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misseisRússia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] O que está por trás dos bombardeios na Síria?


Mísseis russos Kh-25 sendo instalados em Latakia, Síria. Foto: Ministério da Defesa da Rússia (CC BY 4.0)

A imprensa burguesa tem dado destaque aos bombardeios das posições dos “rebeldes” do Estado Islâmico, da al-Qaeda e de vários outros grupos na Síria pela Rússia. A posição predominante destaca os excessos dos russos. A ala direita, com o apoio de boa parte da esquerda pequeno-burguesa, quer a retirada dos russos. Outra parte da esquerda se indaga sobre o porquê de a Rússia não ter entrado em cena antes. Em fim, ainda fica a questão de por que o “quase invencível” Estados Islâmico não foi atacado com firmeza antes.

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Na realidade, a ação militar da Rússia na Síria passa por um acordo, uma frente única, impulsionada pela Administração Obama, a partir da visita de John Kerry (secretário do Departamento de Estado) a Sochi (sul da Rússia). O objetivo é estabilizar a crise no Oriente Médio, que ameaça botar fogo na região, uma das mais críticas do mundo. Em contrapartida, a escalada das tensões foi reduzida na Ucrânia e no Mar da China.

A ala ligada a Obama busca confrontar a política abertamente belicista da ala direita do imperialismo, principalmente do imperialismo norte-americano que já domina as duas câmaras do Congresso e que é aliada estreita da Arábia Saudita (um dos principais patrocinadores de vários grupos “rebeldes”) e dos sionistas israelenses. Obama conta com o apoio de François Hollande e Angela Merkel. Na frente única cabe um papel de primeiro plano à Rússia e ao Irã. Agora também estão entrando em cena os chineses, que anunciaram o envio de assessores militares.

Os chineses estão muito preocupados com os próprios “rebeldes”. Aconteceram atentados terroristas não somente na província de Xinjiang, localizada na fronteira com o Paquistão, mas também perto da fronteira com o Vietnã. Além disso, a política do Novo Caminho da Seda tem se tornado fundamental na tentativa de conter a crise capitalista, facilitando o comércio com a Europa, e ultrapassando a armadilha do Estreito de Malaca, controlado pela marinha norte-americana.

O acordo nuclear com o Irã deve ser analisado sobre os pontos colocados acima. E o Irã significa a atuação em campo do Hizbollah, a poderosa milícia libanesa, e das milícias xiitas iraquianas.

Quais são os ganhos concretos da Rússia?

1- A criação de um enclave russo na Síria, que lhe permite negociar desde uma posição melhor a “estabilização” na Síria, facilitando as barganhas e, principalmente, o levantamento das sanções. Exatamente igual à política de contenção do imperialismo aplicada nos demais enclaves, Transnístria, repúblicas de Donetsk e Lugansk, Ossétia do Sul, Abkhrasia, Nagorno-Karabakh.

2- A questão da Ucrânia e da Crimeia, junto com as sanções, é uma das moedas de troca, tanto no sentido das sanções quanto a conter a entrada da Ucrânia na OTAN que é o grande ponto vermelho da política russa. A política preferencial do governo Putin busca que o Donbass continue fazendo parte da Ucrânia, mas que as duas repúblicas separatistas (Donetsk e Lugansk) tenham status autônomo e poder de veto na Rada (parlamento), principalmente em questões críticas como a entrada na União Europeia e na OTAN.

3- A contenção do avanço dos “rebeldes” para o Cáucaso, a Ásia Central e o sul da Rússia. Não deve ser esquecido que aconteceram duas guerras sangrentas na Tchechênia na década de 1990, numa das quais o Daguestão foi envolvido. Há milhares de “rebeldes” dessas regiões na Síria, no Iraque e em vários outros países, inclusive na Ucrânia, do lado dos golpistas.

4- A disputa pelo controle do Oriente Médio, o que inclui única base que a Rússia possui no Mar Mediterrâneo, localizada no porto de Tartus (Síria, norte do Líbano), com as demais potências regionais e imperialistas. A Arábia Saudita, o Catar e a Turquia apoiam uma miríade de grupos “rebeldes”. Israel apoia a al-Qaeda em Quneitra, no sul da Síria.

A Administração Obama ficou “pendurada na brocha” na tentativa de criar o próprio grupo de “rebeldes”, não confia no “Exército Sírio Livre” e passou a depender do Hizbollah, das milícias xiitas, dos iranianos, dos russos e dos curdos, para desespero da reação mundial. Tal o grau de crise do imperialismo no Oriente Médio.

5- O fortalecimento da política chinesa do Novo Caminho da Seda, da qual a Rússia é um pivô, e que passa pelo Oriente Médio.

6- O fortalecimento da unidade nacional, em torno ao governo Putin, no contexto do aprofundamento da crise capitalista. A Rússia se encontra em recessão há quatro anos. A redução do orçamento público ameaça com a retomada da desestabilização das províncias de cinco anos atrás.

7- A Síria serve de palco (“showzinho”) de apresentação da “eficiência” das armas russas. A Rússia é o segundo maior exportador de armas no mundo. O governo Putin lançou uma política, em 2012, para priorizá-lo sobre todos os demais setores da economia, inclusive o de petróleo.

O efeito colateral desses ganhos é que a Rússia pode se empantanar da mesma maneira que aconteceu com a União Soviética no Afeganistão, principalmente se a ala direita do imperialismo se fortalecer no próximo período.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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