1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (8 Votos)

siriacurdhorizontalTurquia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Por que o governo de Erdogan bombardeia os curdos enquanto a aviação norte-americana os apoia?


Fotografia - Fonte: Alejandro Acosta

O Oriente Médio representa um dos três principais pontos de conflito no planeta com o potencial de escalar para uma guerra de largas proporções.

A Turquia representa uma das principais potências regionais do Oriente Médio. Membro da OTAN e candidato à União Europeia, o governo de Erdogan possui acordos com o imperialismo europeu e norte-americano, Israel e Arábia Saudita, Rússia e a China, entre os quais fica numa “dança das cadeiras”, na tentativa de enfrentar o aprofundamento da crise capitalista. A conhecida política do “salve-se quem puder”.

A Turquia foi um importante exportador de produtos têxtis e agrícolas até o colapso capitalista de 2008. As exportações entraram em profunda decadência. A política economica alternativa, impulsionada pelo governo Erdogan, busca transformar a Turquia num nó de fornecimento de energia para a Europa. O grosso dos gasodutos, que veem do Curdistão Iraquiano, do Irã e do Cáucaso, passam pela Província de Anatólia Oriental, habitada, fundamentalmente, por curdos, que representa o centro de atuação e apoio do PKK, o Partido dos Trabalhadores Curdo, que conta com um braço guerrilheiro que atua na região há mais de 40 anos.

Com o objetivo de viabilizar a nova política econômica, o governo Erdogan abriu, há alguns meses, negociações de paz com os curdos. A principal concessão passa por uma certa autonomia, como o levantamento da proibição de usar a própria língua, e a libertação dos presos políticos e anistia em troca da deposição das armas. As negociações foram encabeçadas por Akolan, o líder do PKK, que tem sido mantido preso desde 1999. O PKK acabou se retirando para as montanhas e para a fronteira com a Síria, principalmente.

Após as recentes eleições nacionais, onde o AKP, de Erdogan, venceu com maioria relativamente apertada, que lhe impedirá até formar um governo forte, as negociações de paz estancaram.

Obama tenta apagar o incêndio do Oriente Médio

A Administração Obama busca desesperadamente conter a crise no Oriente Médio, um dos três grandes focos de um conflito militar em larga escala, junto com a Ucrânia e a região Pacífico da Ásia. O Partido Republicano, impulsionado pela extrema direita agrupada no chamado Tea Party, já domina as duas câmaras do Congresso e ameaça ganhar as eleições nacionais que acontecerão no próximo ano. A política dessa ala, aliada de primeira ordem dos sionistas israelenses e da obscurantista monarquia saudita, já foi expressada claramente por Mitt Rommey, o candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais: guerra contra o Irã, inclusive com o uso de armas atômicas; guerra contra a China, apoio total a Israel, desembarque de tropas no Oriente Médio etc. A direita tradicional, parlamentar, que inclui figurões de ambos partidos, busca uma “saída negociada”, que setores da esquerda têm denominado como “contrarrevolução democrática”, apesar de, a cada dia, ter ser tornado mais contrarrevolucionária e menos democrática.

A prioridade atual se encontra na contenção do crescimento do Estado Islâmico. A Administração Obama busca fortalecer uma frente única em aliança com a Rússia e os aiatolás iranianos, em primeiro lugar. John Kerry, o chefe do Departamento de Estado, esteve recentemente em Sochi, no sul da Rússia, para oferecer a desescalação das tensões na Ucrânia, em troca do apoio no Oriente Médio. No dia 3 de agosto, Kerry se encontrou com Serguei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores russo, em Doha (Qatar), para tratar da crise na Síria.

As sanções contra o Irã, que foram aplicadas após a Revolução de 1979, estão sendo levantadas, em troca da atuação do Hizbollah libanês, próximo aos aiatolás, e das milícias xiitas iraquianas, as mesmas que levaram à expulsão dos norte-americanos do Iraque em 2007. O governo russo, de Vladimir Putin, foi além, e está negociando uma “saída” com os sauditas, a Turquia e o Catar, que são os principais financiadores regionais dos “próprios" grupos guerrilheiros. A crise avança a passos largos em direção ao coração da região, a Arábia Saudita, tanto a partir do norte como a partir do sul, no Iemên.

Os curdos sírios aplicaram várias derrotas ao Estado Islâmico, sendo a mais emblemática a expulsão da cidade fronteiriça de Kobane, onde a aviação norte-americana e algumas milícias do chamado ESL (Exército Sírio Livre), financiado pelo imperialismo, participaram ativamente.

A crise escalou a tal ponto que o imperialismo não tem conseguido colocar em pé os “próprios" guerrilheiros com capacidade de jogar um papel decisivo. Até a al-Nusra, a filial da al-Qaeda na Síria, foi transformada num aliado próximo, que nem aparece na lista das “organizações terroristas".

O Governo turco contra o Estado turco

O estouro dos protestos de massas na Síria foram impulsionados pelo contágio das revoluções árabes. O elo mais fraco do capitalismo se quebrou sobre a base do colapso econômico de 2008. As mobilizações de massas foram rapidamente infiltradas por grupos muçulmanos, que tinham vários graus de aproximação com o imperialismo, que buscavam derrubar o governo de al-Assad um aliado de primeira ordem da Rússia no Oriente Médio.

No mês de julho de 2012, al-Assad fechou um acordo com os curdos sírios e retirou as tropas do nordeste do país com o objetivo de concentra-las na defesa das principais cidades e na contenção dos ataques do então Estado Islâmico do Iraque que avançava a partir da província iraquiana de Anbar.

Os curdos se organizaram rapidamente e estabeleceram uma região autônoma, autoproclamada como “Rojava”, dirigida por uma frente política denominada PYD (Partido da União Democrática), que tinha sido fundada em 2004, quando estouraram revoltas na cidade síria de Qamishli, de maioria curda. O braço armado do PYD, o YPG (Unidades Populares de Defesa) não somente tem sido capaz de proteger o território curdo na Síria, mas, também, o expandiu.

O governo turco busca bloquear a expansão dos curdos na Síria com o objetivo de evitar o fortalecimento dos curdos na Turquia. Para isso, o exército turco precisa se envolver ativamente na guerra, o que obviamente ameaça arrastar o país à guerra.

O grosso desses territórios se encontra localizados na Alta Mesopotâmia, na chamada “Jazira”. Se trata de uma planície, muito fértil e favorável para a agricultura, onde também há petróleo. A área é muito difícil de ser defendida ao mesmo tempo que tende a ser palco de conflitos sangrentos, uma nova onda de “siriação”, dentro da já ultra caótica Síria.

O governo turco declarou que tem como objetivo estabelecer uma zona de “buffer” na fronteira com a Síria, que deveria ser controlada pelo exército, com a participação dos norte-americanos e os “próprios” guerrilheiros. Essa política pode levar a uma guerra total contra os curdos sírios e até a liquidar com o controle da região pelo YPD, conforme outros grupos guerrilheiros sunitas se envolvessem, de olho nas riquezas naturais. Uma parte dos guerrilheiros do YPG poderiam começar a atuar na própria Turquia, onde existe a proteção natural das montanhas e o PKK.

A política do governo turco é impulsionada pelo aprofundamento da crise, que ficou evidente nas recentes eleições. É uma política claramente de crise que ameaça levar a “siriação”, ou “libiação”, ou “somalização” em direção à Turquia, abrindo caminho para o Cáucaso e o sul da Rússia.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.