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barbosaBrasil - Blog do Cesar Mangolin - [Cesar Mangolin] Ainda que de forma rápida, como o espaço aqui permite, cabe tratar um tanto do processo do mensalão, que chega em sua fase final. Particularmente chama a atenção a ferocidade da sociedade brasileira sobre os réus do chamado "núcleo político".


Não vou fazer o discurso da trajetória dos envolvidos, como têm feito alguns. A trajetória de qualquer um, por mais heróica que seja, não justifica quaisquer atos, inclusive os que contrariam princípios um dia assumidos e abandonados.

Foi por opção política e por adesão irrestrita à ordem burguesa e ao seu jogo sujo que gente que teve um passado de lutas ao lado do povo se vê hoje no banco dos réus como formadores de quadrilha. Não são meros perseguidos pela ordem burguesa: são partícipes do seu jogo sujo, ainda que tentem apontar fins diferentes e talvez mais razoáveis que o da corrupção voltada para o enriquecimento pessoal, como ocorre largamente entre os políticos profissionais.

O que chama a atenção, como dito acima, é a forma agressiva como são tratados os tais réus. Não vimos jamais a mesma ferocidade contra ladrões históricos do Brasil, como Maluf, a família Sarney, os Magalhães da Bahia e coisas similares.

Curioso ver a classe média comemorando a punição e a possível prisão de gente como Genoíno e José Dirceu, tratados pela grande mídia como grandes criminosos, além das tentativas de incluir Lula nesse balaio.

Isso parece decorrer daqueles mesmos preconceitos sempre nutridos por esses setores médios conservadores com relação a eleição de um presidente de baixa escolaridade, de origem pobre, a frente de um partido que carrega consigo o nome de "trabalhadores".

Ainda que tenha prestado e preste ainda serviços fundamentais ao grande capital, ainda que tenha garantido, via cooptação dos movimentos populares, uma via tranquila à continuidade do padrão de acumulação, o fato mesmo é que os setores conservadores e a classe média preconceituosa jamais digeriram bem essa fase.

Reconheço que, via políticas distributivistas, houve melhora sensível nas condições de vida da população mais empobrecida e, contrariamente a esses setores conservadores, penso que os que têm fome devem comer agora e representa algum avanço poder fazê-lo dessa forma. Também sei que tornar o povo cliente do Estado alimenta vícios antigos, imobiliza e torna contínua a submissão ao mesmo Estado, seja lá quem for governo. Isso demonstra bem a tomada do eleitorado mais próprio do DEM nos cantões do país pelo próprio PT, assim como deve ocorrer a mesma variação assim que o PT deixar o governo federal.

Sair com a história de que é preciso ensinar a pescar em lugar de dar o peixe serve para quem tem a barriga cheia de comida e a cabeça cheia de ideologia do mérito pessoal, que tem provado sua eficácia histórica na mesma proporção que uma nota de trinta reais encontra aceitação no comércio.

Ainda que faça a crítica pela esquerda da experiência petista no governo federal, não posso deixar de reconhecer que os reacionários de plantão não perdoariam o mínimo deslize dos membros desse partido, ainda que o deslize fosse a integração à forma de fazer política tradicional no Brasil.

A cobrança não é a mesma. Assim como membros da população que sofre discriminação racial, sexual, de gênero, precisam provar duas vezes sua capacidade e eficiência em qualquer posto que ocupem, serve para partidos de origem popular a lição. Achar que se utilizariam dos mesmos mecanismos de garantia de governabilidade tradicionais e sairiam ilesos foi o principal equívoco dos que sentam agora no banco dos réus.

A opção de conciliação dos antagonismos brasileiros, que só podem ser resolvidos de fato com o rompimento da ordem burguesa, além da ilusão de um desenvolvimento possível beneficiando ao mesmo tempo o grande capital e a população estão na base de melancólico fim de carreira de alguns dos principais quadros do petismo.

Claro que o leque de opções numa dada conjuntura é obra da contingência. O problema é pelo que optar. Ao decidir pelas garantias ao grande capital e por distribuir migalhas ao povo ficou selado o destino.

A sabedoria popular poderia ter resolvido isso de outra forma. Ouvi certa vez de um trabalhador rural que ao montar cavalo alheio deve-se cavalgar com prudência. Os vícios do cavalo, que são conhecidos de seu dono, podem ser fatais aos que se aventuram ao trote acelerado.

Fica a lição.

Cesar Mangolin é sociólogo, mestre em educação e doutorando em filosofia.


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