Enquanto isso, a Galiza vivia os horrores da pós-guerra e só em 1950 se reiniciou devagar um certo labor cultural que começou com os homens da Geração Nós. Com a morte de Castelao, destacados intelectuais, como: Ramom Pinheiro, Outeiro Pedraio e Jaime Ilha Couto, convencidos da estirilidade da ação política, decidiram centrar os seus esforços na transmissão do legado cultural às novas gerações, que estavam sendo educadas sob o prisma da ditadura franquista, sempre longe do conhecimento do passado histórico e cultural da Galiza e de sua realidade linguística.
Foi assim que surgiu a Editorial Galáxia que, mais tarde, facilitaria o prosseguimento do trabalho literário com a publicação de novas obras poéticas e narrativas, além disso, essa editora impulsionou também a publicação de uma coleção de ensaios, sobretudo nas áreas da filosofia e da literatura. Entre os autores mais destacados nessa época, podemos citar os nomes de Ramom Pinheiro, Garcia Sabell, Fernandes da Veiga e Carvalho Caleiro que contribuiram de maneira decisiva para manter aceso a luz e o brilho da cultura galega, sobretudo no campo do pensamento e da crítica literária.
Em 1936, muitas obras foram interrompidas em virtude da ditadura e a produção editorial galega motivou que as primeiras vozes que voltaram, pouco a pouco, a soar no panorama da lírica pertencessem a autores de gerações sucessivas, algumas já relevantes na literatura galega anterior à guerra civil. Foi em 1950 e ao longo dessa década, quando uma plêiade de poetas - que apresentam uma grande heterogeneidade também no que tange às suas estéticas - prosseguiram, renovaram ou iniciaram sua obra lirica.
As linhas principais que seguiram a poesia destes anos flutuam entre a sobrevivência do neo-trovadorismo (Álvaro Cunqueiro), o culturalismo (Carvalho Caleiro), a religiosidade, o classissismo e o paisagismo humanista (José M Dias Castro), o intimismo sombrio ligado aos âmbitos urbanos ou à natureza (Luís Pimentel), a angústia existencial (Cunha Novás), o erotismo (Luz Pozo Garza), o canto à paisagem essencial (Manuel Maria) e o realismo social (Celso Emílio).
Nesta tessitura multicolorida da poesia galega de pós-guerra, foi o livro de Celso Emílio, O sonho sulagado, que significou a ruptura com o individualismo a o retorno a uma concepção da poesia que retomava a tradição civilizadora iniciada com Rosália de Castro. Ao longo da década de 1960 até a metade da década de 1970, a poesia de cunho realista, que terá por guia e principal nome Celso Emílio Ferreiro, expressa vigorosamente a indigência do país e de seu povo. As circunstâncias da época - a longa pós-guerra espanhola e europeia - favoreceram a recepção da poesia comprometida de Celso Emílio.
No que tange à narrativa, esta sofrera uma drástica interrupção em 1936 como consequência do conflito bélico, e as novas produções que tiveram que esperar até 1950, data em que Carvalho Caleiro deu à cultura galega a obra A gente da barreira. Depois dele, e ao longo da década de 1950, três autores singulares, Ángelo Fole, Branco-Amor e Álvaro Cunqueiro, publicaram as suas primeiras obras de ficção em prosa, iniciando uma fecunda fase da narrativa galega. Alguns escritores pertencentes à Geração da pós-guerra, como Gonçalo Mourulho e José Luís Mendes Ferrim foram de vital importância para a sobrevivência da literatura galega.
Ángelo Fole traça em seus livros de contos uma homenagem ao espaço bravo, rude das terras de altas do leste (Courel, Íncio e Queiroga) e à comunidade que o habita, incidindo nas suas formas de vida e na relação da temática esotérica que toma forma da cultura antropológica popular.
Branco-Amor explora, de certa forma, uma dimensão neo-realista e social em suas novelas e também em sua narrativa breve. Os ambientes urbanos subdesenvolvidos do início do século constituem o marco espacial das suas fabulações.
Por sua parte, Álvaro Cunqueiro é um escritor que ensaia com êxito as diversas formas de literatura. Em sua narrativa cria um mundo mágico e presencionista, onde se combinam os mitos clássicos, orientais e atlânticos acrescido de uma cosmovisão tradicional do povo galego. Alguns desses traços também se podem detectar na sua variada e extraordinária obra lírica ou nas suas produções dramáticas.
Rodrigo Moura estudou letras português na UERJ, no Brasil, e é pesquisador das literaturas lusófonas e da galega em particular.