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100314 rio escondido 1México - PGL - [José Paz Rodrigues] Quero aproveitar a data do 8 de março, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, para lembrar o fantástico labor pedagógico de muitas mestras, umas famosas e resenhadas na história da educação, e outras importantes, mas com um calado labor educativo, embora não apareçam seus nomes nos livros de história educativa.


No primeiro caso, quero lembrar as pedagogas famosas e grandes educadoras seguintes: Maria Montessori, criadora em Roma da escola infantil “Casa dei Bambini” e do seu famoso método para pré-escolar, estendido por todo o mundo (mesmo na Índia todas as escolas infantis se denominam“Escolas Montessori”); as irmãs Rosa e Carolina Agazzi, criadoras na sua escola italiana de Mompiano do seu famoso “Método Agazzi” para a educação infantil; as argentinas educadoras da infância Clotilde Guillén de Rezzano e Inés Cordeviola de Ortega, mestras destacadas da pré-escola no país de América do Sul; a chilena, e prémio Nobel de Literatura em 1945, Gabriela Mistral, que desenvolveu um formoso labor educativo no seu país chileno, e mais tarde em México, seguindo o modelo didático da Escola Nova e da Instituição Livre do Ensino de Giner e Cossío, e mesmo escrevendo formosos poemas e artigos sobre o labor de mestras e mestres e a sua importância social; a também prémio Nobel em 1938 Pearl S. Buck; a grande poeta brasileira e tagoreana Cecília Meireles, mestra destacada do movimento da Escola Nova do Brasil; a lituana judia Shlomit Flaum, que, depois de aprender o método Montessori em Roma, colaborou com Tagore em Santiniketon durante vários anos, para organizar posteriormente em Israel, com a criação deste Estado, o ensino infantil das crianças israelitas; a catalã Rosa Sensat, uma grande educadora que criou em Barcelona as “Escolas do Bosque” e as “Escolas do Mar”; a também catalã e minha amiga Marta Mata i Garriga, pioneira da renovação pedagógica e das escolas de verão para docentes; a espanhola Aurora Medina, autora de um interessante livro sob o título de “Educação dos párvulos”; a americana Helen Parkhurst, criadora do famoso e inovador Plano Dalton, na cidade deste mesmo nome; a Beatrice Ensor, extraordinária educadora que promoveu por todo o mundo a “The New Education Fellowship” e as mestras republicanas espanholas, entre elas a tagoreana Maria de Maeztu, às quais dedicarei em abril um próximo artigo da minha série.

No segundo caso, sabendo que hei deixar no tinteiro vários nomes importantes, quero destacar em princípio as minhas mestras de infantil e da escola primária já desaparecidas Rosa Portugal, Victória Sánchez e Carmem Barbosa, a minha professora de ensino secundário no Instituto Laboral de Lalim Carmem López e, muito especialmente, a pedagoga da Escola Normal de Ourense Carmem López Lucas, felizmente viva e que, já reformada, reside em Madrid, a qual tanto me ensinou e motivou. Já na Universidade, lembro com carinho as minhas professoras em Compostela Dores Gómez Molleda de história e a ourensana Ana Maria Quiroga Bouzo de língua árabe, já desaparecida. Também na Complutense de Madrid a Maria Teresa Diaz Allué, de Orientação Escolar. Mestras ainda felizmente vivas que quero lembrar e homenagear, pelo seu estupendo labor no campo do ensino, são Blanca Nieves González, Maribel Gil, Isabel Suárez, Ana Nóvoa, Encarna Varela, Ana Herrero, Maria Flores Garcia Nieves, Maite Vázquez, Montse Fernández, Ana Vidal e, naturalmente, a minha filha Núria Paz. Entre as já desaparecidas, lembro com saudades Maria Agualevada, Dona Amparo do Curros, as irmãs Pura e Dora Vázquez, Joaquina Gallego, Imelda Marcos e Antonhita Marbám, diretora durante anos da Escola Anexa da Normal ourensana.

Dentro da minha série de “As Aulas no Cinema” dediquei já artigos a Maria Montessori (dous), a uma excelente mestra japonesa de escola primária, no filme “24 olhos” e à genial mestra de música Roberta Guaspari no filme “Música do coração”. O mexicano René Cardona, com o título de “A Mestra Inolvidável”, realizou em 1969 um muito interessante filme, que oportunamente no futuro comentarei nesta série. Desta vez, para tomar como base do meu relatório, escolhi outro filme mexicano, realizado em 1947 por Emílio Fernández, sob o título de “Rio Escondido”, em que se relata a história de uma mestra rural mexicana chamada Rosaura Salazar. O famoso cineasta galo Jean-Luc Godard, quando era ainda crítico cinematográfico, comentou elogiosamente este filme, do qual muito gostara.

Ficha técnica do filme:

Título original: Río Escondido (Rio Escondido).

Diretor: Emílio Fernández (México, 1947, 110 min., a preto e branco e a cores).

Roteiro: Maurício Magdaleno, segundo um argumento original de Emílio Fernández.

Produtora: Producciones Raúl de Anda, S. A.

Fotografia: Gabriel Figueroa (a fotografia a cores dos murais de Diego Rivera foi realizada por Luis Osorno Barona).

Música: Francisco Domínguez, com a colaboração musical do coro de madrigalistas de Luis Sandi, com as cantigas “Qué te deu essa mulher?” e “Deus nunca morre”.

Cenografia: Manuel Fontanals. Decorados: Manuel Parra.

Vestiário: Armando Valdés Peza e Beatriz Sánchez Tello.

Atores: Maria Félix (a mestra Rosaura Salazar), Domingo Soler (o Padre), Carlos López Moctezuma (o cacique Regino Sandoval), Fernando Fernández (Felipe Navarro, estagiário de medicina), Agustín Isunza (Brígido, esbirro de Regino), Manuel Dondé (Rengo, esbirro de Regino), Eduardo Arozamena (Marcelino, velho labrego), Arturo Soto Rangel (o médico D. Felipe), Columba Domínguez(Merceditas, a anterior mestra), Roberto Cañedo (ajudante da Presidência), Jaime Jiménez Pons (Goyito), Beatriz Germán Fuentes (menina camponesa), Carlos Múzquiz (Leonardo), Manuel Bernal (o narrador), Juan Garcia, Guillermo Cramer, Sergio Arroyo, Lupe del Castillo e Rogélio Fernández.

Prémios: 10 prémios Ariel da Academia Mexicana de Artes e Ciências Cinematográficas, em 1949, ao melhor ator, melhor atuação infantil, melhor fotografia, melhor música de fundo, melhor cenografia, melhor filme, melhor direção, melhor atriz, melhor ator de quadro e melhor argumento original.

Argumento: Por encomenda do próprio presidente da República de México Benito Juárez, a jovem mestra rural Rosaura Salazar, apesar de estar doente do coração, sai rumo à povoação de Rio Escondido, para pôr a andar a sua escola que leva meses fechada. Depois da sua chegada, e de superar os muitos atrancos que pelo caminho encontra, deve enfrentar o cacique da localidade, Regino Sandoval, quem explora e nega a água aos camponeses do lugar e no seu dia decidiu encerrar a escola. Numerosas dificuldades tem a jovem mestra para abrir a escola e que cumpra o seu cometido social e educativo. E muitas mais quando o cacique se apaixona por ela. O filme apresenta os típicos problemas que tem uma mestra rural para desenvolver numa aldeia o seu labor educativo-social, chocando sempre com as forças vivas contrárias à educação das massas populares e, especialmente, das crianças do rural, por medo a perderem logo os seus privilégios.

Uma mestra mexicana, modelo de muitas mestras rurais do mundo:

No início deste formoso filme entramos com a jovem mestra Rosaura no Paço Nacional do governo e nos detemos perante os famosos murais de Diego Rivera, enquanto a voz do narrador vai-nos contando um pequeno esboço da história política de México. Uma história que nos leva ao presidente da República naquele preciso momento (1948), Benito Juárez, no escritório em que comparece a jovem mestra protagonista, para receber a encomenda de serviço social de mestra rural. Chega ao mesmo um bocadinho tarde, quando outros mestres já saem do escritório. Rosaura reúne-se em privado com o presidente e os seus olhos enchem-se de lágrimas enquanto escuta o presidente fazer finca-pé no seu compromisso de lutar contra a imoralidade e corrupção dos políticos rurais e o analfabetismo. Manda-a à povoação de Rio Escondido. Por causa de um encontro com um professor conhecido de Rosaura, que encontra ao sair do escritório presidencial, sabemos que guardou para si o segredo de padecer uma lesão do coração, que a põe em perigo de falecer com qualquer esforço. Ao chegar à localidade encontra-a dominada pelo presidente municipal D. Regino Sandoval, clássico cacique, latifundiário macho, vão e arrogante. O seu domínio simboliza-se através do controlo da água do povo. Há uma fonte pública que goteia escassamente. O cacique protege-se detrás de uma muralha onde tem uma fonte de abundante água para seu uso próprio e privativo e dos seus colaboradores, e também para os seus cavalos. Pelos habitantes nota-se que nunca chove apesar das nuvens que sempre há por cima (as nuvens tão caraterísticas da cinematografia do grande fotógrafo Gabriel Figueroa). Pelo que olhamos, agás D. Regino e seu séquito e o padre, o povo compõe-se exclusivamente de indígenas. Ao pouco tempo de chegar à aldeia a nova mestra pega na criança de uma mãe, que está a ponto de falecer da varíola e a guarda num berço dentro da própria escola. Logo Rosaura tem a ocasião de berrar: “Esta criança é México! Tenho de a salvar!”. Igualmente há um obséquio dedicado a Benito Juárez e contra os maus mexicanos, o que se dá aos estudantes no primeiro dia de aulas da jovem mestra com lágrimas nos olhos, enquanto lhe treme o lábio inferior. Vê-se D. Regino detendo-se para escutar de fora da porta da escola as palavras da mestra sobre a necessidade de lutar contra os maus cidadãos mexicanos. O rito dos indígenas de solicitar a chuva a Deus e o velório de uma criança indígena, que matou o cacique, aparecem também neste lindo filme. No qual todos os atores desempenham perfeita e acertadamente o papel que lhes corresponde.

A mestra Rosaura recebe gostosa e muito feliz a encomenda do presidente da República para desempenhar em Rio Escondido o papel de mestra rural, e ajudar os habitantes do lugar para sair adiante por meio da escola e a educação. Para chegar a esta aldeia apartada tem que passar por muitos obstáculos, dado que primeiro chega tarde para apanhar o comboio e este parte antes de ela chegar. Tem de caminhar por um longo sendeiro e desmaia. Para a sua sorte encontra um médico que a ajuda a recuperar, mas este lhe comenta que pelo bem da sua saúde não deve continuar, já que se encontra muito doente. Ela não aceita o conselho e continua o seu caminho sem se importar nada com o que o médico lhe diz. Ao chegar à aldeia, enfrenta um novo obstáculo, representado pelo cacique local, que tem submetido todo o povo, os machuca, nega-lhes a água e mesmo a educação, dado que o espaço destinado à escola o tem fechado desde há muitos meses, para guardar ali os seus cavalos. Ao saber que a mestra é enviada pelo mesmo Presidente da República de México, D. Regino zanga-se muito e não aceita esta mestra, nem a ajuda para que possa desenvolver o seu labor educativo. No seu afã por sair para a frente e poder levar o cometido que lhe foi encomendado, Rosaura continua firme e decidida procurando que se devolva a escola às crianças do povo. Por circunstâncias de saúde, para sorte da nova mestra e os seus alunos, o cacique Regino tem que chamar D. Felipe, o médico que antes ajudara Rosaura no seu roteiro para a aldeia, ao qual pede para o curar, já que contraiu uma infeção e senão o ajuda vai falecer. O médico resposta-lhe que o há de curar se antes deixa que a escola se abra de novo para que a Rosaura possa ensinar às crianças de Rio Escondido, e deixe ademais que todo o povo receba a vacina para que não contraiam a sua doença por contágio. Sem outra alternativa, para salvar a sua vida, D. Regino aceita, pois o que mais lhe importa e sanar rapidamente. Dias depois o cacique curou e Rosaura sente-se muito à vontade a dar as suas aulas na escola que foi devolvida ao povo, e tudo se passa com certa tranquilidade até que o cacique se apaixona pela nova mestra.

Este formoso filme mostra-nos a luta de uma mestra rural, com grande vocação pedagógica e amor pelas crianças, contra o caciquismo dos tempos do governo de Benito Juárez. O academicismo estético de Emílio Fernández e a sua tendência ao didatismo (todo o filme é um relato didático profundo), chegaram a um momento culminante com esta sua obra-mestra, em que também destacam a fotogenia e as imagens da excelsa fotografia de Gabriel Figueroa. E mesmo as fotografias a cores dos murais pintados por Rivera, que infelizmente não se mantiveram nas novas versões e edições deste primoroso filme, que conta a história de uma humilde mestra rural, encomendada pelo mesmíssimo presidente da República mexicana, para levar a educação a uma povoação apartada do rural. Maria Félix, no papel desta extraordinária mestra, está belíssima e surpreendente, parecendo aceitar com grande prazer um papel diferente ao seu habitual em outras fitas, amostrando uma imagem pura e afastada de toda a tentação. Permanece nela esse orgulho manifesto e, embora encarnando uma personagem vencida pelos seus inimigos e pela sua própria doença, tem o gesto doce de que nunca vai ser humilhada. Os restantes atores e atrizes estão perfeitos nos seus papéis. Entre eles, a atuação de Columba Domínguez, esposa do realizador, que representa Merceditas a mestra anterior da aldeia e amante do cacique. Embora tenha pouca participação nos diálogos, e só cinco minutos na tela, desempenha o seu trágico papel com uma austera dignidade. A povoação de Rio Escondido, com tão só um edifício intato, está muito bem refletido. As casa dos indígenas são raquíticas e como se fossem montículos de lixo. A vista caraterística é a das silhuetas de arcos e árvores esqueléticas, recortadas perante um céu cheio de cúmulos de nuvens vistas dum ponto muito próximo do chão. Cada imagem, especialmente as tomadas ao ar livre, foram compostas com muito cuidado e sensibilidade estética. Por esta razão, poucos filmes a preto e branco de qualquer país, se podem olhar como este, merecendo a pena ver e voltar a ver uma e outra vez as imagens deste tão belo filme, gozando com a fotografia sublime de Figueroa e a excelente realização cinematográfica de Emílio Fernández. Este seu filme ocupa o 23º lugar entre os 100 grandes filmes da cinematografia mexicana de toda a história.

Temas para refletir e elaborar:

Depois de ver o filme, utilizando a técnica de dinâmica de grupos do “cinema-fórum”, debater sobre os aspetos fílmicos do mesmo, o roteiro e a linguagem cinematográfica utilizada por Emílio Fernández, os planos, os movimentos de câmara, os “travellings”, o uso do tempo e do espaço e outros recursos fílmicos que aparecem nesta interessante obra cinematográfica, uma obra-mestra da cinematografia mexicana, na qual ademais, de forma magistral, destaca a primorosa fotografia a preto e branco de Gabriel Figueroa, um dos mais importantes fotógrafos do cinema mundial. Também sobre as interpretações dos diferentes protagonistas, femininos e masculinos, as cenas mais conseguidas e o uso dos recursos fílmicos em cada momento.

Utilizando a técnica freinetiana da Biblioteca do Trabalho, que os estudantes, com a orientação dos seus professores, elaborem monografias que depois podem ser editadas e/ou policopiadas sobre as mais destacadas pedagogas e educadoras da história da educação mundial: Maria Montessori, Rosa e Carolina Agazzi, Gabriela Mistral, Beatrice Ensor, Helen Parkhurst, Rosa Sensat e Marta Mata, entre outras. Para elaborá-las, procurar informação em bibliotecas, revistas e na Internet. Convém fazer um esquema sobre os aspetos positivos dos seus métodos educativo-didáticos e o seu pensamento pedagógico, ademais das experiências escolares que levaram à prática nas escolas por elas criadas e/ou regidas Os trabalhos devem levar fotos, textos da autoria dos alunos, poemas, canções, aforismos e frases e retalhos da imprensa. As monografias, uma vez terminadas e editadas ou policopiadas, podem ser expostas nos estabelecimentos de ensino.

O presente filme pode ser aproveitado também para aprofundar sobre a história da educação mexicana e a importância dos contributos dos grandes educadores republicanos espanhóis que tiveram que ir ao seu exílio mexicano, escapando da guerra civil franquista. Tema em que foi muito importante a acolhida dos mesmos pelo grande presidente Lázaro Cárdenas. O material que se recolha pode servir para elaborar uma revista ou um caderno alusivo, e mesmo um “Diário de Bordo”. O filme é muito rico e deve ser explorado em todos os seus aspetos.

José Paz Rodrigues é Académico da AGLP, Didata e Pedagogo Tagoreano.


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