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lavrovSíria - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Negociações secretas tem acontecido há vários meses na tentativa de chegar a uma saída negociada sobre a guerra civil na Síria.


O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, vêm discutindo a situação na Síria. Foto: Eric Bridiers/U.S. Mission (CC BY-ND 2.0)

Os principais países participantes são a Turquia, os Estados Unidos, a Arábia Saudita e os demais países do chamado Conselho de Cooperação do Golfo, a Rússia e o Irã. O governo sírio de al-Assad passou também a ser envolvido.

Ali Mamlouk, o chefe da inteligência do governo, esteve na cidade saudita de Jeddah e em Muscat, a capital de Omã, no final de julho. Logo depois, foi a vez do ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Muallen, quem também esteve em Muscat.

O objetivo das negociações é chamar a eleições parlamentares e presidenciais, patrocinadas pelas Nações Unidas, que possibilitem colocar em pé um governo de unidade nacional. Mas as contradições entre as potências envolvidas são enormes. Uma das principais preocupações da Arábia Saudita e da reação mundial é o papel da Irã e, em primeiro lugar, o papel da milícia libanesa Hizbollah, que representa um dos principais pontos de contenção da agressividade sionista e imperialista na região.

Em 2006, os sionistas israelenses foram derrotados pelo Hizbollah quando tentaram destruí-la e invadir o sul do Líbano. Os alertas subiram ao máximo. A reação passou a financiar todos os grupos sunitas que “aterrissaram” na Síria após as manifestações populares de 2011 com o objetivo de eliminar o governo de al-Assad, controlar o país e cortar as linhas de suprimento do Hizbollah que tem como principal patrocinador o regime dos aiatolás iranianos. Mas essa política saiu de controle. O Estado Islâmico ficou fora de controle. A Síria virou um pântano irradiador de desestabilização. O chefe dos serviços de inteligência saudita, bin Bandar, o ex-embaixador nos Estados Unidos durante duas décadas, acabou demitido. A Administração Obama passou a impulsionar uma frente única envolvendo a Rússia e o Irã, enquanto as contradições escalaram com os tradicionais aliados, a Arábia Saudita, os demais países do Conselho de Cooperação do Golfo e os sionistas israelenses.

No início do mês de agosto, o secretário do Departamento de Estado norte-americano, John Kerry, viajou a Doha (Catar) onde discutiu a situação da Síria com o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov.

O governo russo se aproximou do General Brigadeiro Manaf Tlass, que “desertou” em 2012 e que se encontra em Paris. A família Tlass foi um dos principais pilares do apoio sunita aos governos al-Assad, pai e filho. É provável que a própria “fuga” tenha acontecido de maneira coordenada para permitir um retorno de Manaf Tlass à Síria para desempenhar um papel de primeira ordem num eventual futuro governo.

As recentes viagens de Javad Zarif, o ministro das Relações Exteriores iraniano, à Síria, à Turquia e à Índia, após a conclusão do acordo sobre a questão nuclear, mostra a tentativa coordenada de avançar na estabilização da Síria, por meio da frente anti-Estado Islâmico, impulsionada pela Administração Obama, e de evitar o vácuo de poder conforme o exército sírio tem sido comprimido na região ocidental do país. As negociações são muito contraditórias; cada cobra busca fazer prevalecer os próprios interesses.

Com alauítas ou sem alauítas?

O governo de al-Assad enfrenta crescentes dificuldades para segurar uma relativa estabilidade. Mas ainda controla territórios chaves como Damasco, a capital do país, e as regiões mediterrâneas, ao ocidente. A manutenção do poder dos alauitas, num governo de “unidade nacional”, representa a condição chave da política do Irã, dos russos e, nos bastidores, da China. Sem essa condição o suprimento do Hizbollah ficaria comprometido. Os acordos assinados pelo governo de al-Assad seria jogados na lata no lixo como aconteceu no Iraque pós Saddam Hussein e na Líbia pós Muamar Gadaffi. A única base da Rússia que dá acesso ao Mar Mediterrâneo se encontra localizada no porto de Tartus, ao norte do Líbano.

As milícias xiitas, no Líbano, na Síria e no Iraque, junto com o Hizbollah, representam um dos principais mecanismos de contenção contra a crescente agressividade da Arábia Saudita e Israel na região. O papel torna-se ainda mais com a perspectiva de que um governo mais direitista vença as próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos.

A Arábia Saudita encabeça a tentativa de usar al-Assad como bode expiatório da ascensão do Estado Islâmico, dos ataques com armas químicas e outros crimes de guerra. Os russos, os iranianos e a China não podem aceitar essa política por causa dos acordos com o governo de al-Assad. Esse foi o motivo do fracasso do entendimento entre os sauditas e os russos após a recente visita do ministro das Relações Exteriores saudita a Moscou. A saída negociada na Síria passa, em primeiro lugar, pelo acordo entre o Irã e a Rússia com a Arábia Saudita, que apresenta muitas ramificações. O emir de Omã tem assumido o papel de mediador.

Acordos com a Coalisão Nacional Síria, que neste momento estão sendo buscados pela Rússia, são simbólicos, mas visam estabelecer pontes com os vários setores que poderão ser colocados num futuro governo. O poder real se encontra nas mãos dos grupos guerrilheiros que têm conseguido vitórias contra o governo de al-Assad e o Estado Islâmico.

O futuro da Síria será a pulverização do poder político e militar entre vários grupos que inevitavelmente deverão se envolver em novas guerras intestinas no futuro.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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