Foto: Manifestação do dia 26 de junho. Por KKE.
Os habitantes da República devem decidir, no dia 5 de julho, entre o “Sim” que representa aceitar todas as medidas impostas pelo FMI e o Banco Central Europeu (entre elas um aumento considerável dos impostos e corte nas aposentadorias) ou o “Não” que significa uma serie de outras medidas mais “brandas” formuladas pelo governo grego. Ao optar pelo referendo, a Grécia não pagou uma dívida de 1,6 bilhoes de euros para o Fundo Monetário Internacional que, por isso, negou-se a fornecer uma nova ajuda financeira ao país e instaurou uma série de medidas- como impedir a realização de saques, exceto de aposentados, nos bancos- que geraram um clima de pânico nas terras helênicas. O premiê grego, então, fez uma declaração pública advocando em favor do “não” e pedindo que a Troika respeite o espírito democrático europeu [1]. Tsipras afirma, em vídeo, que a União Europeia e o Banco Central Europeu são grandes parceiros e que devem aguardar o resultado do referendo grego para que o país possa, então, pagar a dívida.
A partir disso, podemos fazer uma análise mais profunda de como a República chegou às atuais condições e o processo geral dessa decisão “democrática” do país. Uma coisa que chama atenção, à primeira vista, é que as duas propostas que serão votadas nesse dia 5 de Julho diferem em, apenas, 10% de seu conteúdo [2]. As duas representam, em essência, uma sujeição da Grécia à ingerência imperialista da União Europeia e disputam qual a forma “menos pior” de submissão à Troika. As palavras do premiê grego demonstram claramente que o Syriza ainda acredita numa democratização e “humanização” da Eurozona. O partido da “esquerda radical” grega aposta em uma disputa da política europeia. Esquece-se, entretanto, do caráter de classe da sociedade política e que a Troika é o parque de diversões da burguesia.
Leia mais:
O significado político do “referendo grego”
Tragédia grega esconde segredo de bancos privados
O referendo de 5 de Julho e a posição do KKE
Ao mesmo tempo, é essencial ressaltar que a coligação Syriza/ANEL (maioria no parlamento) recusou-se a acrescentar uma terceira opção ao referendo, sugerida pelo Partido Comunista Grego (KKE), que representava a saída da UE e o não pagamento da dívida pública do país [2]. Essa decisão está em de acordo com o programa eleitoral do Syriza que em nenhum momento propõe o rompimento com à barbárie capitalista representada pela União Europeia. Um dos motivos alegados para tal decisão, ainda na campanha do partido, foi que a grande maioria do povo grego era contra a saída da Eurozona. Essa escolha do Syriza representou um grande equívoco pois, além de ignorar a noção de senso comum (no sentido gramsciano), não apresenta nenhuma disputa da consciência da classe trabalhadora para definir a Troika (e consequentemente a burguesia) como real operador da austeridade e inimiga dos trabalhadores. Mais que isso, a insistência do governo grego em referir-se a UE como “nosso lar europeu comum” demonstra ou uma grande inocência por parte do Syriza ou um mau caratismo que tende a confundir a classe trabalhadora sobre quem é seu real inimigo.
Dessa forma, é urgente que os comunistas gregos não se sujeitem a ingerência imperialista da Troika e, fazendo o papel de partido intelectual orgânico, demonstrem aos trabalhadores e trabalhadoras da República que não há qualquer possibilidade de disputa dentro das trincheiras avançadas do capitalismo mundial. O KKE tem apresentado a postura mais coerente possível frente a atual conjuntura e continua a levantar as únicas bandeiras capazes de acabar com as medidas de austeridade na Grécia [2]:
– Não às propostas de acordo da UE-BCE-FMI e do governo grego
– Desligamento da UE – abolição do Memorando e todas suas leis de aplicação
Aos comunistas brasileiros, resta perder toda ilusão frente a “esquerda radical” grega representada no Syriza (ou pelo Podemos na Espanha) e observar mais um exemplo que a História nos fornece sobre como a conciliação de classes é incompatível com os interesses da classe trabalhadora.
Notas: