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384px Aécio Neves em 23 de outubro de 2014 2Brasil - Diário Liberdade - [Edu Montesanti] “E o Aécio Neves, não é da oposição?”, teria dito Rocha [entregador da propina]. O diretor da UTC teria respondido, na versão do delator: “Aqui a gente dá dinheiro prá todo mundo: situação, oposição, […] todo mundo”.


Foto de Marcos Fernandes (CC BY-SA 2.0) - Aécio Neves em 2014.

 

Atual onda de esquizofrenia justiceira pela direita, e histeria democrática à esquerda no Brasil, trata-se de velha briga pela usurpação do poder sustentada por uma sociedade em geral despolitizada, intolerante e individualista, com fortes raízes reacionárias. Eterno País do Futuro, conduzido do nada a lugar nenhum.

“Nossa Constituição é uma brilhante fachada, por trás da qual se abre um enorme terreno baldio”
(Fábio Konder Comparato, jurista)

Quanto mais se desenrolam os fatos no Brasil – cuja corrupção e demagogia política são endêmicas muito antes de o PT assumir a Presidência em 2003, bem como enraizadas na sociedade brasileira em geral –, mais se evidencia o caráter oportunista e reacionário, de baixíssima estatura moral e intelectual por trás da esquizofrenia justiceira que toma conta do Brasil, desde as denúncias e os patéticos espetáculos que envolveram o julgamento do (criminoso) Mensalão petista, até a atual histeria em relação à Petrobras por aqueles que, paradoxalmente, sempre deixaram claro o desejo de entregar uma das companhias petrolíferas mais eficientes do mundo, ao capital estrangeiro, cujas mentes “inteligentes” ignoram que nenhum país ao redor do globo, dada a realidade internacional, abre mão de seu petróleo.

Mas no raciocínio ultraconservador tupiniquim sim, mata-se o cachorro para eliminar as pulgas.

Do outro lado, a histeria democrática por parte de setores com pobre aspecto e discurso progressista de essência igualmente reacionária, parte da formação e da história brasileira dos oportunismos e do ‘jeitinho’, apoiados na ignorância excessiva, estão levando o tão altivo quanto vazio Estado brasileiro ao mesmo lugar de sempre.

Dos desdobramentos do Mensalão ao atual escândalo da Petrobras, não se dão conta, tão atarefados com seus interesses político-partidários, que exercem o mesmo jogo, tão baixo quanto inócuo, que criticam com tanta indignação.

Não sem motivo, vê-se refém, de mãos completamente atadas diante das jogadas elitistas, não raras vezes acompanhada de violência física. Não sem motivo, parece não haver alternativas ao Brasil.

Entre duros julgamentos (seletivamente antecipados pela mídia corporativa) e inúmeras cassações, o País parece andar como sempre andou: em círculo. Por quê?

Denúncias de propina de R$ 300 mil a Aécio Neves

"O crime organizado e a corrupção prosperam em regiões e países em que a confiança popular nas instituições é frágil" (Misha Glenny em McMáfia - Crime sem Fronteiras)

Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará e encarregado de entregar dinheiro ao doleiro Alberto Yousseff, revelou em depoimento na Justiça que levou R$ 300 mil no segundo semestre de 2013 ao diretor da empreiteira UTC, Antônio Carlos D’Agosto Miranda, que seriam entregues a Aécio Neves, senador de Minas Gerais pelo Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB).

O jornal brasileiro Folha de S. Paulo publicou reportagem sobre este fato em 30 de dezembro, sem muito destaque fato da maior relevância na política brasileira, como sempre quando envolvem principalmente PSDB e Democratas (DEM).

Nela, o jornaleco (maior promotor do golpe militar de 1964, ao lado de O Globo) expõe documento que revela trecho do depoimento de Rocha, em que o diretor da UTC havia reclamado da demora pela entrega do dinheiro. “Ainda bem que chegou”, disse Miranda a Rocha quando o valor lhe foi entregue por este. “Eu não aguentava mais a pessoa me cobrando tanto”. Rocha contou em seu depoimento que perguntou quem era essa pessoa, e o diretor da empresa respondeu: “Aécio Neves”.

A alta direção da UTC já havia admitido em seus depoimentos que Miranda, acusado pelo Ministério Público por responsabilidade nos “acertos” de propina com o PMDB na obra de Angra 3, recebia, guardava e entregava dinheiro destinado a políticos.

O que muito dificilmente a grande mídia brasileira faz quando se trata do PT e de partidos de esquerda – valendo-se contra estes (em muitos casos, nada valorosos, é importante observar) de toda e qualquer acusação e de meros factoides para sentenciar culpas e dolos –, a Folha de S. Paulo publicou o “Outro Lado” na reportagem, em que a assessoria de Imprensa do senador mineiro considera o depoimento “absurdo e irresponsável”. Alega que Aécio apenas recebeu verbas legais da UTC para a campanha presidencial no ano seguinte, em 2014.

Sobre isto, muito bem observa Fernando Brito que dinheiro destinado a campanhas, especialmente presidenciais, envolve milhões de reais. E relembra ainda que a UTC, que também negou ao jornal brasileiro o fato, “já havia admitido, em depoimentos, que Miranda recebia, guardava e entregava dinheiro destinado a políticos”.

Além do mais, tal prática não é exceção quando Aécio Neves e o próprio PSDB estão em questão. Muito pelo contrário.

Breve histórico de Aécio, ocultado pela mídia

“Confirmo [que Aécio recebeu dinheiro de corrupção] por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre e eu era operador dele”, Alberto Yousseff

Ocultado pelo oligopólio midiático brasileiro, o histórico do senador Aécio Neves não lhe é nada favorável.

Não é pequena a lista que envolve “o mocinho da grande mídia” em fracassos políticos, autoritarismo, nepotismo, suspeitas de improbidade administrativa e comprovados casos de corrupção (até vício em cocaína com bastante embasamento, cujo político, quando questionado no programa de entrevista Roda Viva da TV Cultura do Brasil anos atrás, atrapalhou-se visivelmente) sem o devido acompanhamento midiático e sem a mínima seriedade jurídica, tão rigorosa em outros casos, sistematicamente.

Não se trata, aqui, de tomar irresponsavelmente como verdade absoluta a delação de Rocha, fazendo assim o mesmo jogo da ditadura da informação oligárquica brasileira quando se trata de condenar aqueles que não fazem parte de seu cartel – prática fortemente vista no Mensalão petista (o que não alivia a culpa dos envolvidos), e dos atuais escândalos envolvendo a Petrobras que não são privilégios de apenas um partido, e nem muito menos corrupção praticada somente nos últimos anos conforme tem sido passado a uma opinião pública completamente perdida em meio a uma torrente de informação e pouca contextualização.

Deixemos este jogo baixo para a jornalada tupiniquim, para os meios de desinformação em geral mestres na persuasão e no embaralhamento do entendimento coletivo, e para alguns outros meios que se dizem alternativos no Brasil os quais, neste caso envolvendo a denúncia de Rocha praticando – com cinismo nada surpreendente a quem conhece o caráter de grande parte da dita esquerda e o próprio “caráter” nacional, terra dos oportunismos, do ‘jeitinho’ e da falta de compromisso –, têm uma vez mais feito, desgraçadamente, aquilo que ao mesmo tempo tanto têm abominado ao longo dos anos – igualzinho ao PT que os controla, ora oposição puritana que embarca na Revolução Bolivariana para se vender como um deles, ora governo traindo todo o barulho e show de intelectualidade que tentou demonstrar (e jamais enganou este autor) em um remoto passado.

A seguir, um pouco das traquinagens de Aécio Neves na política e até sua forte influência na grande mídia brasileira, quando seus interesses mesquinhos se veem ameaçados por pessoas de bem, atropeladas impiedosamente pelo “coronel” mineiro.

Este contexto sim, ao definir quem é mais este político de péssimo gosto no cenário brasileiro, desempenhar assim importante papel no caso em questão, se é que vai se desenrolar, dar desde já parecer se o delator está mentindo, o que não parece levando-se o contexto dos fatos em questão, e mais que tudo evidenciar quem é este outro patético mito da politicagem mais baixa, Aécio Neves, criado pelos mesmos setores promotores do golpe militar no Brasil que nunca mudaram sua essência golpista, um mito aceito por uma sociedade com fortes raízes reacionárias.

Serve também para mostrar porque a sociedade tem todos os motivos para desfazer este mito, e dar toda a importância às atuais denúncias – o que não tem feito, e nem irá fazer.

Mensalão Tucano. O escândalo conhecido como Mensalão Tucano (do PSDB), executado em 1998 no estado de Minas Gerais quase que completamente ignorado pelas empresas de mídia brasileiras e pela opinião pública nacional, foi o que deu origem ao Mensalão Petista.

O governador era Eduardo Azeredo, candidato à reeleição, e Aécio Neves, deputado federal que concorria também à reeleição. Além do próprio governador à época, as denúncias envolviam Clésio Andrade, que seria vice-governador de Aécio Neves em (...), seu primeiro mandato, entre outros onze personagens – a maioria, políticos do PSDB – em um escândalo que envolve peculato e lavagem de dinheiro em desvios de nada menos que R$ 3,5 milhões (R$ 13,5 milhões, corrigidos).

A campanha de Aécio Neves para a Câmara dos Deputados foi favorecida pelo esquema de corrupção com R$ 110 mil. Outro fato envolvendo Aécio é que o jornalista e ex-secretário de Comunicação do governo de Azeredo, Eduardo Guedes, acusado de ser um dos principais protagonistas do esquema, continua prestando serviços não apenas ao PSDB, mas também diretamente a Aécio Neves, senador da República.

Censura à TV Band. "Gente, nunca vi tanto carro de autoridade chegando ao Mineirão. São quase 10 mil convidados do Brasil inteiro, naturalmente com ingresso garantido. E o povo? O povo só teve acesso a 42 mil ingressos, caríssimos!!"

Em 2 de junho de 2004, o jornalista Jorge Kajuru transmitia, pela Rede Bandeirantes de TV (Band) a chegada da torcida brasileira ao estádio do Mineirão, na capital mineira de Belo Horizonte, onde jogariam Brasil contra a Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006.

De repente, Kajuru observa pessoas com deficiência física, com ingressos na mão, impossibilitadas de entrar no estádio. No lugar delas, ingressavam componentes da alta sociedade mineira inclusive políticos de todo o País, todos com milhares de convites nas mãos. Concedidos por quem? Pelo então governador do Estado de Minas Gerais, Aécio Neves.

Kajuru passou a, indignado, entrevistar aqueles que haviam pago para assistir ao clássico do futebol mundial, que passaram a ser espectadores totalmente passivos, desacreditados da entrada da socialyte brasileira em seus lugares.

Kajuru chamava a câmera da Band a registrar também a entrada da elite no estádio, até que, repentinamente, a central da emissora chamou o intervalo, sem nenhuma explicação: Kajuru saiu do ar para nunca mais voltar. Sem nenhuma explicação...

O jornalista que garantia então a maior audiência da gigante TV brasileira, famoso pela imparcialidade e coragem, com ganhos que superavam os 70 mil dólares, acabou demitido no dia seguinte por ordem irredutível de Aécio Neves.

Veja vídeos.  

Eleições’ 2014: Derrota em Minas. Antes de mais nada, o candidato presidencial preferido da mídia derrotado no segundo turno nas eleições presidenciais de 2014, que se declarou vitorioso moral, perdeu dentro do próprio Estado onde é senador, que governou de 2003 a 2010.

Tal derrota (que revela muito e os motivos ficarão claros nas linhas a seguir) não apenas não é lembrada pela mídia e pela sociedade brasileira em geral, como a imensa maioria dos brasileiros nem sequer tem conhecimento deste fato.

As seguintes informações foram retiradas, parcialmente, da publicação do sítio brasileiro Carta Maior, em 17 de outubro de 2014, intitulada 14 Escândalos de Corrupção Envolvendo Aécio e o PSDB, e Aliados, de Najla Passos.

Desvio das verbas da saúde mineira: R$ 7,6 bilhões. Na última terça (14), no debate da Band, a presidenta Dilma acusou Aécio Neves de desviar R$7,6 bilhões da saúde quando foi governador de Minas Gerais.

O tucano disse que ela estava mentindo e, então, Dilma convidou os eleitores a acessarem o site do Tribunal de Constas do Estado (TCE). Naquela noite, o site saiu do ar, segundo o TCE devido à grande quantidade de acessos.

Nesta quarta (15), o site voltou, mas os documentos citados por Dilma desapareceram por cerca de 4 horas, até a imprensa denunciar a manobra.

A presidenta do TCE, Adriane Andrade, foi indicada por Aécio e é casada com Clésio Andrade (PMDB), seu vice-governador no primeiro mandato.

Aecioporto’ de Cláudio: R$ 14 milhões. Quando era governador de Minas Gerais (2003-2010), Aécio construiu cinco aeroportos em municípios pequenos, todos eles nas proximidades das terras de sua família.

O caso mais escandaloso foi o de Cláudio, com cerca de 30 mil habitantes e que já fica próximo a outro aeroporto (o de Divinópolis, há apenas 50 Km). A pista, que foi construída a 6 Km da fazenda do presidenciável, fica nas terras do tio-avô de Aécio, desapropriadas e pagas com dinheiro público.

Quem cuida das chaves do portão são os primos de Aécio. Custou R$ 14 milhões aos cofres mineiros.

Relações com Yousseff : R$ 4,3 milhões. O doleiro Alberto Yousseff ficou conhecido nacionalmente devido ao seu envolvimento no escândalo da Petrobrás. Mas a Polícia Federal também investiga os serviços prestados palas empresas de fachada do doleiro para uma outra estatal, a mineira Cemig, controlada há anos pelo PSDB de Aécio Neves, principal líder do partido no Estado.

As suspeitas é que a Cemig tenha sido usada para engrossar o caixa do grupo, através da parceria com a empresa Investminas, uma sociedade de propósito específico, criada para construir e operar pequenas hidrelétricas, cuja única operação comercial foi uma parceria firmada com a Cemig.

Vendida à Light, a participação na sociedade rendeu à Investminas, em poucos meses, R$ 26,586 milhões, um ágil surpreendente de 157%. Três semanas depois, R$ 4,3 milhões foram depositados pela Investminas na conta MO Consultoria, empresa de fachada usada por Yousseff.

As suspeitas é que tenham sido destinados a pagar os agentes públicos envolvidos na operação. O caso ainda está sob investigação.

Favorecimento aos veículos da Família Neves: Valor não contabilizado. Nem Aécio Neves e nem o governo de MG divulgam qual a fatia da publicidade oficial do estado foi parar nos meios de comunicação da família do presidenciável, de 2003 até agora. E a falta de transparência, claro, gera suspeitas.

A família Neves controla a Rádio Arco Íris, retransmissora da Jovem Pan em Belo Horizonte, e as rádios São João e Colonial, de São João del Rei, além do semanário Gazeta de São João del Rei.

Aécio é sócio da Arco Íris com a mãe e irmã mais velha, Andrea que, quando ele foi governador, era coordenadora voluntária do grupo de assessoramento do governo que tinha como atribuição estabelecer as políticas de comunicação do governo e aprovar os gastos em publicidade.

Nepotismo em Minas. Aécio diz que é a favor da meritocracia, mas, além de receber pelo gabinete do pai, em Brasília, quando morava no Leblon, de 1980 a 1983, não deixou de empregar parentes quando governou Minas.

A lista é longa.

Oswaldo Borges da Costa Filho, genro do padrasto do governador, foi presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico e Minas Gerais.

Fernando Quinto Rocha Tolentino, primo, assessor do diretor-geral do Departamento de Estradas e Rodagem (DER/MG).

Guilherme Horta, outro primo, assessor especial do governador.

Tânia Guimarães Campos, prima, secretária de agenda do governador.

Frederico Pacheco de Medeiros, primo, era secretário-adjunto de estado de Governo.

Ana Guimarães Campos e Júnia Guimarães Campos, primas, servidoras do Servas.

Tancredo Augusto Tolentino Neves, tio, diretor da área de apoio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

Andréia Neves da Cunha, irmã, diretora-presidente do Serviço de Assistência Social de Minas Gerais (Servas). Segundo Aécio, o trabalho da irmã era voluntário.

“Me diga com quem você anda, e lhe direi quem é”, diz o vezo popular. Pois o histórico de Aécio Neves trilha exatamente o mesmo caminho do setor midiático que lhe prestou ridícula panfletagem nas últimas eleições presidenciais, assim como a Fernando Henrique nas campanhas de 1994 e 1998: enlameado, mentiroso, ganancioso, autoritário, golpista e cínico.

Ora reação, ora silêncio: Cínicas conveniências

“Quando se descobriu que a informação era um negócio, a verdade deixou de ser importante” (Ryszard Kapuściński, jornalista e escritor polonês, 1932-2007)

Enquanto está impossível dialogar no Brasil dada a agressividade além da própria ignorância excessiva por parte das mentalidades elitistas, muitas das quais autoconsideradas “elite intelectual”, uma a uma as denúncias contra o “bom moço” mineiro terminam invariavelmente em estridente silêncio, insuportavelmente ensurdecedor por parte da tradicional reação tão ferozmente “indignada” com corrupção em “certos casos”, tão “politizada” e “moralista” com um toque ainda de filosofia política e até religiosa.

Uma das elites mais ignorantes, histéricas, preconceituosas e individualistas do planeta. Apoiada por uma “esquerda” em grande parte dessituada, descompromissada, apática, absolutamente inerte como sempre, sem norte, arrogantemente ocupada com seus interesses político-partidários. Contra fatos, não há argumentos.

Procurados nas ruas, ali os reacionários brasileiros não se encontram agora, não para manifestar indignação contra Aécio ou ao menos exigir séria e conclusiva investigação sobre mais este escândalo de corrupção envolvendo um dos perfeitos representantes das classes mais abastadas do Brasil.

Não são vistos e nem ouvidos sobre os R$ 300 mil assim como não foram por nenhum dos casos apontados mais acima, e não por falta de informação mesmo que o país sofra a ditadura dela, nem pelo evidente analfabetismo político que assola o País do imponderável se não bastassem os 50% de analfabetos (incluindo funcionais).

Estão encolhidos uma vez mais, simplesmente, por falta de vergonha na cara. É claro, o cinismo gera apatia enquanto retira do indivíduo personalidade e uma das virtudes mais dignas: brio.

Pouca hipocrisia é sempre uma grande bobagem no Brasil. A farra moral e intelectual continua, à direita e à esquerda.

“Nordestinos vagabundos!”: Intolerância, discriminação e incoerência, irmãs trigêmeas

“Ô, Lobato: mas se todos aprenderem a ler e escrever, quem vai pegar na enxada?” (Do proprietário do jornal O Estado de S. Paulo, quando o escritor propôs campanha para erradicar o analfabetismo no Brasil)

O mote da agressividade dos setores reacionários tupiniquins na campanha presidencial de 2014 no Brasil, conforme alegado mais acima indialogáveis pela ignorância dos fatos tanto quanto pelo caráter violento foi o Bolsa Família, que envolve R$ 25 bilhões enquanto o pagamento da dívida interna e externa, cheia de raiva e de falso moralismo defendida pelos setores mais conservadores, está cerca de nada menos que R$ 2,5 triilhões.

Como pouca desgraça é também uma grande bobagem neste perpétuo festival da tragicomédia nacional, tendo como protagonistas agora os ferrenhos defensores do retorno à ditadura militar, passou desapercebido ou não se quis perceber que o próprio xodó dos reacionários na última campanha presidencial, Aécio Neves, afirmou nos debates com a presidenta e então candidata à reeleição, Dilma Rousseff, que não encerraria o Bolsa Família, mas que o ampliaria.

Um dos principais e sempre fragilíssimos argumentos dos críticos do Bolsa Família, é que “sustenta vagabundos, especialmente nordestinos que, além de não trabalhar, geram mais filhos para ter o benefício aumentado”. E que “programa social eficiente, melhora as condições de vida da sociedade ao invés de ampliar o número de beneficiados”.

Pois os paladinos da ética, da verdade e da justiça ignoram uma vez mais os fatos: que o número de filhos por família beneficiada pelo Bolsa Família tem diminuído consideravelmente ao longo destes anos, enquanto o emprego formal tem crescido desde que o PT assumiu o poder como nunca antes na história do Brasil (que as condições de trabalho seguem precárias e os salários da maioria destes empregos gerados, ínfimos, são uma outra questão a ser discutida, sob outra perspectiva até porque os políticos defendidos pela ala mais conservadora da sociedade brasileira não têm apresentado nenhum projeto nestes campos, e quando ocupam poderes nas mais diferentes esferas nacionais, apenas pioram o quadro: menos emprego, menos salário – o salário mínimo, ainda muito ruim, tem obtido aumento real como nunca antes na história do Brasil – com a mesma ou pior precariedade nas condições laborais).

A ignorância, a intolerância e a discriminação têm estado fortemente presentes no imaginário coletivo brasileiro, têm pautado todas suas ideias e “debates”. Para os portadores dessas antivirtudes, o dinheiro investido em programas sociais (irrisória quantia nos governos Dilma e Lula) deveria ser aplicado na construção de mais presídios, para se ter noção da “grandeza” intelectual e pessoal desse tipo de gente.

É bem verdade que grande parte dos programas, pela maneira de si mesmas e pelo contexto mais amplo, acabam muito mais como paliativos que terminarão em bolha sempre prestes a estourar.

Porém, o raciocínio contrário, isto é, investir no social para tirar da rua, evitar a criminalidade e educar, eliminando ocupações prisionais, é simples matemática, incompreensível a tais setores que ainda hoje, após todas as condenações internacionais, clamam por retorno da sangrenta ditadura militar que tanto atrasou este País – a começar culturalmente.

Nem servem como exemplos os da vizinha Argentina, jamais! Onde o ex-presidente Rafael Videla, ditador militar de 1976 a 1981, faleceu em 2013 em carecer comum, condenado em prisão perpétua.

Lá, há centenas de ex-militares que torturaram e assassinaram julgados e devidamente condenados. Boa parte da sociedade, até hoje, não sai das ruas clamando por verdade, memória e justiça, dando inclusive recomendações para que a sociedade brasileira faça o mesmo em apoio à Comissão da Verdade (feitas especialmente por Estela de Carlotto, líder das Avós da Praça de Maio), já falida no Brasil. De nada adianta...

Muitos, muitos e muitos no Brasil nem sequer sabem quem foi João Goulart, um dos presidentes mais populares, sem nenhum tipo de envolvimento com corrupção derrubado inconstitucionalmente em 1964.

Nem se sabe quem foi o primeiro presidente militar que o sucedeu: Humberto Castelo Branco, autor da célebre frase logo que assumiu o poder fantoche: “O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”.

Assim como a imensa maioria da sociedade sabe do filho fora do casamento que seu presidente eleito e reeleito, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), tem com a jornalista Miriam Dutra dela, da dona Rede Globo, gerado quando o ex-presidente era senador, em 1991.

A mídia local, altamente sensacionalista, sempre escondeu tal fato ao passo que, pelos idos de 2003-2004, fez enorme estardalhaço sobre a possibilidade de o então presidente Lula costumar tomar... caipirinha!

À época, até os mais ilustres representantes da direita brasileira espalharam na Internet toda a indignação diante de tal possibilidade, chegando à beira da exigência de cassação do mandato presidencial. “Ele não pode ser presidente do [tão moralista] Brasil!”.

O furor nacional foi tão grande, que as possíveis doses de caipirinha de Lula viraram notícia inclusive no New York Times. O que o jornal norte-americano e as classes mais abastadas no Brasil nunca se lembraram então, foi que tal bebida é uma das preferidas da sociedade brasileira, inclusive daquelas mesmas classes que tanto se indignaram enquanto, certamente, desfrutavam da tal caipirinha nas ensolaradas praias de Ipanema, Copacabana, Guarujá, em suas fazendas etc.

O oportunismo e a excessiva ignorância reinam soberanos no Brasil.

Tratavam-se também dos mesmos eleitores do nada fiel aos princípios morais, Fernando Henrique Cardoso. Mas isso já não importava, como jamais importou o fato de que este (padrinho político de Aécio Neves) havia comprado a reeleição junto ao Congresso, na calada da noite. Muitos, tampouco sabem disso no judiado Brasil.

Discutir temas como a renúncia de Jânio Quadros (prefeito, governador ou algo assim?), as mortes de Juscelino Kubitschek e de Getúlio Vargas, são tarefas quase impossíveis no Brasil: estas não geram a típica reação pela ausência de interesse, antes do mínimo conhecimento.

Tal desconhecimento generalizado impera também nas faculdades brasileiras, que hoje em dia mais se assemelham a shopping centers pelo comércio –  de lanches, de diplomas e de muitas bugigangas em geral –, e pelo desfile de modas e de toda a espécie de futilidades autoencaradas como supra-sumo de uma sociedade inegavelmente decadente.

Este horrendo fato sofrido em 2015 por este autor no Brasil, retrata perfeitamente o que se tem enfrentado no País: por vestir algumas vezes boina semelhante à de Che Guevara, este autor viu-se intimidado por alguém que se dizia cheio de ódio de petistas, ao que acrescentou estar à caça destes a fim de pendurar em pau-de-arara e espancar devido à atual situação brasileira.

Os nomes dados pelo justiceiro da democracia a quem tivesse votado no PT eram os mais baixos possíveis. Quando ainda acreditava que se tratava de debate cidadão, este autor afirmou que não era eleitor do PT, a não ser em segundos turnos (quando há risco de os reaças assumirem o poder).

Não apenas desconfiado de que o interlocutor era, sim, “perigoso”, “execrável” petista, tal explicação não diminuiu o furor, votar no PT em qualquer situação.

Pois em determinado, sozinho com a jovenzinha esposa deste autor, de menos de 1,60 de altura, o bruta-montes de uns 120 kg e cerca de 1,90 de altura, a “perguntou” (ou ameaçou): “Seu esposo é petista, não é?!”.

Até bombas têm-se soltado contra edifícios petistas – sob a total inércia deste, muito bem apontada recentemente pelo jornalista José Arbex Jr. Na revista Caros Amigos, em artigo intitulado Me Bate que Eu Gosto, referindo-se, obviamente, à covardia petista colhida por seus próprios atos politiqueiros, que o fazem prisioneiros do sistema.

O Brasil está insuportável!  

Eis o subproduto da grande mídia e a omissão diante disso tudo por parte da “esquerda”.

O Brasil está em seu devido lugar: sem chão, completamente dessituado.    

Classificar todo esse festival da ignorância mais agressiva de “incoerência”, é um grande eufemismo. Há vários adjetivos para isso, e um deles é, no mínimo, muita estupidez decorrente dos traços já mencionados que andam de mãos dadas, o caráter fortemente intolerante, discriminatório além da gritante (no sentido mais amplo do termo) ignorância que marca a ala reacionária tupiniquim.

Toda nação é o retrato perfeito da prática jornalística, transmissora de conhecimentos e formadora de opinião –  estudos científicos apontam neste sentido –. Pois os grandes meios brasileiros, que se recusam a sequer discutir a democratização da mídia brasileira, deveriam ao menos discutir o tipo de cidadão que “subreproduzem”, enquanto perpétuos desconstrutores da realidade social, política e econômica.

Avanço a lugar nenhum: Sem autoanálise, com ‘jeitinho brasileiro’ e muito autoengano

“A revolução não é só uma bisteca no prato em cada mesa, nem muito menos uma TV em cada quarto e nem, absolutamente, um carro em cada porta. A revolução é, sobretudo, uma mudança de atitude nas relações humanas” (Alfredo Maneiro, político venezuelano)

“Achado não é roubado”. “Levar vantagem em tudo”. “O mundo é dos espertos”. “Para tudo, deve haver o ‘jeitinho’ brasileiro’ [trambiques e mutretas]”.

Tais velhas máximas compõem a sábia Lei de Gérson, a qual não é criação deste autor e nem de grupinhos isolados no Brasil, mas regem as relações sócio-políticas brasileiras desde tempos coloniais.

Sem esses ingredientes é quase impossível sobreviver no Brasil, a começar pelos rótulos impostos pelos jogadores da Pátria de Chuteiras: “radical”, “otário”.

Tudo isso, só seria possível no país que menos lê no mundo, de dimensões continentais que possui menos livrarias que, apenas, a cidade de Buenos Aires (tampouco por culpa deste autor, vale ressaltar a que pese o fato de sermos “penta”).

Além dos 50% de analfabetos no Brasil (incluindo funcionais), o analfabetismo político é forte como em poucos lugares do globo, consequência de todo o apontado mais acima.

País sem autoafirmação cultural, sem identidade que não se crê latino, que não sabe bem sua posição no mundo, que dentro de casa perpetua, por exemplo, a noção de que a coisa pública, que é de todos, não pertence a ninguém.

É verdade que tudo começa nos governos, estes são os grandes responsáveis pelo tenebroso quadro que nos assola. Mas é incontestável mais que a acomodação: a profunda recusa em se mudar a mentalidade e o Brazilian Way of Life (em inglês, por motivos didáticos, entenda quem quiser).

O PT se vê hoje vítima do próprio veneno de não ter mudado em absolutamente nada o quadro “deseducativo” brasileiro, diante de uma sociedade levada como areia para todos os cantos pelas enraivecidas mídia e mentalidades elitistas em geral, e por ter se omitido em seguir o que qualquer nação democrática vislumbra (inclusive os tão admiráveis Estados Unidos, da própria grande mídia e dos sonhos das mentalidades elitistas locais): a regulamentação da mídia. Agora, parece ser tarde para se tomar alguma medida nestes sentidos.

Em contraposição à esquizofrenia justiceira da direita, está a histeria democrática da “esquerda” brasileira. Pois é isto mesmo: no Brasil há apenas contraposição na ferrenha disputa pelos porões do poder, não oposição à estupidez. E a briga pelos privilégios esquenta cada vez mais!

Vemos desde os desdobramentos do Mensalão Petista, grande parte de uma mídia dita alternativa como face de uma mesma moeda politiqueiro-midiática, praticando constante e cinicamente aquilo que tão “indignadamente” critica. Neste sentido, aprenderam muito bem a lição demagógica com o PT.

Situação emblemática deu-se em 2013, o “intelectual” Emir Sader, filiado ao PT e digníssimo mestre da esquerda brazuca, “qualificou” os sem -teto que protestavam na cidade de São Paulo à época, de “cachorros vira-lata”.

Motivo do protesto: ausência de políticas públicas por parte da Prefeitura (petista) e do governo federal em relação à moradia. O suficiente para gerar a mencionada “reação do progressista” comentarista brasileiro.

No Brasil, a “lógica” das coisas anda por aí...

Vale deixar registrado aqui que em termos de moradia e saneamento básico, o País realmente não avançou quase nada desde que o PT assumiu a Presidência, em 2003.

Isso deveria dizer ou contradizer a “intelectualidade” tupiniquim, ater-se à objetividade que caracteriza a eficiente e necessária comunicação social deveria aparecer em cena. Mas é claro, a aplicação de adjetivos em detrimento dos fatos e de argumentos com base nele, levaria à situação real do Brasil, que é lamentável – embora o demônio esquerdista seja bem mais enfeitado pela grande mídia, assim como o capeta da direita, por vezes, sofre do mesmo.

Não há para onde correr no Brasil, nem para a Polícia, nem para o bandido, nem para um espectro sócio-político e nem para outro. A solução parece ser, sempre, correr de todos no país do imponderável.

A “seletiva indignação” recheada de agressividade (inclusive física, não raramente) por parte dos amplos setores conservadores, seguidos pelo mesmo caráter dos autodenominados progressistas que apenas se diferem no tipo do discurso, leva o eterno País do Futuro a caminhar ao mesmo sentido de sempre: de nada a lugar nenhum.

Politicamente o Brasil segue fadado a optar pelo “menos nocivo” diante do atual sistema político comprado por bancos e megacorporações, baseados no maquiavélico toma-lá-dá-cá com seus “produtos” políticos levando a sociedade (que dá sinais de gostar de ser levada), distraída pelo marketing do mais baixo nível que habilita candidatos a vender seus subprodutos, a ser absolutamente incapaz de perceber – ou não querer perceber, dada a mentalidade preponderante – opções que apresentam novas ideias e projetos ao Brasil.

Isso tudo reforçado pelo anti-jornalismo sem fim, pela monstruosa incapacidade intelectual e pela completa indisposição de luta da chamada “esquerda” nacional.

Pois da mesma maneira hoje, com todos os escândalos de corrupção e seus respectivos “julgamentos”, trata-se de ilusão a generalizada e fixa ideia de que o Brasil passa por “mais uma grande limpeza”. Trata-se, isto sim, de mais uma feroz briga pelo poder e da defesa de privilégios travada entre os usurpadores do poder – entre eles, o próprio PT.

Ou o Brasil opta por iniciar a dolorosa tarefa da autoanalise, única capaz de proporcionar conscientização e apontar às mudanças positivas, ou autoengano seguirá fazendo do país do futebol, do carnaval e da bunda da mulata, exemplo mundial a não ser seguido.

Ou será que o mundo inteiro está errado? Não é o que a situação agora, catastroficamente oportuna para reflexões, parece nos dizer...

Já dizia Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena se a alma não é pequena", Mas por enquanto no Brasil, ainda devemos, alguns, contentarmo-nos com os auspícios de Darcy Ribeiro, “O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na herança que torna nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso”.

Outros tantos, ainda se contentam em culpar raivosamente ao próximo e até aos pobres pela pobreza, quando o espelho do Brasil reflete uma imagem completamente deformada de democracia e de cidadania.


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