Essa é a análise feita ao Diário Liberdade pela professora Syntia Alves, doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP. "Quem tiver dinheiro, vai ter água", diz. "A água vai dar cada vez mais lucro", completa.
O volume do Sistema Cantareira, principal fornecedor de água para a região metropolitana de São Paulo, chegou a 12% de sua capacidade nesta semana e a região corre o risco de racionamento. A professora questiona o fato de não haver um sistema eficiente para o estoque de água e ressalta que o problema não é a falta de chuva, mas sim o acesso à água.
"O dinheiro que a Sabesp ganha com a venda da água [foram R$ 2 bilhões em 2013] não é usado para reformar os reservatórios, não há um bom sistema de tratamento de água", declara a socióloga.
Um dos problemas é a infraestrutura do sistema de abastecimento. Em 2009, durante o governo de José Serra (PSDB), mesmo partido do atual governador, Geraldo Alckmin – partido o qual está há 19 anos no poder no Estado de São Paulo –, o relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, produzido pela Fundação de Apoio à USP, destacava que o Cantareira tinha um "déficit de grande magnitude" e aconselhava que medidas fossem tomadas para evitar seu colapso.
Mas, "como os detentores do poder, seja econômico ou político, nunca sofreram com a falta de água, eles também nunca pensaram em soluções para isso", destaca a doutora.
A arquiteta e urbanista Marussia Whately escreve, em um artigo no blog da urbanista Raquel Rolnik, que, nos os últimos 10 anos, o faturamento da Sabesp aumentou, "mas o fornecimento em regiões mais carentes sofre interrupções constantes e os rios continuam poluídos e os esgotos sem tratamento".
Para Syntia Alves, "a água deveria ser estatizada, mas já está em um movimento de privatização". Ela considera que "a única saída será dessalinizar e tratar a água", do contrário ela "será o novo divisor sócio-econômico" da nossa sociedade.