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erdputTurquia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] A derrubada do caça russo pela força aérea turca, no dia 24 de novembro, revelou, mais uma vez, a fragilidade das alianças e contra alianças no atual estágio do desenvolvimento da crise em escala mundial, que adquire caraterística críticas no Oriente Médio.


Foto: Imprensa Presidencial e Serviço de Informação russos (CC BY 3.0)

A Administração Obama se aliou a inimigos dos Estados Unidos para estabilizar a Síria, os russos, o Irã, com as milícias xiitas e o Hizbollah, os curdos e os chineses. O desespero da direita do imperialismo e da reação do Oriente Médio foi às alturas.

Agora o governo Erdogan, fortalecido pelos resultados das eleições que aconteceram no início deste mês, tenta conter o “ímpeto” russo contra os próprios rebeldes. O AKP, partido de Erdogan, conseguiu a maioria que não tinha conseguido em junho mediante a política militar de ataques contra os curdos turcos e, em alguma medida, os curdos sírios.

A contenção dos curdos sírios representa um dos pontos fundamentais da política Erdogan que busca uma saída “energética” para a crise. Os curdos turcos mantêm forte presença na Província da Anatólia Oriental por onde passam, ou passariam, os dutos de fornecimento de gás e petróleo à Europa.

A Rússia depende da derrota dos vários grupos rebeldes para estabilizar as fronteiras do sul, impedir a repetição dos conflitos na Tchetchênia e no Daguestão, assim como em outras regiões. O aumento da influência no Oriente Médio é crítico na disputa do comércio de armas, no mercado de energia e na participação do Novo Caminho da Seda chinês.

As contradições entre as duas potências regionais são grandes, mas também o são a dependência e relações mútuas.

A Rússia pode aplicar sanções contra a Turquia?

O governo da Federação Russa precisa dar uma satisfação à sua população, o que faz parte da política nacionalista de fortalecer a unidade nacional em torno do governo Putin conforme a crise se aprofunda. As medidas iniciais foram cortar os contatos militares e impor o bloqueio do espaço aéreo sírio por meio dos mísseis S-400. Já avançar com sanções econômicas profundas é muito mais complexo.

A Rússia é responsável por 10% das importações turcas, cujas exportações representam 4% das importações russas. A Rússia fornece 55% do gás que os turcos consomem, o que representa 13% das exportações de gás russo. Os gasodutos estão próximos ao limite de uso (Blue Stream e Gas-West) e por eles também trafega o gás que tem como destino a Ucrânia, a Romênia e a Bulgária. Os 45% restantes são fornecidos pelo Irã e o Azerbaijão e por gás natural liquidefeito.

O corte do gás russo colocaria a economia turca em xeque. Mas também seria afetada a economia russa que se encontra em recessão há quatro anos, além de escalar os problemas na Europa Oriental. E ainda há a questão do gasoduto TurkStream que foi desviado no Mar Negro, da Bulgária para a Turquia, com o objetivo de driblar as regulamentações da União Europeia contra a Gazprom, a gigante do gás russo.

O corte no fornecimento de minerais e metais (ferro, aço e alumínio) também não teria muito impacto devido à contração do mercado mundial. A Rússia fornece 70% do trigo, mas, com relativa facilidade, poderia ser trocado por outros fornecedores. E, em 2010, a Turquia conseguiu absorver sanções neste setor. Por outra parte, 40% das frutas e vegetais turcos têm como destino a Rússia, além de outros alimentos, como lácteos e carnes. O governo russo tem deixado estes segmentos de lado e passou a focar arremedos de sanções no turismo, que representa 12% do PIB da Turquia e dos quais os russos somam 14%. Outro dos pontos de pressão, que a Rússia já usou no passado, seria dificultar a passagem de caminhões em direção à repúblicas da Ásia Central e Oriental, por onde circulam aproximadamente US$ 2 bilhões anuais em produtos químicos e eletrônicos.

Vários acordos comerciais iriam ser assinados e desenvolvidos na visita que Erdogan faria à Rússia em dezembro. Isto revela o grau de crise em que o governo turco foi colocado com os bombardeios russos contra os “rebeldes” amiguinhos.

As contraditórias relações da Turquia com a Rússia

A Turquia é um país membro da OTAN e com relações próximas com a Arábia Saudita. Mas o governo Erdogan tem aplicado várias políticas de cunho nacionalista, o que tem gerado contradições com o imperialismo, que tem tentado derrubá-lo impulsionando a extrema-direita. A Rússia tem tentado explorar essas contradições. Vários acordos comerciais têm sido assinados após as sanções aplicadas em relação à crise da Ucrânia. Mas também as contradições são seculares.

A Turquia foi contrária à invasão da Geórgia, em 2008, pela Rússia, mas não tomou nenhuma ação. As relações também são tensas em relação a todos os países onde há minorias ou maiorias turcomenas, que a Turquia considera sob sua zona de influência.

A recente aproximação da Rússia com o Azerbaijão, por meio da desescalação do conflito em Nagorno-Karabakh, com a Armênia, é um dos pontos de conflito. A Rússia tenta desestimular o gasoduto BTC (Baku, Tbilisi, Ceylan) que beneficiaria a Turquia, já que a partir do porto turco de Ceylan o gás seguiria para a Europa pagando pelos direitos de transporte.

A Turquia tenta conter a Rússia na Síria, onde atua por meio de grupos “rebeldes”, inclusive o Estado Islâmico. Com esse objetivo busca utilizar a ameaça da OTAN. Mas até que ponto o governo turco estaria disposto a se submeter à política da OTAN de maneira mais aberta? Isso depende de quem pagar melhor. A União Europeia desviou para o governo de Erdogan, há dois meses, três bilhões de euros que supostamente teriam como destino evitar que os refugiados do Oriente Médio chegassem à Europa. Obviamente, esse dinheiro teve um papel importante nas eleições de novembro. O quanto os Estados Unidos estão dispostos a injetar na Turquia? E a Rússia, quanto representa? E quais os riscos?

É a política do “salve-se quem puder” em ação, cada vez mais intensa, conforme a crise capitalista se aprofunda.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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