hora certa, as coisas tomarão o curso da revolução “pela própria força das circunstâncias”, mostra mais uma vez sua consequência prática: construir um partido para seguir “à cauda” dos acontecimentos. Afinal, não é muito mérito afirmar que “quando forem um milhão, estaremos a favor...”


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