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23-chavezVenezuela - Opera Mundi - [Marina Terra] Falecido presidente deve ser levado a um mausoléu construído no alto do 23 de Janeiro, no Quartel de la Montaña.


Caminhar pelas ruas do 23 de Janeiro é como ver a história da Venezuela passar pela frente dos olhos. Nas esquinas, vielas e janelas das centenas de casas e edifícios que cobrem o bairro localizado na zona oeste de Caracas, está um capítulo. A notoriedade do 23 surge em 1958, quando nessa data caiu Marcos Pérez Giménez com a atuação fundamental dos moradores, que resistiram aos tanques da ditadura.

Nesse meio tempo, vieram os seguidos governos neoliberais do puntofijismo, o "Caracazo", cujas balas deixaram cicatrizes nas paredes e, finalmente, a eleição de Hugo Chávez. Agora, a página mais recente começará a ser escrita a partir da próxima semana, quando o corpo do presidente deve ser levado a um mausoléu construído no alto do 23, no Quartel de la Montaña. Chávez descansará para sempre onde organizou seu levante cívico-militar, em 1992, e no bairro no qual as propostas de seu processo revolucionário obtiveram mais respaldo e eco.

Os moradores do 23 já esperam o presidente com ansiedade. "Ele chega na quinta-feira. Vai ser um dia intenso, porque não sei como farão com tanta gente nessas ruas tão apertadas. O 23 irá se tornar um lugar de peregrinação mundial, com certeza", diz Rabin Azuaje, militante comunista desde a adolescência. De fato, a impressionante quantidade de simpatizantes que esperam longas horas para ver o corpo de Chávez na Academia Militar é um prenúncio de que a rotina no bairro caraquenho irá mudar drasticamente.

A atividade ao redor do antigo quartel-general do Exército onde repousará o presidente é intensa. Em 1992, Chávez usou o prédio com torres, que fica nas colinas perto do palácio presidencial, como seu centro de comando para organizar o levante contra Carlos Andrés Pérez, pai do "Caracazo". Somente os moradores que vivem perto do edifício são autorizados a passar pelo forte esquema de segurança, feito por militares

O local do enterro do líder venezuelano, morto aos 58 anos, era incerto até dois dias atrás. Cogitou-se a possibilidade de que Chávez fosse sepultado em sua cidade natal, Sabaneta, Estado de Barinas, 430 quilômetros a sudoeste de Caracas. Assim que o velório na Academia Militar, seguidores também clamaram que ele fosse levado ao Panteão dos Próceres, onde estão os restos de venezuelanos como o libertador Simón Bolívar e Francisco de Miranda.

O presidente interno Nicolás Maduro chegou a dizer que Chávez seria embalsamado, informação que já não é mais comentada pelo governo. Talvez porque um vídeo, datado de 2012, mostra o falecido presidente venezuelano qualificando como "macabro" o embalsamento de cadáveres.

Eleição

Mas, enquanto Chávez não chega, a rotina segue a mesma no 23. A salsa, os risos de crianças e o intenso movimento nas lojas e nas ruas seguem a ditar o ritmo. E, assim como no resto do país, o principal tema das conversas é a próxima eleição presidencial, marcada para 14 de abril. Coincidentemente, o novo presidente venezuelano será escolhido um dia após a data em que serão celebrados 11 anos da volta de Chávez ao poder, após sofrer um golpe de Estado, em 11 de abril de 2002.

Naquela época, mais uma vez, o 23 de Janeiro foi peça fundamental no direcionamento da história do país. Foi lá que eclodiram as primeiras manifestações de rechaço à ação dos golpistas – empresariado, meios de comunicação privados e parte dos militares –, que, posteriormente, se multiplicaram por outras partes de Caracas e seguiram como um aluvião popular para os arredores do palácio de Miraflores.

"Os 10 milhões de votos que prometemos ao presidente em 7 de outubro serão de Maduro agora. Acho que até mais: 13 milhões", afirma Nelson Cremer, músico do grupo musical Madeira, nascido no 23. Para ele, o provável candidato da aliança opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática), o governador do Estado de Miranda Henrique Capriles, não tem qualquer chance de ser eleito, ainda mais depois das declarações feitas durante coletiva de imprensa ontem, na qual chamou Maduro de "mentiroso".

"Eles não têm ideia do que acontece no país, desse momento histórico que vivemos. Um cubano chavista deve assessorar a oposição venezuelana, só pode ser", brinca Gustavo Borges, ativista social e jornalista.

Também filho do 23, o qual nunca abandonou e onde criou os sete filhos, ele conta que por casualidade recebeu a notícia da morte do presidente nas montanhas de Barinas, terra de Chávez, enquanto fundava um conselho comunal com camponeses. "Eles não se desesperaram, apesar de lamentarem muito a partida do presidente. Por meio deles vi que Chávez conseguiu ensinar um novo modo de viver, um novo modo de desenvolvimento. Isso nada nem ninguém irá deter."

Imagem: Entrada que leva até o Quartel de la Montaña, no alto do bairro de 23 de Janeiro, em Caracas. (Mariana Terra/OM).


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