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070714 videla ar futArgentina - Carta Maior - [Binoy Kampmark/CounterPunch] Quando foi sediada na Argentina em 1978, a Copa do Mundo foi motivo de orgulho para a ditadura. Hoje o estado policial permanece mais que mera história.


Enquanto a fase eliminatória da Copa do Mundo de Futebol se desenrola no Brasil, a inclinação política em eventos como este é difícil de resistir. Eventos esportivos em tal escala são promoções e projeções políticas. O próprio governo brasileiro ficou entusiasmado por obter o torneio, tanto que acumulou dívidas, aumentou o preço do transporte e impôs diversas medidas quase que draconianas para o controle da população.
 
O retorno da Copa para a América do Sul paira como uma sensação de arrependimento e negação a isso. Quando foi sediada na Argentina em 1978, o país estava sendo controlado e extorquido pela junta militar no General Jorge Rafael Videla. Tudo em nome da ordem; tudo em nome do orgulho. 
 
Os meninos locais não desapontaram o General. O memorável Mario Kempes, junto com o meio-campo Osvaldo Ardiles e figuras como Ricardo Villa, ganharam o torneio. O futebol podia, em estádiios, ser bonito; Kempes, uma criatura desengonçada que provou ser letal sua chuteira dourada; Ardiles controlando o jogo com uma potência sem igual.
 
Por todos os seus esforços, eles não seriam nada menos que marionetes da junta militar, os bonecos de um regime brutal que se expandiu muito ao sediar o torneio. Nada seria poupado. Kempes, junto com seus colegas de time, Daniel Passarella, que recebeu o troféu do próprio General Videla, agora diz que se soubesse das violações grotescas aos Direitos Humanos, teria negado participação na Copa do Mundo. 
 
A somente 1000 metros do famoso estádio River Plate se encontra um dos maiores centros de tortura e detenção da ditadura, tão ocupado que viu 4 mil pessoas serem processados pela máquina de tortura. O regime militar tinha muitos centros como este – 340 ativos durante o regime. Enquanto o futebol era jogado no gramado, a tortura estava sendo praticada fora dele. De fato, prisioneiros da Escola Naval de Mecânica (ESMA) podiam ouvir tanto os gritos de prazer do estádio quanto os de tortura do complexo.
 
Entre 1976 e 1983, a campanha sistemática de desaparecimentos forçados e brutalidade contra membros de sindicatos, membros da esquerda e opositores do regime custo de 15 a 30 mil mortos. 1978 serviu como centro de apologia e promoções – um regime que não poderia ser tão mal assim se estivesse entusiasmado com um jogo que os argentinos jogaram bem. Tal ponto foi percebido quando, em uma entrevista para a revista de futebol El Gráfico, o General Videla sugeriu que a Copa tinha sido ganha pelo líder da junta, e não por Kempes. 
 
Não foi somente o lado argentino que jogou em uma escuridão de negação, uma ilusão desesperada onde o futebol poderia transcender o momento como um ato de possessão sobre a política. Os holandeses, que chegaram às finais de 1978 e perderam de 3-1 para os anfitriões, foram um pouco estridentes em sua política limpa. A Holanda provou ter sido uma investidora durante a época da Guerra Suja. O embaixador Holandês, Van den Brandeler, foi até o ponto de dizer que o General Videla era um homem de honra. 
 
A história de dois países continua a se misturar – o pai da Rainha Maxima da Holanda, Jorge Zorreguieta, foi um dos ministros civis que mais serviu na ditadura militar argentina. Em 1976, quando o golpe militar foi iniciado, Zorreguieta comandou a Sociedade Rural, uma organização conservadora que representava os interesses dos proprietários de terra. Ele procedeu com os programas de agricultura no ministério.
 
Tais ligações levaram o Parlamento Holandês a autorizar o historiador Michiel Baud a examinar possíveis ligações com as violações dos Direitos Humanos. Advogados também se ocuparam. Quais foram os pecados daquele pai? Enquanto a investigação não gerava nenhuma ligação, Baud sugeriu que, como “diretor da Sociedade Rural,” Zorreguieta foi parte do grupo de pessoas que ao menos simulou o golpe, e é significante que tenha continuado com a ditadura por 5 anos, até que o próprio Videla deixou o governo” (News OK, 3 Feb, 2013). Difícil de sair de um trem acelerado quando já está nele.
 
Por tais razões, a vitória argentina na Copa de 1986 no México, encabeçada por Diego Maradona, permanece mitológica. Os esforços de Kempes e seu time são notas de rodapé, sugerindo uma forma de esquecimento em face a dor. O surgimento desses hábitos obscuros no Brasil antes e durante o torneio, sugere que o estado policial, com seus tentáculos, permanece mais que mera história. Futebol continua jogo e código, uma arma bruta e tóxica.

Tradução de Isabela Palhares.


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