Por segundo ano consecutivo, a Comunidade de Montes de Combarro e a Associação de Vizinhos desta vila conseguiram as permissões necessárias para organizarem uma romaria reivindicativa num lugar doutra forma interdito a pessoal não militar.
Numa jornada intensa e com um grande sucesso de assistência, as quase setecentas pessoas que foram chegando aproveitaram a visita à ilha para percorrerem o seu perímetro, estarem presentes na oferenda floral aos mortos no mar (em honra à tradição marinheira da zona), assistirem à exposição audiovisual no antigo arsenal, recital de poesia, e mesmo a um pequeno festival de música tradicional. Também, muitos e muitas visitantes puderam aceder a um raro "luxo", como é desfrutar da paradisíaca Praia Areeira.
Curiosamente, este luxo não é assim tão raro para algumas pessoas, como o multimilionário Amancio Ortega, que tem sido visto visitando o local no seu barco, como foi relatado ao DL por um membro da organização.
A ilha, embora aparentemente insignificante, tem um importante valor simbólico. Testemunha de diversos episódios da história galega, passou de ser um assentamento e santuário celta a refúgio de eremitas medievais, piratas e mesmo até albergar um hospital.
Os vizinhos e vizinhas de Combarro, a pouco mais de média milha náutica de distância, defenderam legalmente desde 1854 o seu uso público, embora fora privatizada no 1889 e temporariamente transformada em penitenciaria. Ainda assim, os vizinhos e vizinhas chegaram a trabalhar e cuidar com certa normalidade as suas terras até finais dos anos 40 do século passado, quando foi ocupada pela Armada espanhola.
De forma parecida à ilha de São Simão, na próxima ria de Vigo, que foi utilizada como campo de concentração e extermínio do regime franquista, Tambo transforma-se num arsenal militar ao serviço desse mesmo regime, onde a população civil tinha totalmente proibido o acesso.
Em 2002, a Armada espanhola deixou de qualificar a ilha como "enclave estratégico", o que disparou as expectativas de a ilha puder ser cedida ao governo galego e incorporada no Parque Nacional das Ilhas Atlânticas.
Daí, também, as tentativas dos vizinhos e vizinhas da zona para pôr em valor os aspectos históricos, ambientais, paisagísticos, culturais e de lezer do lugar, apresentando inúmeras propostas como por exemplo a declaração da ilha como espaço protegido, recuperação de construções de interesse, criação dum centro de interpretação ambiental, cultural e histórica, visitas turísticas regulamentadas e controladas, ou recuperação da flora autóctone.
Contudo, e apesar destas esporádicas visitas e actos, a marinha espanhola continua sendo a proprietária legal e barrando o acesso à ilha, enquanto esta fica cada vez mais deteriorada pela destruição por abandono dos restos arqueológicos, edifícios históricos e desfeita ambiental.