Depois de uma visita oficial, que começou em 17 de julio, Emmerson divulgou as observações preliminares de seu trabalho numa entrevista coletiva realizada na sede da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) em Santiago de Chile, onde disse que lei tem sido aplicada de modo discriminatório e confuso, "o que resultou em verdadeira injustiça, desprezou o direito a um julgamento justo e tem se mostrado estigmatizante”.
Para Emmerson, quem acredita que continuar pelo mesmo caminho poderia causar "uma violência generalizada” no sul do Chile, "a legislação se converteu em parte do problema e não parte da solução. Tem sido aplicada de forma desproporcional contra os defendidos mapuches e implementada sem uma política coerente e objetiva”.
Ditada em 1984 durante a ditadura de Pinochet para enfrentar grupos de resistência, a Lei Anti-Terrorista castiga com penas muito mais severas em comparação com a legislação ordinária casos de homicídios, sequestros, incêndios e detonações de artefatos explosivos. Na prática, entre outras desvantagens processuais, a norma implica a utilização de testemunhas sem rosto nos julgamentos e, antes disso, permite períodos mais longos de prisão preventiva.
Depois do retorno à democracia, em 1990, a lei tem sido aplicada, sobretudo, em casos contra ativistas mapuches, que — entre outras demandas, como a proteção de seus lugares sagrados e direitos às águas— reclamam a restituição dos territórios despojados à força pelo Estado chileno. Em 2009, durante o governo de Michelle Bachelet — a mais provável vencedora das eleições presidenciais de novembro próximo—, que também recorreu à normativa em casos de violência em La Araucanía, o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial da ONU já havia instado o Estado chileno a não aplicar a polêmica lei contra os mapuches.
Após sua visita de 14 dias ao Chile, Ben Emmerson pediu ainda um reconhecimento constitucional para o povo indígena dentro do Estado chileno e, "num prazo definido e relativamente breve”, chamou a criar uma "estratégia nacional” para enfrentar o conflito no longo prazo.