Por exemplo, desde 2004 até 2013 somente em 2011 não houve eleições de caráter nacional, ou seja, em nove dos últimos 10 anos houve comícios que concentraram a atenção e acionaram as forças políticas atuantes em nosso país.
De fato, só em 2012 e 2013 se realizaram quatro eleições, três delas previamente estabelecidas.
Aqueles que dentro de um Estado burguês concebem as eleições como um elemento intrínseco da "democracia" – democracia burguesa, é claro –, exaltam como um sintoma de "saúde democrática" que se tenha realizado na Venezuela 19 eleições nos últimos três quinquênios.
Muito mais ficarão entusiasmados ao pensar que a partir de 2015 se iniciarão outros quatro anos seguidos de eleições: Assembleia Nacional, 2015; Governos estaduais e Conselhos Legislativos, 2016; Prefeituras e Conselhos Municipais, 2017; e, Presidência, 2018. Isso sem contar a possibilidade, que se abre a partir de 10 de Janeiro de 2016, de que a direita pró-imperialista busque a convocatória de um Referendo Revogatório contra o presidente Maduro.
Esta quantidade inusitada de eleições é produto, por um lado, da informalidade e falta de regularidade na fixação das datas das eleições e, por outro, das diferenças na duração dos períodos presidencial, 6 anos; da Assembleia Nacional, 5 anos; e, de Governos estaduais, Conselhos Legislativos, Prefeituras e Conselhos Municipais, 4 anos.
Está claro que modificar a duração dos períodos mereceria uma Emenda ou Reforma constitucional, mas a informalidade e falta de regularidade é um problema mais vinculado a uma cultura política que se pretende impor.
Nessa analise não se pode esquecer que comumente para as eleições regionais, locais e da Assembleia Nacional, a apresentação de candidaturas se realiza quatro meses antes das eleições, e as discussões e definições das candidaturas se iniciam ao menos outros quatro meses antes das apresentações. Ou seja, cada uma destas eleições ocupa quase um ano de esforços, trabalhos, dedicação e tempo das organizações políticas e sociais que impulsionam o processo revolucionário, e do próprio governo nacional.
Estes esforços, trabalhos, dedicação e tempo, poderiam estar dedicados em melhores condições às tão necessárias tarefas de conscientização, organização e mobilização do povo trabalhador para o verdadeiro aprofundamento do processo revolucionário venezuelano, sem as distorções que muitas vezes geram os pleitos eleitorais.
No entanto, talvez tenhamos que deixar claro que estamos longe de diminuir a importância que historicamente tem para o PCV os processos eleitorais nos marcos da sociedade capitalista, como um cenário propício para a análise e debate político-ideológico de fundo, identificando junto com o povo os principais problemas e defendendo a participação popular como um requisito para as soluções. Mas isso nada tem a ver com o fetiche eleitoral que outros possuem.
Estamos atravessando na Venezuela um momento definitivo para os anos que virão, em que muitas e importantes coisas estarão em jogo. A imensa maioria do povo segue apoiando o processo revolucionário porque possui identidade com seus postulados básicos, e esse povo de modo crescente está vinculando a palavra "socialismo" com justiça e com a satisfação de seus desejos e necessidades.
Se o processo revolucionário e aqueles que hoje o dirige não superarem qualitativamente a contradição entre o discurso "socialista" e a prática socialdemocrata – progressista sim, mas reformista – em curto ou médio prazo corremos o risco de um retrocesso histórico e de perder esta experiência popular.
A 12° Conferência Nacional do PCV, no último 10 de Março, ao assumir a candidatura de Nicolás Maduro para a presidência da República, expressou "a necessidade de abrir, desde todos os espaços para o processo de mudanças, incluindo o governo, um debate nacional profundo sobre o Socialismo, para clarear seu conceito, e a natureza e o caráter dos obstáculos que na atualidade nos separam da possibilidade objetiva de sua construção".
Para isso e outras coisas mais, devemos aproveitar o ano de 2014, um ano sem eleições.
Editorial do jornal do Partido Comunista da Venezuela, 14 Dez 2013 - Tribuna Popular Nº 230 -
Tradução: Polo Comunista Luiz Carlos Prestes (PCLCP)