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baixaverdeBrasil - MLT - [Renato Nogueira] Os trabalhadores denunciam que têm sofrido perseguição e ameaças de pessoas ligadas a multinacional Veracel Celulose – uma das maiores produtoras de celulose do Brasil. O fato chegou ao conhecimento da imprensa internacional e durante os dias 16 e 20, jornalistas finlandeses pesquisarão sobre o conflito.


Foto do MLT - Entrada do acampamento

Já dura mais de seis anos o processo de resistência de um grupo de trabalhadores rurais sem terra que ocupa uma área de cerca de 1.334 hectares na zona rural de Eunápolis, município do extremo Sul da Bahia, a mais de 600 quilômetros da capital Salvador. Entre crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, cerca de 340 pessoas vivem no ‘Baixa Verde’ (nome dado ao acampamento) com a expectativa de ter garantido a terra própria.

Porém, os problemas enfrentados pela comunidade para conseguir realizar o sonho têm sido muitos e bastante árduos. Desde que chegaram ao acampamento, eles têm tentado convencer o Governo do Estado da Bahia a assinar o documento oficial de doação do terreno, já que toda a área corresponde a terras devolutas. Ou seja, o acampamento está localizado em terras que pertencem comprovadamente ao Estado.

Além disso, esses trabalhadores têm lutado contra um inimigo forte e poderoso: trata-se da Veracel Celulose - uma empresa multinacional, com sede na Europa, nos países Suécia e Finlândia, e que figura atualmente como um das maiores produtoras de celulose do Brasil. Com cerca de 300 mil hectares de área ocupada entre oito municípios do extremo Sul baiano, a empresa tem devastado as terras do extremo Sul da Bahia com a monocultura do Eucalipto.

É justamente aí que está o conflito e o motivo de a empresa perseguir os trabalhadores rurais brasileiros. Ou seja, o acampamento Baixa Verde está compreendido em uma pequena extensão de terra dentro da área invadida pela multinacional e isso tem feito com que a empresa tente de todas as formas expulsar os trabalhadores da região.

O MLT (Movimento de Luta pela Terra), que representa esses trabalhadores, tem empreendido uma luta bastante efetiva no sentido de garantir o assentamento definitivo, através da reforma agrária da área. Para Rosilene Lemos, coordenadora nacional do MLT e uma das ocupantes do Baixa Verde, o Estado tem sido omisso em protelar um posicionamento em relação ao direito de assegurar a área aos ocupantes.

Além disso, Rosilene aponta os benefícios de manter nas terras os trabalhadores brasileiros. “O Estado precisa doar o terreno. O processo não caminha, está parado. Nós temos certeza que a terra é produtiva e o trabalho dos nossos assentados contribui muito para melhorar a própria vida deles e também o desenvolvimento de toda a região.”, disse.

Em outubro de 2010 o conflito se acirrou. O MLT conseguiu, com uma liminar, derrubar em duas instâncias do poder judiciário da Bahia o pedido de reintegração de posse solicitado pela Veracel. Desde então, com a manutenção do acampamento na área por meio da via judicial, os trabalhadores do Baixa Verde começaram a ser perseguidos e terem suas vidas ameaçadas. Pessoas de má fé, a serviço da multinacional, têm utilizado táticas violentas para desmotivar o MLT a continuar na luta para garantir a posse da terra.

“Eles já mataram dois bois nossos; já feriram alguns cavalos que nós criamos; já destruíram um bocado de plantação nossa – passam com a máquina por cima - e também de vez em quando falam ameaças a nós, dizendo que é para sair daqui porque que essa terra já tem dono”, relata o agricultor Alírio Alves Viana, que se mostra assustado com a situação.

Já a agricultora Maria de Fátima aponta que os métodos usados pelos acusados das ameaças são desrespeitosos. “Eles dão golpe baixo, usam de muita baixaria. Nós não estamos tendo sossego por causa dessas pessoas. Estamos nos sentido frágeis e temos medo do que possa acontecer com a gente e com nossos filhos. Somos pessoas honestas e mesmo assim estamos passando por isso”, lamenta.

Para Juenildo Oliveira Farias, mais conhecido como Zuza, coordenador nacional do MLT, as ameaças que os acampados do Baixa Verde têm sofrido é uma forma de fazer o movimento enfraquecer, desestimulando os trabalhadores a continuar na área. O coordenador foi categórico ao afirmar ter certeza da intervenção da Veracel nos ataques. “Não temos dúvida de que a empresa está por trás disso. Porém o nosso grupo é bastante unido e não vamos deixar o nosso movimento organizado e legítimo enfraquecer. Eles querem que a gente aja igual para que a gente seja comparado a eles e o nosso acampamento seja marginalizado. Não vão conseguir! Vamos continuar lutando para garantir a posse desta terra de forma pacífica e ordeira, como é a forma de pensar do MLT”, garantiu.

O próprio Zuza disse ter sido vítima de uma embosca – fato que foi registrado como Boletim de Ocorrência na Delegacia Metropolitana de Eunápolis. No dia 28 de dezembro de 2012, ele estava sozinho, dirigindo o seu próprio carro, se deslocando para o acampamento Baixa Verde em uma estrada, quando foi surpreendido por um outro veículo vindo em sua direção e fechando o caminho. O coordenador desviou, perdeu o controle do carro e capotou por várias vezes. “Graças a Deus não aconteceu nada de mais grave. Saí apenas com ferimentos leves. Mas deu para perceber que eles não estão de brincadeira”, relatou.

Assim como acontece no Baixa Verde, outros acampados, organizados por meio de movimentos sociais e organizações não governamentais da região do extremo Sul da Bahia têm sofrido com a interferência do agronegócio. Denúncias e mais denúncias são feitas, mas não há resultado satisfatório por parte de trabalhadores e ativistas em termos de uma investigação eficaz.

Além de lutar para garantir que a terra seja utilizada para a subsistência dos futuros assentados através da reforma agrária da área, há também um sentimento de frustação em saber que a terra brasileira está servindo para enriquecer outro país. Toda a celulose produzida a partir da monocultura do eucalipto plantado na Bahia é exportada para a Europa. Ou seja, a terra brasileira está sendo ocupada para produzir riquezas para países onde a Veracel tem sede.

Jornalistas finlandeses

A história conflituosa na região do extremo Sul da Bahia chamou a atenção da imprensa estrangeira. Na semana passada, entre os dias 16 e 20 de novembro, jornalistas finlandeses estão em Eunápolis para estudar o caso da atuação da Veracel em solo baiano e redigir uma matéria especial sobre o assunto. Eles são funcionários do maior jornal imprenso da Finlândia, o Helsingin Sannomat, que é distribuído em todo o país.

Maria Manner, correspondente do jornal no Brasil, comentou que pretende ouvir todos os lados e fazer o texto com base na realidade dos fatos. Para isso, os profissionais irão cumprir uma vasta agenda de visitas em comunidades afetadas pela produção do eucalipto e acampamentos de trabalhadores rurais que reivindicam posse das áreas devolutas do Estado.

“Eu estou com a mente aberta. Vou ouvir todos os lados”, ressaltou Maria ao falar sobre como pretende desenvolver o trabalho.

Porém, os jornalistas já encontraram os primeiros pontos de resistência para investigarem a atuação da VeraCel na Bahia. Segundo contou Maria, em uma pesquisa preliminar que ela fez para saber sobre a situação da produção do eucalipto no Brasil, ela descobriu que a empresa tem passado para a opinião pública europeia que a situação de conflitos em território baiano já estaria resolvido. Informação que não é verídica, haja vista os depoimentos dos ocupantes da Baixa Verde explicitados nos parágrafos anteriores.

Além disso, a jornalista conta que entrou em contato com representantes da Prefeitura de Eunápolis para poder marcar uma entrevista com o prefeito Neto Guerrieri (PRTB) e saber dele como a prefeitura tem administrado a exploração do eucalipto nas terras do município e qual o posicionamento da gestão em relação aos conflitos existentes entre a multinacional e os pequenos agricultores. Porém, segundo ela, nenhuma resposta foi dada por parte da Prefeitura sobre a entrevista. Fato que intrigou a equipe de jornalismo.

A pauta dos conflitos em Eunápolis e região vizinha chegou ao conhecimento da redação do Helsingin Sannomat, através da atuação da ONG Cepedes, que há 23 anos luta por um modelo de desenvolvimento sustentável para o extremo Sul da Bahia. A ONG tem denunciado a exploração da monocultura do eucalipto na região. Sem encontrar espaço na imprensa local, resolveu desenvolver a denúncia na imprensa nacional e internacional.

Baixa Verde

No meio de toda essa confusão os trabalhadores do acampamento Baixa Verde continuam trabalhando e produzindo alimentos que chegam a mesa dos brasileiros. A partir de um macro projeto de Sustentabilidade Econômica, os acampados trabalham de forma organizada e sistemática.

Os 1.334 hectares foram divididos para as 85 famílias residentes no acampamento. Cada uma possui seu lote, onde a produção é particular, mas há também as áreas coletivas de onde sai a produção que é rateada entre os moradores em benefício coletivo.

Com essa forma de administração, a Ascombav (Associação Comunitária dos Produtores da Baixa Verde) tem conseguido levar avanços para o acampamento. Atualmente eles contam com dois tratores, comprados com dinheiro da produção, que é utilizado por todas as famílias, além de diversos outros benefícios coletivos.

Todos os produtos oriundos do acampamento são orgânicos, ou seja, não são utilizados agrotóxicos no manejo. Além disso, os acampados já realizaram a reconstituição de mais de 30 hectares de mata ciliar. Isso evidencia a preocupação e compromisso do MLT com o Meio Ambiente.

Rosilene Lemos, que também é presidente da Ascombav, diz ter esperança em ver o impasse do Baixa Verde resolvido. Ela garante que com a posse definitiva da terra, os assentados irão trabalhar ainda mais fazendo da região um grande produtor de gêneros alimentícios. “Nós vamos ficar ainda mais fortes e produzir cada vez mais. São alimentos de qualidade que vão para a mesa do brasileiro”, enfatizou.

Atualmente o Baixa Verde produz mandioca, melancia, banana, milho, abóbora, quiabo, mxixe, mamão.


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