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Radio-Globo-Honduras-Nota-David-2Honduras - Desacato - [Raul Fitipaldi] "A candidatura de Xiomara Castro significa dar o passo mais importante na história política dos últimos cem anos, significa a dignificação deste povo, leva em si a viabilização de uma proposta histórica de transformação estrutural do país, significa reavaliar as formas de produção e distribuição da riqueza na nação".


David Romero Ellner é Diretor Jornalístico de TV e Rádio Globo Honduras. Romero se fez conhecido no mundo todo por ter pulado da janela da emissora de rádio, junto com o jornalista Rony Martínez Chávez e um operador de rádio, para proteger-se da ditadura que se instalou em Honduras em 2009, mantendo-se, com eles, oculto durante semanas. Desde um quarto minúsculo manteve seu programa matinal de três horas diárias, Notícias Rádio Globo, via web, quebrando o bloqueio mediático imposto pelo governo cívico-militar. Por esse ato jornalístico obteve destaque e junto com a emissora ganhou o prêmio ONDAS da Cadena SER.

Desacato.info – Passaram-se já quatro anos do Golpe de Estado, que mudou em Honduras com o Golpe?

David Romero Ellner – Passados quatro anos do golpe posso dizer que como em todo fenômeno social, como em toda mudança brusca de governo mediante golpes de estado ou insurreições sempre se geram mudanças, para bem ou para mal, mas, sempre acontecem. No caso de Honduras o golpe cívico conseguiu, por um lado, aprofundar as grandes contradições que se vinham dando na sociedade. Este aprofundamento das contradições permitiu que se avivassem no país os temas como o da consciência social. Eu acredito que se procuramos uma mudança qualitativa e quantitativa depois do golpe a encontramos aqui, a sociedade em geral se inteirou que vivíamos em uma bolha, num país de fantasia e garantias ilusórias que é necessário mudar, dali o crescimento espontâneo e criativo do que é a Frente Nacional de Resistência e seu braço político, o partido LIBRE. Os setores sociais entenderam que era a oportunidade de elevar sua organização a estádios por cima de qualquer mesquinharia e no que na década dos oitenta não se conseguiu fazer nesta conjuntura se conseguiu: criar e estatuir uma organização político-social capaz de tomar o poder.

D – A Resistência Hondurenha construiu suas organizações democráticas mais recentes como ato de defesa e avanço frente aos setores conservadores. Têm cabimento no Partido Liberdade e Refundação suas reivindicações?

DRE – Acontece que Liberdade e Refundação é a máxima expressão das reivindicações populares, é sua essência mesma. Não poderia ter existido LIBRE como partido político se na sua essência não coubessem as reivindicações mais sentidas dos setores populares, certamente. Todos os setores sociais e reivindicativos da sociedade estão incluídos em LIBRE, são sua alma, vida e coração. A proposta e tese programática são o produto de centenas de consultas populares em todos os setores da sociedade. Está incluído desde a definição do modelo de estado e economia que queremos, até o papel da diversidade sexual numa sociedade como a que se pretende construir. Neste projeto os setores sociais, o povo em geral deixou de ser observador para converter-se em protagonista das mudanças, em ator principal da história.

D – É possível acreditar que o atual processo eleitoral reinstaure a democracia e permita desenvolvê-la em Honduras? Temes uma fraude eleitoral?

DRE – Este processo eleitoral é o princípio da reinstauração da institucionalidade em Honduras, reveste uma importância especial: aqui culmina o governo de transição de 2009 e se inicia um novo processo democrático em Honduras, claro, com novos atores.

O tema da fraude é um fantasma que sempre existe, está presente porque é parte da cultura política tradicional, arcaica, os processos eleitorais. Tanto liberais como nacionalistas os ganharam historicamente sob com este sistema fraudulento, mas hoje a coisa é diferente, o mundo, e em especial a América Latina sabe que nestas eleições se joga o destino dos latino-americanos e por isso serão as eleições mais supervisadas do mundo, tem muitos olhos encima, especialmente da comunidade internacional. Se há fraude não será incidental no triunfo ou derrota de qualquer um dos partidos.

D – Como influirá o resultado eleitoral de Honduras na América Central e nos países integrantes da CELAC, segundo quem vença o pleito?

DRE – Considero que o relevante para que se vejam mudanças importantes em Centro América é o triunfo de novas forças políticas, porque olha, se vence qualquer um dos partidos tradicionais, Liberal ou Nacional, na região o que seguirá existindo é a consolidação dos setores mais conservadores na área, enquanto que se vence LIBRE, a correlação de forças muda em favor de uma proposta libertária, anti-imperialista, com uma visão de países soberanos e de autodeterminação, e logicamente, consequente com esta explanação, a CELAC e o bloco centro-sul da América teriam um escoramento que mudaria toda a correlação de forças na América Latina.

D – Tu tens suma história de resistência e de colocar tua vida em risco na tua posição de jornalista e diretor de uma rádio. Muitos jornalistas morreram desde 2009 até aqui. Qual é o saldo?

DRE – A verdade é que no confronto que gerou o golpe de estado de 2009, não só estiveram em perigo os jornalistas, senão todos os hondurenhos e hondurenhas, especialmente quem lideravam a luta pela restituição da ordem constitucional. Claro, no caso da imprensa dissidente se focalizou um pouco mais devido ao papel que cumpriu e continua cumprindo neste processo. As estatísticas nos dizem que mais de 29 comunicadores sociais faleceram do golpe de estado para cá.

Isso tudo indica que as estruturas fascistas que deram o golpe de estado estão intactas, que seguem operando sob a impunidade que dá o regime e que seu desmonte está sujeito à toma de poder por parte das forças democráticas lideradas por LIBRE.

D – Que representa a candidatura de Xiomara Castro e quais suas possibilidades de vitória?

DRE – A candidatura de Xiomara Castro significa dar o passo mais importante na história política dos últimos cem anos, significa a dignificação deste povo, leva em si a viabilização de uma proposta histórica de transformação estrutural do país, significa reavaliar as formas de produção e distribuição da riqueza na nação. É dar ao povo a oportunidade de ter um governo legitimamente popular de inclusão, de participação soberana; por isso, porque a candidatura de Xiomara encarna todos estes sentimentos é que lidera as pesquisas do país onde dizem que será a próxima presidenta de Honduras.

D – Como se comportaram os partidos tradicionais, Nacional e Liberal, durante o processo eleitoral?

DRE – Estes dois partidos têm sido historicamente os instrumentos do poder político dos grupos dominantes em Honduras. Por mais de cem anos dirigiram os destinos da nação, houve uma ditadura do bipartidismo, mas, hoje com a presença de novas forças políticas, esse tabu se rompeu, dali que manifestam, como é normal, uma resistência a ceder espaços que hoje peleiam outros atores políticos que surgem neste cenário depois do golpe.

Estas duas organizações políticas perderam sua autonomia como partidos e só recebem ordens de quem se apoderaram deles, neste caso, dos grupos econômicos. No marco das eleições e como parte da estratégia contra LIBRE montaram uma campanha suja, malévola, de intimidação e perseguição em contra da liderança de LIBRE, mas, o povo hondurenho soube assimilar de tal maneira que não tem feito dano na consciência e vontade política de mudança que temos os hondurenhos.

D – Quem ganhar as eleições deverá resolver primeiro que assuntos fundamentais?

DRE – Não se trata de quem ganhar as eleições e do que terá que resolver nestas eleições, o que se joga é o destino da América Latina, não o de Honduras. São umas eleições onde o povo tem que decidir entre golpistas e golpeados, entre o status quo e as mudanças estruturais, entre os pró-sistema e os anti-sistema, entre revolução e contrarrevolução. Por isso se ganhar os tradicionais não tem nada que resolver porque todos os males que afetam o país não são mais que os efeitos das medidas tomadas em todos os âmbitos por estes partidos, são os resultados da imposição do neoliberalismo, porém, se ganhar LIBRE, o primeiro que tem a fazer é convocar a Constituinte como ponto de partida para construir poder popular com uma nova constituição, um novo pacto social, inclusiva e definir o Estado que queremos e o modelo que vamos adotar.

D – Finalmente, que sentes depois de 4 anos do Golpe de Estado com uma duvidosa transição no meio (governo de Porfírio Lobo Sosa), nesta reta final eleitoral?

DRE – Sinto um pouco de nostalgia combinada com um otimismo que somente o dá o saber que sempre, ao final de uma luta, por mais dura que for, fica o sabor de ter aprendido com as massas, que os ideais da gente ou utopias, aos poucos vão pegando forma e que o sonho de uma pátria mais digna, soberana e socialista pode ser realidade sempre e quando saibamos aproveitar as conjunturas e saber construir desde a base os cimentos da nova Honduras. E acredito que o povo hondurenho sob a condução, primeiro da Frente Nacional de Resistência e hoje por LIBRE, tem sabido e tem tirado proveito de toda a conjuntura, desde o golpe de estado, passando pelo governo de transição de Porfírio Lobo Sosa, até chegar à reta final das eleições.

Considerações finais de David Romero Ellner

Tenho que fazer alguma consideração, é para agradecer a solidariedade internacional do mundo para este povo de Honduras dentro do marco do golpe de estado, e depois aos países da América Latina, em especial os de MERCOSUL e CELAC, e essa solidariedade brindada até hoje, a vocês, como comunicadores sociais que não nos deixaram na mão e que seu grito de protesto ou de solidariedade teve eco no povo hondurenho, especialmente o último chamado que fez o ex-presidente do Brasil, Luiz Ignácio Lula da Silva para apoiar Xiomara neste projeto de refundação de Honduras.

Imagem: rádio Globo Honduras.

 


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