Macri declarou que, na reunião de cúpula do Mercosul, que acontecerá no dia 21 de dezembro, pressionará para que seja aplicada a “cláusula democrática” contra o governo venezuelano “pelos abusos na perseguição aos opositores e à liberdade de expressão”. Macri se refere ao conhecido elemento da extrema-direita venezuelana Leopoldo López, que se encontra preso devido à participação em tentativas de promover um golpe de Estado no país. O governo de Nicolás Maduro não seria compatível “com o compromisso democrático que assumimos os argentinos”.
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O verdadeiro objetivo de Macri será desmontar o Mercosul para promover acordos comerciais diretos com a Europa e os Estados Unidos. O primeiro passo será acelerar esses acordos por meio do bloco. O governo Kirchner tinha sido o principal acordo para avançar nesse sentido devido à ameaça de desmantelar, ainda mais, a produção local.
Cristina Kichner foi colocada contra as cordas por causa do aprofundamento da crise capitalista e a incapacidade de romper com o aperto da espoliação imposta pelo imperialismo norte-americano, principalmente.
Com Macri a política do governo argentino tenderá a um alinhamento maior com as políticas neoliberais que os monopólios buscam impor, principalmente em relação ao ajuste e contra o “bolivarianismo”, a China, a Rússia e o Brasil.
A crise capitalista e a política do "salve-se quem puder"
A Argentina foi um dos países que saiu à frente no processo de aprofundamento da crise capitalista mundial, impactada pela crise no Brasil e a queda dos preços das matérias-primas no mercado mundial por causa da crise na China. A queda do comércio com o Brasil no ano passado foi de mais de 25%, à que deverá se somar um percentual ainda maior neste ano. Esse é o motivo do desespero da burguesia argentina que busca desesperadamente outros mercados. Por causa do sucateamento da produção manufatureira, o foco dos “novos parceiros” será, inevitavelmente, o aumento do modelo de produção de matérias-primas e da importação de produtos manufaturados. No médio prazo, essa política deverá levar ao aumento do desemprego, por causa do fechamento das indústrias, e à inflação por causa da crescente dependência das importações.
A pressão da especulação financeira foi muito além dos “fundos abutres”. Há uma grande fuga de capitais, um alto déficit público, o crescente aumento do endividamento público e privado, a queda das exportações e a forte queda das reservas soberanas, que hoje somam apenas US$ 26 bilhões.
Os fundos abutres colocaram uma pressão sobre o governo argentino de US$ 9 bilhões. A inflação semioficial na Argentina se encontra em aproximadamente 30% ao ano. Só uma desvalorização do peso dos atuais 9,50 por dólar para 14 elevaria a inflação para 40%.
Macri aumentou a tarifa do Metrô de Buenos Aires a partir de 2012, de 1,10 pesos para 4,50 hoje. Calcula-se que hoje deixem o país em torno de US$ 700 milhões por mês.
O governo Macri buscará relaxar as restrições contra as importações e a liberalização do câmbio, o que provocará uma mega desvalorização. Essa política, junto com o fim dos subsídios sobre os serviços públicos, como o transporte público, a energia elétrica, o gás e a água encanada, e a redução dos programas sociais, levará, inicialmente, a um enorme repasse da crise sobre os trabalhadores. A seguir as políticas recessivas deverão provocar o sensível aumento da pauperização dos trabalhadores argentinos, fazendo relembrar a situação que levou ao Argentinazo em 2001.
Até 2017 o Congresso estará dividido. A coalizão direitista terá 201 vagas, 109 do Frente Por La Victoria e 92 de Cambiemos, o que obrigará a ampliar a aliança com setores da direita do peronismo e da centro-esquerda, tal como o tem feito na cidade de Buenos Aires e nas Províncias. Em 2017, no ano seguinte às eleições nos Estados Unidos, acontecerão as eleições legislativas na Argentina, onde a pressão do imperialismo deverá aumentar muito mais. Estarão em jogo 257 vagas na Câmara dos Deputados.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.