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200812 honduHonduras - Rebelión - [Ollantay Itzamná, tradução do Diário Liberdade] Os registros históricos indicam que no século XVII, no atual território hondurenho, coexistiam cerca de 400 mil nativos dispersos em diferentes povoados.


Situação que gerou sérias dificuldades a Pedro Alvarado, enviado de Hernán Cortés, que precisou de mais de duas décadas para "submeter" os povos de Honduras. As civilizações asteca e inca caíram quase de maneira imediata (em meses, apenas), uma vez aniquilados seus principais governantes. A única rebelião indígena em Honduras, ainda pouco conhecida, é a do povo indígena Lenca, liderada pelo legendário líder Lempira, que desafiou aos invasores aproveitando da topografia e do clima do lugar, até que foi vencido em 1573.

À medida que ditos povos eram vencidos, iam diretamente parar nos centros mineiros da região, inclusive da América do Sul. Dessa forma, amortizaram a demanda da mão de obra escrava para o funcionamento do sistema colonial no século XVII, até que foram trazidos os primeiros africanos (século XVIII).

O saque da população indígena em Honduras foi tão brutal que quando a Coroa espanhola, em seu intento de proteger a mão de obra nativa mediante a criação de povoados indígenas, promulgou as Leis de Índias (1542), neste país centro-americano já não existiam comunidades indígenas demograficamente significativas. Na Guatemala se estabeleceram, sob as ditas Leis, mais de 700 povoados indígenas. Em Honduras, não existe registro significativo de povoados indígenas. 

Esta talvez seja uma das razões fundamentais do por que na Guatemala os povoados indígenas preservam seus idiomas, vestimentas, espiritualidades, comidas, modos de produção, etc. Enquanto em Honduras, a apenas minutos das e dos indígenas da Guatemala, os povoados indígenas, atualmente organizados, carecem de idiomas nativos, espiritualidades, vestimentas, modos de produção, etc.

A comemoração do quinto centenário da invasão espanhola (1992) estimulou a rearticulação dos povoados indígenas em Honduras, os quais, amparados no Convênio 169º da OIT, conseguiram ser reconhecidos como tal pelo Estado. Atualmente, os povos indígenas reconhecidos são: Lenca, Maya Chortí, Pech, Tolupanes, Tawakas e Nahua. Enquanto os povos coloniais (fruto do encontro de nativos com africanos e ingleses) são: Garífuna, Miskito e Creol. Com este reconhecimento de povos indígenas e negros, os governos hondurenhos apareceram na comunidade internacional em sintonia com os ventos multiculturais que sopravam nas décadas passadas. Mas, nem sequer esse suposto multiculturalismo é honesto em Honduras.

Diferentes governos sucessivos foram promovendo e distribuindo múltiplas pessoas jurídicas a um mesmo povoado indígena. Um exemplo claro é o povoado Lenca, que tem cinco registros de pessoa jurídica com status de povoado indígena. Como pode um Estado sério estender cinco identidades diferentes a uma mesma pessoa jurídica? E isto ocorre com os outros povoados indígenas e negros.

A finalidade desta estratégia da legalização de múltiplas organizações paralelas foi manter ajoelhados a indígenas e negros, instrumentalizá-los politicamente e utilizá-los para limpar o rosto etnográfico do aparente Estado. Existem organizações como o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINNH) e a Organização Fraterna de Negros de Honduras (OFRANEH), que resistem a essas manipulações, mas são organizações discriminadas, perseguidas e reprimidas pelos diferentes governos sucessivos.

A celebração do dia Internacional dos Povos Indígenas, em 9 de agosto passado em Copán Ruinas, retrata de forma grosseira a manipulação política que o regime atual, como outros, faz destas organizações com o consentimento expresso de seus dirigentes. Diferentes delegações de indígenas e negros do país foram transladadas até o Santuário Arqueológico Maya Chortí em Copán Ruinas, onde se realizou o dito ato comemorativo. Estiveram representados todos os povoados, mas mediante as organizações paralelas e quase ninguém conhecia o motivo da celebração. Não compareceram mais de 500 pessoas. A maioria, indígenas chortís do lugar. O ato se realizou ao lado do santuário Maya, mas os presentes não podiam entrar no dito Santuário por ser um espaço reservado a pessoas com dinheiro, em especial, estrangeiros.

A saudação, as palavras de boas-vindas, o discurso oficial, o encerramento e incluso a moderação da celebração do Dia Internacional de Povos Indígenas esteve a cargo de dirigentes políticos e funcionários do Partido Nacional. Pessoas que dormem sonhando com os Estados Unidos e vivem cuspindo no indígena e no negro do país.
Indígenas carcomidos pela desnutrição e parasitoses, sem terras, submissos e providencialistas ovacionaram ao Presidente da República, Pepe Lobo, que aterrissou no lugar no único helicóptero operacional da providência norte americana. 

Uma dirigente chortí, vestida com seu traje ritual, pegou as mãos do Presidente da República e o levou ao imponente palanque, construído pelos chortís na véspera (onde indígenas não têm espaço na mesa principal), para que lhes falasse sobre a unidade e a obediência num país praticamente inexistente. As danças, os atos rituais, os cantos, etc. tudo era para render honras e reverências aos políticos, em acordo com o governo, que prometeram e prometem o paraíso terreno mas fazem de Honduras um país sem república, sem Estado, sem nação e sem dignidade.

Assim transcorreu o evento. O Presidente se despediu anunciando as próximas datas exatas para almoçar, em particular, na casa presidencial com cada uma das organizações indígenas e negras presentes, enquanto os aplausos desesperados e os olhares tristes se confundiam no lugar. No dia seguinte, o governo central difundia de seus espaços de informação oficial: "Apoteótica celebração do presidente da república pelo Dia Internacional de Povos Indígenas em Honduras...".

A condição de colonialismo calou demasiado fundo em Honduras. À medida que as e os colonizados, neste caso, indígenas e negros, continuem assumindo sua condição de submissão e miséria como algo natural e continuem ovacionando as elites políticas tradicionais (responsáveis por suas desgraças) como seus únicos redentores, a vigência do colonialismo interno está garantida para logo. Ainda que com esperança também se veem esforços sobre-humanos de setores indígenas e negros que começam a questionar o colonialismo e o patriarcalismo interno e externo, mas estes esforços encontram sérias dificuldades para articular processos de liberação pela fragmentação organizacional e a condiçaão colonial da grende maioria de indígenas e negros de Honduras.

Tradução de Cássia Valéria Marques para o Diário Liberdade.

 

 


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