Porém, mesmo assim, os partidos da direita, nesse caso com aliança do PMDB, maior partido desde 1988, formam uma frente feroz contra a mini-reforma e sobretudo contra o plebiscito. A frente dos partidos de direita, porque na verdade são os verdadeiros partidos, estão a Globo e a Veja e horda de similares. Desde o anúncio por parte da presidenta de que convocaria o tal plebiscito sobre uma possível reforma política, cujos itens ainda nem se sabia, a direita entrou em histeria, não fala de outra coisa. Por que? Analisemos.
Vejamos primeiro cada item da mini-reforma que acabou proposta:
1 - O ponto mais avançado proposto é sobre o financiamento público das campanhas. Em primeiro lugar, como já disse o camarada Wlamir Silva em artigo do próprio São João del Pueblo dias atrás, existe o risco de a população, que tem pelo regime político mais um sentimento de repulsa que uma consciência de que é uma máquina ineficiente, rebelde e parasita, vote a favor da manutenção do financiamento privado. Contudo, mesmo que a população vote a favor do financiamento exclusivamente público das campanhas, devemos informar que há diversas experiências desse tipo na Europa e em cidades dos EUA, e não resolve os problemas. Sequer o financiamento público consegue diminuir o poder do dinheiro sobre as eleições, pois o dinheiro pode ser usado politicamente de diversas formas e também em períodos não eleitorais, incluindo o controle sobre a mídia. Ademais, é óbvio que os grandes partidos fariam as leis de forma a ficarem com a maior parte do financiamento. O financiamento misto é a soma de todos os defeitos. A própria forma das eleições, e a própria existência de publicidade nelas são os problemas, que não podem ser resolvidos pelo financiamento público. Não acreditamos que a direita brasileira, tendo à frente os técnicos de Washington, direção natural do Partido Português, esteja com medo do financiamento público de campanhas.
2 - Outro item minimamente relevante proposto pela presidenta é se as eleições serão proporcionais, mistas ou distritais. Observando bem esse item notamos que a proposta mais avançada, o voto por partido somente, apelidado pela direita com o nome feito de "lista fechada", não está presente, pois "proporcional" pode significar manter o absurdo atual. A proposta da direita, que é também a tendência da massa despolitizada do eleitorado é pelo voto distrital. Acho incorreto que o povo não saiba diferenciar voto distrital de voto proporcional. Simplesmente acho que como a população acabou de manifestar sua hostilidade aos partidos políticos seria bastante improvável que preferisse a legislação atual, ou o voto somente nos partidos, que seria o mais racional e democrático. A população, conforme sua compreensão atual, preferiria o mais compreensível e próximo, o que já sabe fazer, que é votar em fulano ou sicrano para representar a região tal. Mais uma vez, o mesmo que querem os partidos e TVs (o Partido Português), que pensam eleitoralmente. Sabem que cada distrito abrangerá várias pequenas cidades, tornando o custo das eleições ainda maior, assegurando o poder financeiro. Ainda assim, talvez o voto distrital seja melhor do que o que hoje acontece, pois ao menos o povo entenderá que é seu representante, em quem está votando, ou seja, o básico, enquanto hoje isso não acontece.
3 - A questão sobre as coligações poderem ser feitas ou não só pode gerar retrocessos. Trata-se de um desejo quase confesso dos grandes partidos, que usam todas as suas forças para se conterem e ainda não o terem aprovado. Prejudicaria os pequenos partidos, alguns dos quais certamente ficariam sem representantes, e fariam vários deputados dessas legendas migrarem para os partidos grandes mais próximos. Uma vítima provável seria o PCdoB, cujos deputados federais teriam que escolher entre se filiarem ao PT ou terem chances muito pequenas de eleições em 2014. A coligação entre PSOL, PSTU e PCB seria impossibilitada. Para os grandes partidos, contando com a hostilidade popular aos políticos, seria uma chance de realizarem seus sonhos de exclusividade sem serem culpados por isso. Naturalmente, deixar no Congresso Nacional somente os grandes partidos não é uma forma inteligente de buscar popularidade. Porém, o fim das coligações é uma bandeira constantemente levantada pelas TVs e pelas legendas que reproduzem essas bandeiras no Congresso. Essas mesmas TVs e partidos apesar de tudo estão doentiamente contra a reforma política e sobretudo contra o plebiscito.
4 - A questão sobre a suplência para senador está sendo discutida. Os senadores estão resistindo, não querem acabar com a suplência, primeiro negaram totalmente, agora cortaram um e deixaram outro, o que é piada de mal gosto para irritar a população. Mas se quiserem tornar mais uma pergunta defasada e inútil extinguirão a suplência, simplesmente. Talvez o façam, de pavor do plebiscito. O que estarão pensando as crianças de 2 anos nas casas de adultos cascudos? Plebiscito? Que tipo de bicho bravo será esse?
5 - A questão sobre o voto secreto ou aberto nos parlamentos já era, já foi resolvida, extinto o voto secreto nas Câmaras e no Senado. Porém, como já se espalha, no caso de tentar derrubar os vetos do poder executivo o fim do voto secreto aumenta o já gigantesco poder do poder executivo, que tem a chave do cofre e saberá quem vota fielmente com o governo e quem vota contra o governo. Nesse caso, porém, trata-se de uma faca de dois gumes que se tem que manipular. Sem transparência não é possível democracia. Se não se sabe em que o seu representante votou, como ele pode representar alguém? Certamente, para a direita melhor seria não ter mexido nisso, mas abriu mão com facilidade. O tal do plebiscito!
Pensando em ganhos e perdas eleitorais, é a esquerda, sobretudo a esquerda de verdade, socialista, que devia estar histérica contra essa mini-reforma, esse outro rato parido por essa velha montanha. Não é, contudo, o que se vê. A esquerda se limita a denunciar que é uma farsa, que os itens levantados não mudam nada em nada. A pseudo-esquerda governista e alguns casos isolados na esquerda verdadeira (eu) defendem o plebiscito.
Quem está em histeria é a direita! Quando os itens foram anunciados o pavor diminuiu um pouco, mas metade dos noticiários continua tratando só desse assunto. A Câmara dos Deputados e o Senado estão trabalhando duro para evitar o plebiscito, tendo os partidos da oposição de direita cooptado para esse assunto o PMDB, maior partido da base governista, a velha madrinha da tropa cascuda.
Por que? Voltamos a perguntar. Claro que querem esses senhores políticos manterem a reforma política somente dentro de seus gabinetes. Mais exatamente, eles não querem que o povo seja obrigado a discutir assuntos como financiamento de campanha, formas de eleições e funcionamento dos parlamentos! Para a direita a revolução deve ser como o vento que entra por qualquer fresta. Temem que o povo tome gosto e queira discutir outros assuntos.
Farão eles mesmos a reforma que conseguirem fazer, e depois talvez façam um referendo bem simplório em que não seja necessário discutir nada detalhadamente. Será a mesma porcaria que aconteceria com plebiscito, ou até melhor. Porque então desejar o plebiscito? Pelo mesmo motivo que a direita não o deseja, porque o povo terá que discutir política!
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Alex Lombello Amaral é historiador e militante do PCB.