Para compreendermos o desenvolvimento e a estrutura dessa classe de forma correta precisamos não só como colocá-la em um plano de análise técnico e ideológico, como também resgatar alguns conceitos e teorias clássicas do Marxismo.
O avanço da classe média se tornou o paradigma e a principal política a ser seguida pelo atual governo neo-liberal petista. Tem sua expressão máxima em medidas pró-mercado, ou seja, medidas que tendem a estimular o excessivo consumo e facilitar a realização deste. A política de desenvolvimento dessa classe é vista por muitos sociólogos como um grande avanço em nosso país, é contemplada por diversos setores políticos e até mesmo de forma surpreendente por alguns partidos e organizações que se auto-intitulam de esquerda.
Longe das análises dos intelectuais burgueses e dos sociólogos contemporâneos, os clássicos do marxismo já nos apontavam o fio condutor a qual devemos utilizar ao abordar esse assunto. Na espetacular obra Contribuição à Crítica da Economia Política, Marx sintetizaria toda a teoria do materialismo histórico em uma única frase: “Não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas, pelo contrário, seu ser social que determina sua consciência”. São colocadas as cartas sobre a mesa, afinal, qual a consciência de classe e o ser social que são desenvolvidos no seio da nova classe? É de conhecimento de todos que a classe média brasileira foi e continua sendo construída em cima de um exacerbado consumo selvagem, fundamentando e enraizando seu ser social na prática do consumo. Sua consciência torna-se fruto de sua prática consumista e a quimera está feita! Reflexo de sua práxis, a consciência acaba por refletir os valores burgueses, o cego poder de compra, o individualismo, o comodismo e os demais valores reacionários que emergem do consumo na sociedade capitalista. O consumo alienado consome o Ser e o transforma Ser Alienado, mais ainda, ocorre uma verdadeira metamorfose kafkiana com o Ser e o Ter acaba por substituir seu lugar.
Uma classe conservadora, reacionária e principalmente despolitizada, essa é a classe que a política do governo petista vem construindo e mantendo desde o início da década. Longe de ser ingenuidade ou um equívoco político, a forma que se da o desenvolvimento da classe média no país somente demonstra como é forte o comprometimento por parte do governo com os interesses da classe dominante e com o Capital. Em nome do pragmatismo o petismo vem cavando o túmulo da consciência revolucionária e da revolução, fazendo com que cada vez mais as massas populares se insiram nas fileiras do reacionarismo. Não se trata portanto de incentivar a socialização da miséria entre o povo brasileiro, longe disso, lutamos pela elevação da qualidade de vida de todos os trabalhadores, mas a elevação dessa qualidade pela via do consumo reacionário é uma política que em sua essência vem a servir somente ao empresariado e aos detentores do poder econômico que enriquecem cada vez mais os seus bolsos e ainda assistem a passividade vinda das massas populares completamente dopadas pelo consumo.
Mas o problema maior ainda está por vir, pois a classe média flutua, não em seu paraíso do consumo, mas entre o proletariado e a classe burguesa. Sua instabilidade econômica lhe aspira o medo de perder tudo que comprou, as pernas de madeira em que se sustenta começam a tremer e sua marginalização lhe espera. A catástrofe está no que a história já nos mostrou, se a esquerda não conseguir dar uma resposta revolucionária a crise e não conseguir arrastar essa classe vacilante as fileiras da revolução contra o Capital, a tendência é que o ultra-reacionarismo queira solucionar os problemas a sua maneira, afinal, continuam válidas as palavras de Dalmiro Sáenz, pois nada se parece mais a um fascista que um burguês assustado.