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ocupaSPBrasil - RBA - [Rodrigo Gomes] Jardim da União parte da luta pela moradia para propor novas relações entre vizinhos, com mutirões, cooperativas, espaços culturais coletivos e hortas comunitárias


São quatro cômodos. Uma sala, onde três crianças brincavam, com dois sofás de dois lugares e um móvel para televisão. Dois quartos, um para o casal e a filha Daniele, de 3 anos, outro para os dois meninos, Marcos, 6, e Daniel, 5. Deixar o calçado na porta é fundamental, porque a casa tem carpete em todos os aposentos. No fundo, uma lavanderia, ainda a céu aberto, com uma caixa d'água de 500 litros que serve a cozinha e o banheiro, que já está no contrapiso. Para Juciara Maria de Jesus, de 24 anos, que chegou há dois meses com o marido Domingos Souza, de 33, a felicidade que sente não pode ser descrita.

"Melhorou para todos nós, principalmente para as crianças. Tinha móveis que eu nem podia usar na outra casa, porque não cabia, e ficou amontoado na minha sogra...", dizia Juciara, quando parou a descrição entre um sorriso tímido e olhos marejados, olhando Daniele brincar na sala e os meninos desaparecerem correndo pela porta da frente.

Antes, ela vivia em uma casa de dois cômodos, no Jardim São Rafael, extremo sul de São Paulo, pagando R$ 400 de aluguel. O salário de R$ 1,3 mil do marido, trabalhador da construção civil, sempre minguava antes do fim do mês e a situação parecia não ter perspectiva de melhora. Mas, há um mês, a família se mudou para a nova casa, que levou dois meses para ser construída.

No entanto, a descrição não trata de uma residência convencional, de alvenaria, menos ainda de uma construção do programa Minha Casa, Minha Vida. A moradia de Juciara é um dos 600 barracos distribuídos em uma área de 84 mil metros quadrados, feitos de madeirite, pontaletes e telhas, na ocupação Jardim da União, no bairro Mangue Seco, no Grajaú, extremo sul da capital. "A gente morava num porão. A casa era abaixo do nível da rua, mofava muito, e não tinha onde as crianças brincarem. Agora é tudo diferente. Nós adoramos esse lugar", relata Juciara.

Não que os problemas sejam inexistentes. As telhas, em geral doadas, têm rachaduras e as goteiras são frequentes. Quando chove forte, a enxurrada ainda passa pelas laterais de muitos barracos, que estão direto no chão de terra. Por isso a maior parte dos moradores investiu em fazer, ao menos, o contrapiso dos barracos.

No barraco ao lado vive o cunhado dela, Edinaldo Souza, de 28 anos, com a esposa Maria Edneuza, de 33, e o filho Davi, de apenas 3 meses. "Melhorou 100% a nossa vida. A casa agora é muito maior e, o mais importante, não pagamos mais aluguel. Aqui vamos criar melhor o nosso menino", disse, ao ser questionado sobre a situação do pequenino. Edinaldo morava em dois cômodos "apertados", no Jardim Varginha, pagando R$ 300.

A ocupação tem pouco mais de três meses e foi iniciada em 12 de outubro do ano passado. Boa parte dos moradores são remanescentes da ocupação em um terreno no Jardim Itajaí, iniciada em 27 de julho, a cerca de cinco quilômetros da nova área. Após seis despejos, sendo o último cheio de relatos de truculência, sumiço de pertences, uso de força excessiva pela Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana, com bombas de efeito moral e balas de borracha, as famílias decidiram mudar de local.

À época do despejo, a subprefeita da Capela do Socorro, Cleide Pandolfi, afirmou que não iria permitir uma nova favela na região. Porém, essa ocupação, visitada na quinta-feira (16) pela RBA, passa ao largo do estereótipo.

Foto: Márcia Minillo/RBA.


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