Condeno a violência que exerce quem não teve que ocuptar o rosto para pedir que se continuem a baixar os salários, que se aprofundem as reformas ou que continuemos a "apertar o cinto". A violência das reformas impulsionadas por quem na segunda-feira se reuniu no Guggenheim (reunião da Troica em Bilbau no dia 3 de março). Essas que provocam que sejam os setores mais desfavorecidos da população -desempregados, jovens, pensionistas... os e as que paguem a "crise" criada pelas políticas neoliberais impulsionadas por eles mesmos.
Condeno a decisão da Diputação de Biscaia, o Governo Basco e a Câmara Municipal de Bilbau, de receberem com os braços abertos esses desalmados e a atitude dos promotores da reunião, que, como Ibon Areso exibia, foi organizada numa reunião entre o presidente da Câmara de Bilbau, Iñaki Azkuna, e o ministro de economia espanhol Luis de Guindos.
Condeno a atitude dos maiores legitimadores desta violência. A dos meios de comunicação, que falam de uma revolução social ante o cansaço provocado pela corrupção, quando os distúrbios são impulsionados pela ultradireita como acontece na Ucrânia ou Venezuela. Os mesmos meios que agora falam de violentos anti-sistema a destroçarem pequenas lojas, quando a realidade é que, ante uma provocação como a de ontem, jovens abocados à miséria partiram foi os vidros de grandes símbolos do capitalismo, como sucursais de entidades financeiras (entre elas a que ontem tentava efetivar um despejo em Santutxu-Bilbau) ou estabelecimentos comerciais do grupo multinacional Inditex.
Condeno a atitude do sindicato ELA, que longe de dizer que os incidentes eram compreensíveis tendo em conta o contexto no que se produziram, preferiu se separar deles e desconvocar a manifestação convocada para a tarde, fazendo uma leitura mais própria da patronal que de um sindicato.
Condeno a atitude de quem, com sua passividade, também legitimou essa violência. A atitude de quem decidiu ficar em casa, falando do dinheirão que suporá repor o mobiliário urbano destroçado, sem nem perguntar quanto se gastou no despregamento policial, ou a daqueles que preferiram falar do temporal e ir à costa ver as ondas, como se nada estivesse acontecendo.
Solidarizo-me com os e as que padecem esta violência: com a classe trabalhadora, com os desempregados/as ou com as condenadas/os a procurar qualquer coisa para comer nos contentores que na segunda-feira ardiam em Bilbau. Todo meu apoio aos detidos e detidas, a quem recebeu essa gente como a ocasião merecia, que se mobilizaram demonstrando que esse lixo não é bem-vindo em Euskal Herria.
Para terminar, queria agradecer a quem fez milhares de quilómetros para estar presente nos protestos, desde Portugal, Grécia, Itália... e quem, embora não tenha estado, mostrou o seu apoio. Todo o meu agradecimento também àqueles meios de comunicação, que tornaram possível que os que não pudemos estar nas ruas de Bilbau, estivéssemos informados do que ali estava a acontecer, como Info 7, Topatu, Naiz...